São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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CAMPANHA

Governo reage a Ciro e pede ao TSE direito de resposta para rebater acusação de que presidente frustrou promessas de emprego

"Ataque eleitoral não pega", afirma FHC

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que não está preocupado em receber a rebarba da troca de acusações entre os candidatos José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS) porque "essa não pega": "O ataque, quando é ataque eleitoral, não pega. Não adianta. Tem efeito pouco positivo, não resolve", insistiu ele, que está em Johannesburgo, África do Sul, para a Cúpula sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio +10).
Ontem, no entanto, apesar da declaração de FHC, o governo federal pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) direito de resposta no programa de Ciro para falar sobre desemprego. O pedido foi formulado pela Advocacia Geral da União em razão da abertura do programa do último sábado. O programa sugere que o governo FHC não cumpriu promessas de geração de emprego e que, por isso, o seu candidato à sucessão também não as cumpriria. Se o governo vencer, o ministro do Trabalho, Paulo Jobim, ocupará parte do programa de Ciro.
FHC e seu governo estavam mais preservados do tiroteio de campanha quando Serra andava mal nas pesquisas, mas entraram na alça de mira agora, com os dois candidatos empatados.
Justamente por isso, FHC não falou com jornalistas no domingo, quando chegou a Johannesburgo, e tentou escapulir de perguntas sobre política interna na entrevista coletiva, ontem, no hotel Westcliff, onde está hospedado. Conforme a Folha apurou, FHC teme que qualquer brincadeira fora de hora, qualquer palavra fora do lugar ou qualquer palavra dúbia possam refletir mal na campanha num momento decisivo. Mas acabou não resistindo.
"O sr. não quer comemorar?", perguntou-lhe um repórter ontem sobre a pesquisa Datafolha divulgada domingo (Ciro com 20%, Serra com 19%). Caminhando pelo estande brasileiro em Ubuntu, uma feira permanente em Johannesburgo, FHC primeiro disse: "Estou no exterior e não quero comentar sobre política".
Depois, acrescentou: "Os dados são suficientes para expor o que está acontecendo no Brasil neste momento. É um processo, é um retrato deste momento. O candidato sabe disso".
Próximo a seu filho, Paulo Henrique Cardoso, vice-presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e está na cidade, FHC disse que ainda há muito caminho a percorrer: "O que acho importante é que a campanha está se desenvolvendo, os temas estão sendo debatidos e a agenda nacional é a que está posta".
Ele acrescentou: "Fico vendo TV com satisfação. Os candidatos estão fazendo propostas ao redor das linhas que eu coloquei como fundamentais para o Brasil".
Os últimos programas de Ciro na TV, porém, comparavam as promessas de geração de emprego feitas pelo então candidato FHC, em 1994, e pelo atual candidato Serra, em 2002.
FHC dizia que, eleito, geraria 7 milhões de emprego, e Serra diz que sua meta é de 8 milhões. Mas FHC não cumpriu o prometido.

Mandela
O desemprego é realmente considerado pelos eleitores um dos principais problemas do país, e isso afeta simultaneamente FHC e seu candidato, que é Serra. Por isso, o presidente falou bastante sobre isso, ontem, duas vezes.
A primeira em Ubuntu, e a segunda depois de um encontro com Nelson Mandela, principal líder mundial na luta contra o racismo, para o lançamento de um congresso mundial de parques em 2003.
"Os governos da Europa falharam? Têm desemprego muito maior que o nosso", disse o presidente, tentando explicar os altos índices: "Economia é um processo da sociedade. Há momentos que tem expansão, há momentos que tem retração".
Ele também reclamou que falam num índice de desemprego "que não é verdadeiro" e, a uma pergunta sobre mudanças que Serra faria no governo, disse: "O fato de ser eleito alguém que é do mesmo partido do atual governante não implica que esse alguém não vá mudar muita coisa".
Acompanhado dos presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB), e do Senado, Ramez Tebet (PMDB), FHC aproveitou para dar uma colher-de-chá para o seu assessor especial para Meio Ambiente, Fábio Feldman (PSDB), candidato a deputado por São Paulo. Ao falar de Mandela, elogiou Feldmann, que estava ao seu lado e foi o responsável pelo encontro com o líder sul-africano.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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