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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ A HORA DAS PROVAS
Para presidente da CPI, operações entre partido e Marcos Valério seriam só de fachada
Caixa 2 do PT pode ter vindo de conta de fora, diz Delcídio
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da CPI dos Correios, senador petista Delcídio
Amaral (MS), disse que os recursos que alimentaram o caixa dois
do PT poderiam ser dinheiro do
próprio partido no exterior. Em
sua opinião, está cada vez mais
claro que os empréstimos tomados pelo empresário Marcos Valério de Souza e repassados ao
partido são fictícios.
"Você tem várias movimentações [financeiras]. Como o Marcos Valério pegando esses empréstimos -entre aspas, porque
a cada dia nós nos convencemos
mais de que essas operações de
empréstimos são de fachada",
disse ele ontem para a Folha.
Segundo Delcídio, a CPI já
aprovou a contratação de pelo
menos duas consultorias para auxiliar nas investigações relacionadas à movimentação financeira e
à origem dos recursos de campanha não contabilizados. Quatro
empresas já se apresentaram:
KPMG, Ernst Young, Boucinhas e
Campos e Price Waterhouse.
O presidente da CPI levanta
uma série de hipóteses sobre a
operação triangular. O publicitário Marcos Valério tomou empréstimos de cerca de R$ 55 milhões junto aos Bancos Rural e
BMG e os repassou para o PT. A
operação foi avalizada pelo então
presidente da legenda José Genoino. Supostamente, os recursos seriam utilizados para pagar despesas da campanha de 2002 do partido e da base aliada, que não haviam sido contabilizadas.
Uma das hipóteses é que a ação
serviria para repatriar dinheiro.
"Você poderia ter contas lá fora e
os empréstimos seriam de fachada, empréstimos de você para você mesmo", disse o senador.
Para Delcídio, são muitas as razões para crer que os empréstimos eram apenas um meio para
despistar de onde realmente vinham os recursos de caixa dois.
Primeiro, diz, porque os empréstimos nem sequer estavam registrados na contabilidade da SMPB,
a agência de propaganda que Valério usou para obter o crédito.
"Qualquer empresa minimamente séria contabiliza, principalmente operações desse montante.
É absolutamente claro que isso
era para não se pagar."
O presidente da CPI listou possibilidades de ações que explicariam a necessidade de uma operação de fachada. Primeiro, empresas que desejassem fazer doações
de campanha não registradas na
Justiça Eleitoral poderiam simular contratos de propaganda com
as agências de publicidade de Valério. Mesmo que não fossem feitas, as campanhas publicitárias
seriam pagas, e os recursos transferidos para o caixa dois.
"Exemplo: uma empresa privada contrata serviço para pesquisar a "birimbela da grampola". Um
assunto subjetivo, você não sabe
bem o quê, é difícil de mensurar.
Com isso, você cria as condições
necessárias para ajustar os recursos àquilo que você pretende fazer", disse Delcídio.
"Já há sinais claros de empresas
privadas que aparentemente
prestaram serviço, mas serviço
que não tinha nenhum praticidade, mas que eventualmente [serviram] para alimentar alguém."
Outra possibilidade, disse o senador, é que as campanhas publicitárias existiriam, mas seriam superavaliadas. Ou seja, teriam um
custo real, por exemplo, de R$ 100
mil, mas a empresa contratante
pagaria R$ 500 mil -a "gordura"
alimentaria o caixa dois.
"Esses recursos que vieram
abastecer esse esquema todo que
foi montado pode ter vindo do exterior. Efetivamente pode existir,
até a partir do depoimento do Duda Mendonça", afirmou.
Delcídio se referia à declaração
de Duda, à CPI dos Correios, de
que teria recebido no exterior ao
menos R$ 10,5 milhões de Marcos
Valério. O dinheiro se devia ao
pagamento de campanhas feitas
para o PT em 2002, disse Duda.
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