São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTRATÉGIA

Partido lança jornal e estimula presença em ato contra a Alca, do qual se afastou oficialmente, temendo desgaste de Lula

Discretamente, PT participa de plebiscito

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Oficialmente fora do Plebiscito Nacional sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) por temer desgastes eleitorais, o PT está informalmente presente na campanha, iniciada anteontem.
Além de lideranças do partido estimularem a participação de petistas no plebiscito, que se estende até o próximo dia 7, o PT imprimiu 100 mil exemplares de jornal no qual tenta esclarecer sua posição sobre a Alca. É uma tentativa de evitar desgaste com militantes de movimentos sociais de esquerda insatisfeitos com o partido.
Em 29 de julho, a Executiva Nacional do PT havia decidido não aderir ao evento, apontando que os organizadores buscavam um "estreitamento" da campanha, dificultando a "ampliação social da iniciativa, restringindo-a apenas ao campo da esquerda".
São ações contraditórias, mas que têm como razão o temor de perdas e críticas -da direita e da esquerda- à candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, a exemplo do que ocorreu em 2000, quando foi realizado o plebiscito sobre o pagamento ou não da dívida externa.
Organizado pelo mesmo grupo de entidades e contando com o apoio do PT, em 2000 mais de 5 milhões de pessoas compareceram ao plebiscito.
Dos votantes, 90% defenderam o não-pagamento da dívida externa sem prévia auditoria pública, o rompimento do acordo firmado pelo governo brasileiro com o FMI e o não-comprometimento do Orçamento com o pagamento da dívida interna.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, criticou diretamente o PT por apoiar o plebiscito, dizendo que o partido prestava um "desserviço" ao país.
Para evitar o eventual uso eleitoral do atual plebiscito, com claro viés antiamericano, o PT saiu da sua organização, o que lhe valeu críticas dos movimentos sociais de esquerda historicamente vinculados ao partido.
No jornal recém-lançado, as diferenças do PT com os organizadores do plebiscito começam nos slogans. O da campanha é "Soberania sim! Alca não". O dos petistas é mais sutil: "Alca: não à anexação, sim à integração soberana. O PT em defesa de uma integração democrática das Américas".
O panfleto traz artigos de Lula, Aloizio Mercadante e Marco Aurélio Garcia explicitando a posição contrária do partido à Alca, da forma que ela é atualmente negociada, mas não a descartando totalmente.
Toda a organização do plebiscito é contrária à Alca. Não é uma consulta neutra, mas uma tentativa de obter um expressivo percentual de eleitores se manifestando contra a sua implantação.
No material de campanha, é distribuído texto intitulado: "Dez razões para dizer não". Entre elas, estão listadas a "concentração de renda e poder nas mãos de transnacionais americanas, diminuição de direitos trabalhistas, destruição do ambiente, subordinação dos interesses das pessoas aos do mercado, imposição do dólar como moeda única e a perda de soberania".
O plebiscito sobre a Alca foi convocado por 36 entidades -entre elas CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e UNE (União Nacional dos Estudantes). As cédulas e urnas estão em prédios de sindicatos, partidos, organizações não-governamentais e locais públicos com grande movimentação.


Texto Anterior: Tucano usa depoimento de Silvio Santos na TV
Próximo Texto: Mato Grosso do Sul: Zeca do PT nega ter ligação com quadrilha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.