São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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MATO GROSSO DO SUL

Governador contesta reportagem publicada anteontem, sobre relatório que aponta suposto elo com policiais

Zeca do PT nega ter ligação com quadrilha

FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, enviou ontem uma carta em que contesta a reportagem publicada anteontem pela Folha descrevendo relatório reservado do Ministério Público de Mato Grosso do Sul que aponta supostas ligações dele e de integrantes do seu núcleo de poder com quadrilha de policiais especializada em roubo e receptação de camionetes.
Segundo a carta de Zeca, dividida em 16 itens, a reportagem contém "inverdades e uma clara má vontade em relação à busca da verdade referente aos fatos nela suscitados".
O governador informou também que pediu a seus advogados que abram "procedimento judicial na esfera cível e criminal contra o jornalista autor da matéria, o veículo Folha de S.Paulo e os promotores públicos estaduais, autores do referido relatório, a fim de apurar o grau de responsabilidade de cada um".
Zeca afirma que desconhecia o relatório e que o repórter "negou-se a entregar, ou mostrar o "tal relatório", para que pudéssemos respondê-lo e dissipar qualquer dúvida reinante, esclarecendo todas as questões colocadas".
Em contato por telefone no começo da tarde de quinta-feira, a Agência Folha informou ao superintendente de Comunicação do governo, Bosco Martins, sobre o teor do relatório e solicitou uma entrevista com Zeca. O pedido foi reiterado no mesmo dia ao secretário de Governo, Marcos Alex.
Na sexta-feira, Martins solicitou que as perguntas fossem enviadas por escrito. Depois de recebê-las, informou à Agência Folha que Zeca não as responderia e leu uma nota, cujo conteúdo foi publicado no domingo. Todas as conversas foram gravadas.
Diferentemente do que alega, o governador teve oportunidade de expressar seu ponto de vista e preferiu não fazê-lo, desqualificando o relatório por meio de Martins.

Investigação
Zeca diz que não há nenhuma investigação em curso para apurar ligações entre ele e pessoas do seu governo com a quadrilha de policiais, condenada em primeira instância no final do ano passado.
Não há investigação formal, como a própria reportagem deixa claro, até porque os promotores a requisitaram à Procuradoria Geral da República. Mas, para elaborar o relatório, os promotores efetivamente fizeram uma investigação que resultou em mais de mil páginas de texto.
Na nota, o governador petista contesta também várias informações do relatório dos promotores que foram descritas pela reportagem.
Insinua que a reportagem o acusa de elo com o crime organizado, o que não é verdade. A suposta ligação está no relatório enviado a Brasília, e todas as contestações possíveis dos personagens do texto foram publicadas.
Também de acordo com Zeca, uma cópia do relatório foi enviada em março deste ano ao procurador-geral da Justiça de Mato Grosso do Sul, Sérgio Morelli, que "analisou-o e determinou seu arquivamento por inconsistência".
A versão de Morelli nega a do governador. Em entrevista coletiva ontem sobre o caso, Morelli disse que, apesar de ter recebido o relatório, não houve nenhum pedido de procedimento investigatório ao Ministério Público Estadual, já que, por envolver o governador, a competência é da Procuradoria Geral da República. Logo, o documento acabou sendo enviado a Brasília.
Zeca diz que pedirá à Justiça Eleitoral um direito de resposta.


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