São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Quatro policiais militares suspeitos de terem assassinado empresário e namorada, em 96, são detidos
Justiça ordena prisão de seguranças de PC

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Maceió


A Justiça de Alagoas decretou ontem às 18h22 a prisão temporária por 30 dias de quatro policiais militares suspeitos de terem assassinado Paulo César Farias e sua namorada, Suzana Marcolino da Silva, em 23 de junho de 1996. Os quatro eram seguranças do empresário alagoano.
Os cabos Reinaldo Correia de Lima Filho e Adeildo Costa dos Santos e o soldado José Geraldo da Silva foram presos no 4º Batalhão de Polícia Militar, em Maceió. O soldado Josemar Faustino dos Santos, o "Dudu", está no 1º Batalhão Escolar da PM, também na capital.
As prisões foram confirmadas pelo comandante-geral da PM de Alagoas, coronel Ronaldo Santos. Por ordem sua, os policiais estavam detidos nos quartéis onde trabalham, já que o pedido de prisão foi feito de manhã à Justiça pelos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade.
Quase três anos após as mortes, numa casa de praia em Guaxuma, a 8 km do centro de Maceió, os quatro PMs que integravam o corpo de segurança particular do tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor foram indiciados como suspeitos de co-autoria em duplo homicídio.
A ordem de prisão, assinada pelo juiz Alberto Jorge Correia, da 2ª Vara Especial Criminal de Alagoas, foi levada pelos delegados ao comandante da PM.
O promotor Luiz Vasconcelos, inicialmente contrário à medida, mudou de posição e entregou à tarde parecer favorável, embora propusesse prisão de cinco dias prorrogável por mais cinco.
Vasconcelos defendeu prazo menor porque discordou da caracterização feita pelos delegados, segundo os quais houve crime hediondo. Para Lessa e Andrade, houve crime qualificado, com premeditação e requintes de crueldade. O juiz aceitou o argumento a favor da prisão por 30 dias prorrogável por mais 30.
Os delegados esperam que os interrogatórios dos seguranças presos, a partir de terça-feira, contribuam para esclarecer o que realmente ocorreu em 1996 e quem foi o mandante do suposto complô.
Dois seguranças afirmam ter passado a madrugada na casa onde PC e Suzana morreram, com uma bala cada. Outros dois dizem ter chegado de manhã. A versão original da polícia alagoana, baseada em laudo do legista Fortunato Badan Palhares, sustentou que Suzana assassinou PC e se suicidou.
Novas investigações foram abertas depois que a Folha publicou reportagem no dia 24 de março contradizendo o laudo oficial.
Na segunda-feira, a polícia quer ouvir o deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC que até hoje faz uma defesa empenhada da tese oficial sobre as mortes.
Entre os indícios apresentados pelos delegados para pedir a prisão temporária, há referência à altura menor de Suzana (no máximo 1,57 m) em comparação com o laudo oficial (1,67 m), tornando fisicamente impossível o suicídio.
É citada contradição entre o depoimento dos seguranças que estavam na casa, que disseram não ter ouvido os tiros, e dois laudos segundo os quais o som podia ser escutado.
O depoimento do padrasto de Suzana, Eraldo Rodrigues, também foi importante. Ele afirmou que ouviu relato do segurança Reinaldo Lima Filho dizendo ter visto Suzana viva às 6h do dia 23 de junho de 1996, quando o empresário já estava morto. Lima Filho nega.
Os delegados também reafirmaram que não havia nas mãos de Suzana os elementos químicos produzidos por um tiro, e que na arma não havia impressões digitais.
Os advogados dos seguranças, contratados pela família de PC, vão recorrer. O advogado José Fragoso Cavalcanti, da equipe que representa os seguranças, afirmou não haver "nenhuma fundamentação" na decisão do juiz. "Não há indícios de prática de crime, nada contra eles", disse Fragoso.


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