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JUSTIÇA
Deputado é acusado de utilizar trabalho escravo em fazenda no Maranhão
Procuradoria processará Inocêncio
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA
A Procuradoria do Trabalho vai
entrar nesta semana com ação civil pública e ação por danos morais contra o deputado federal
Inocêncio Oliveira (PFL-PE), acusado de utilizar trabalho escravo
em sua fazenda Caraíbas, no Maranhão. As ações se baseiam em
relatório do Ministério do Trabalho, que indica que 58 pessoas trabalharam na fazenda entre janeiro e março deste ano, conforme
foi divulgado pela Folha naquele
mês, em regime considerado "trabalho forçado", no entender da
procuradoria.
Eles eram obrigados a contrair
dívidas para pagar alimentação,
transporte e ferramentas. Como
os trabalhadores estavam sempre
devendo mais do que deveriam
receber, seu serviço não era pago
e eles eram impedidos de abandonar a fazenda. "A impossibilidade
de ir e vir caracteriza o trabalho
forçado", disse o procurador regional do Trabalho no Maranhão,
Roberto Magno Moreira.
Inocêncio diz que o serviço de
"roçado" era terceirizado por empreiteiros que promoviam a contratação dos trabalhadores. "O
responsável pela mão-de-obra é o
empregador", afirmou Moreira.
O deputado será o único réu das
ações. Ele terá de responder por
não ter registrado os empregados,
pelo não-pagamento de salários,
por não recolher FGTS, não fornecer ferramentas de trabalho e
não garantir o direito de ir e vir.
Além disso, o Ministério Público do Trabalho vai pedir indenização por danos morais, com valor reversível aos trabalhadores.
"Devemos pedir indenização de
R$ 1.000 por dia trabalhado para
cada um, mas ainda não fechamos a quantia", afirmou Moreira.
Depois de fiscalizado pelo Ministério do Trabalho, Inocêncio já
teve de pagar aos empregados R$
30.586 em rescisões trabalhistas.
O relatório afirma que os trabalhadores (geralmente aliciados
em outros Estados por intermediadores, chamados de "gatos")
estavam alojados em barracões
sem água potável ou instalações
sanitárias. Os equipamentos de
proteção e as ferramentas de trabalho, que deveriam ser fornecidos pelo proprietário da fazenda,
tinham seu valor descontado no
salário dos empregados -R$ 12
pelas botas e R$ 6,50 pela foice.
Seis "gatos" tomavam conta dos
trabalhadores da fazenda. Eram
eles que vendiam o material e
anotavam as dívidas dos empregados. Cinco cadernos de anotação foram apreendidos no local.
Cópias do procedimento serão
encaminhadas à Procuradoria
Geral da República, que deve decidir se Inocêncio será processado
criminalmente por "redução à
condição análoga à escravidão".
Questionado sobre o assunto, o
Ministério do Trabalho divulgou
nota ontem afirmando que não
encontrou "elementos que caracterizassem trabalho escravo".
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