São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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Saques começaram em janeiro de 2003, diz Simone

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O repasse de dinheiro vivo do caixa dois do PT na agência do Banco Rural em Brasília começou no mês da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, segundo a gerente administrativa da SMPB, Simone Vasconcelos.
Em depoimento à Polícia Federal anteontem, Simone disse que recebeu o primeiro pedido do chefe, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, para os pagamentos em espécie ainda no final de 2002. Em seguida, emendou: "Na verdade, o primeiro saque a pedido de Marcos Valério ocorreu em janeiro de 2003".
Ela foi indicada para a agência de Valério pelo ex-secretário de Administração de Minas Gerais Cláudio Roberto Mourão. Simone e Mourão já haviam trabalhado juntos na campanha de reeleição do atual presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, ao governo de Minas.
Simone Vasconcelos contou à PF que, até o primeiro saque em dinheiro vivo, cuidava de recebimento de faturas, pagamentos a fornecedores, recursos humanos e serviços gerais.
A funcionária da SMPB afirmou não se lembrar do valor nem do beneficiário do primeiro saque em dinheiro, que foi feito na agência Brasília do Banco Rural. A lista dos beneficiários preparada pelo publicitário e entregue por Simone à Polícia Federal relaciona, no entanto, saques entre o final de fevereiro de 2003 e setembro de 2004.

Carro-forte
Simone Vasconcelos tampouco se lembrou quantas vezes voltou à agência do Rural no nono andar de um shopping de Brasília desde janeiro de 2003. Os saques, porém, eram tão freqüentes que, segundo Simone, os empregados do banco "passaram a conhecer alguns dos destinatários das quantias".
O dinheiro, contou Simone, era acondicionado em "pastas executivas ou sacolas" que os destinatários dos saques levavam à agência do Banco Rural. Ela os esperava numa sala de reunião do banco.
Em algumas ocasiões (duas ou três, segundo ela), o dinheiro teria sido sacado e levado ao publicitário no hall de entrada do Hotel Blue Tree. O hall de entrada do prédio da Confederação Nacional do Comércio, onde funcionava o escritório da SMPB em Brasília, também foi usado para repasse de dinheiro do caixa dois. O assessor da liderança do PP João Cláudio Genu recebeu num hall de outro hotel dinheiro levado por um carro-forte.

A lista
No depoimento à PF, Simone Vasconcelos entregou uma lista com o nome de 12 pessoas que teriam recebido o dinheiro sacado em seu nome no Banco Rural: R$ 7,77 milhões.
Ela disse lembrar-se de ter entregue pessoalmente dinheiro a sete pessoas: Genu, o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas, Jair dos Santos (motorista do ex-presidente do PTB José Carlos Martinez), Emerson Palmieri (tesoureiro do PTB), José Luiz Alves (portador indicado pelo ex-ministro Anderson Adauto, do PL), Roberto Costa Pinho (ex-assessor do ministro Gilberto Gil) e Pedro Fonseca, sócio do advogado Aristides Junqueira.
Além desses, constam também de sua lista os seguintes nomes: Carlos Rodrigues (deputado pelo PP-RJ), Raimundo Ferreira da Silva Jr. e Vilmar Lacerda, ambos do PT-DF, Josias Gomes da Silva (deputado pelo PT-BA) e José Borba (deputado pelo PMDB-PR).

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Desde o ano passado, ainda de acordo com Simone, os repasses de dinheiro passaram a ser feitos por meio de duas empresas: a corretora Bônus-Banval, na qual trabalhou a filha de José Janene (PR), líder do PP na Câmara, e a Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações, cuja proprietária é uma offshore no Uruguai. (MARTA SALOMON e RUBENS VALENTE)

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