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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Quatro policiais militares suspeitos de terem assassinado empresário e namorada, em 96, são detidos
Justiça ordena prisão de seguranças de PC
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Maceió
A Justiça de
Alagoas decretou ontem às
18h22 a prisão
temporária por
30 dias de quatro policiais militares suspeitos
de terem assassinado Paulo César
Farias e sua namorada, Suzana
Marcolino da Silva, em 23 de junho
de 1996. Os quatro eram seguranças do empresário alagoano.
Os cabos Reinaldo Correia de Lima Filho e Adeildo Costa dos Santos e o soldado José Geraldo da Silva foram presos no 4º Batalhão de
Polícia Militar, em Maceió. O soldado Josemar Faustino dos Santos,
o "Dudu", está no 1º Batalhão Escolar da PM, também na capital.
As prisões foram confirmadas
pelo comandante-geral da PM de
Alagoas, coronel Ronaldo Santos.
Por ordem sua, os policiais estavam detidos nos quartéis onde trabalham, já que o pedido de prisão
foi feito de manhã à Justiça pelos
delegados Antônio Carlos Lessa e
Alcides Andrade.
Quase três anos após as mortes,
numa casa de praia em Guaxuma,
a 8 km do centro de Maceió, os
quatro PMs que integravam o corpo de segurança particular do tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor foram indiciados como suspeitos de co-autoria em duplo homicídio.
A ordem de prisão, assinada pelo
juiz Alberto Jorge Correia, da 2ª
Vara Especial Criminal de Alagoas, foi levada pelos delegados ao
comandante da PM.
O promotor Luiz Vasconcelos,
inicialmente contrário à medida,
mudou de posição e entregou à
tarde parecer favorável, embora
propusesse prisão de cinco dias
prorrogável por mais cinco.
Vasconcelos defendeu prazo menor porque discordou da caracterização feita pelos delegados, segundo os quais houve crime hediondo. Para Lessa e Andrade,
houve crime qualificado, com premeditação e requintes de crueldade. O juiz aceitou o argumento a
favor da prisão por 30 dias prorrogável por mais 30.
Os delegados esperam que os interrogatórios dos seguranças presos, a partir de terça-feira, contribuam para esclarecer o que realmente ocorreu em 1996 e quem foi
o mandante do suposto complô.
Dois seguranças afirmam ter
passado a madrugada na casa onde
PC e Suzana morreram, com uma
bala cada. Outros dois dizem ter
chegado de manhã. A versão original da polícia alagoana, baseada
em laudo do legista Fortunato Badan Palhares, sustentou que Suzana assassinou PC e se suicidou.
Novas investigações foram abertas depois que a Folha publicou reportagem no dia 24 de março contradizendo o laudo oficial.
Na segunda-feira, a polícia quer
ouvir o deputado Augusto Farias
(PPB-AL), irmão de PC que até hoje faz uma defesa empenhada da
tese oficial sobre as mortes.
Entre os indícios apresentados
pelos delegados para pedir a prisão
temporária, há referência à altura
menor de Suzana (no máximo 1,57
m) em comparação com o laudo
oficial (1,67 m), tornando fisicamente impossível o suicídio.
É citada contradição entre o depoimento dos seguranças que estavam na casa, que disseram não ter
ouvido os tiros, e dois laudos segundo os quais o som podia ser escutado.
O depoimento do padrasto de
Suzana, Eraldo Rodrigues, também foi importante. Ele afirmou
que ouviu relato do segurança Reinaldo Lima Filho dizendo ter visto
Suzana viva às 6h do dia 23 de junho de 1996, quando o empresário
já estava morto. Lima Filho nega.
Os delegados também reafirmaram que não havia nas mãos de Suzana os elementos químicos produzidos por um tiro, e que na arma
não havia impressões digitais.
Os advogados dos seguranças,
contratados pela família de PC,
vão recorrer. O advogado José Fragoso Cavalcanti, da equipe que representa os seguranças, afirmou
não haver "nenhuma fundamentação" na decisão do juiz. "Não há
indícios de prática de crime, nada
contra eles", disse Fragoso.
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