São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A LISTA DE VALÉRIO

Presidente do partido diz que abandono pode trazer desgaste; 21 deputados do PT anunciam autonomia em relação ao governo

Tarso quer tirar legenda de quem renunciar

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O petista que renunciar ao mandato para não perder seus direitos políticos num processo de cassação não terá direito de concorrer a cargo eletivo pelo partido no ano que vem. A tese foi defendida ontem pelo presidente do PT, Tarso Genro, e será apresentada por ele já na reunião do Diretório Nacional deste fim de semana caso algum deputado abandone o posto.
"Se um companheiro meu do PT, deputado federal, neste momento, apresentar sua renúncia, eu seria favorável a que isso também seja considerado uma renúncia à candidatura [de 2006]", disse Tarso, em entrevista na sede nacional petista, em São Paulo.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), foi o primeiro deputado a deixar o cargo, anteontem. Petistas envolvidos no escândalo do "mensalão" têm levantado a possibilidade de renúncia em conversas reservadas. Entre eles estão João Paulo Cunha (SP), Professor Luizinho (SP), Josias Gomes (BA), Paulo Rocha (PA) e João Magno (MG).
O abandono do cargo serviria para, além de evitar uma eventual cassação e inelegibilidade até 2015, cessar o desgaste do PT. Tarso acha que o efeito pode ser contrário: "A população pode entender que isso é uma saída para depois ser candidato e daí piorar a situação. Agora, se a pessoa diz: "Não, quero renunciar pois quero me excluir da vida pública por dez anos, porque estou me aplicando essa auto-punição", isso pode ser considerado um gesto positivo pela população". Para ele, "está demonstrado que existe uma estrutura paralela de financiamento, com capilaridade nacional".
Ele disse que, como deputado, só renunciaria em caso de "confissão total de responsabilidade": "[A renúncia] É uma saída formal que a pessoa tem o direito de fazer, mas, na minha opinião, o partido tem o direito de resistir politicamente", afirmou. "Vou defender isso nos órgãos partidários e creio que o PT terá essa postura."
Tarso anunciou que irá oficiar "todos os companheiros que aparecem em fatos objetivos [do escândalo]" para que apresentem sua defesa ao PT. A lista dos que terão de apresentar explicações formais é de cerca de 15 pessoas. O ofício precisa ser aprovado pela Executiva Nacional do partido, que se reúne amanhã.

Afastamento
Petistas que integram correntes internas mais à esquerda do Campo Majoritário pretendem apresentar requerimento para o afastamento sumário de todos aqueles que estão envolvidos no escândalo. "Se tivermos propostas fundamentadas, apoiarei o afastamento", disse Tarso, para quem é preciso seguir todos ritos do partido nas apurações: "A demora faz parte do processo educativo, pois entregar duas ou três cabeças seria um cinismo de nossa parte".
Segundo o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o partido só deverá tomar posição sobre o caso após a argumentação dos parlamentares. O diretório se reúne no sábado. Mercadante não acredita que possa haver renúncia em bloco.
Ontem, o bloco de 21 deputados da esquerda do partido anunciou a criação do grupo "PT Livre". Segundo o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), os deputados passarão a atuar com autonomia em relação ao governo nas questões a serem apreciadas na Casa: "Não aceitaremos mais imposições do Campo Majoritário, como acontecia antes. Os projetos vinham para a gente votar sem discussões prévias", disse.


Colaborou LEONARDO SOUZA, da Sucursal de Brasília

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