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ELIO GASPARI
O PT está vivo, na
periferia de São Paulo
Os comissários José Dirceu e José Genoino presidiram a primeira coça eleitoral tomada pelo PT. Perderam a
maior prefeitura do país (São
Paulo), o mais antigo reduto petista (Porto Alegre) e a maior vitória da militância das bandeiras vermelhas (Fortaleza). Perder vitória é coisa de craque.
Dirceu e Genoino conseguiram.
A nação petista precisa entender o resultado da periferia de
São Paulo, onde chegou a vencer os tucanos por três votos contra um. Ou Lula e seu governo
acordam ou serão moídos em
2006.
A derrota do PT nada teve a
ver com estratégias eleitorais ou
bases de apoio. O PT apanhou
porque ficou ruim de serviço.
Seu problema está na cúpula,
não na base, com um presidente
da República que circula de
Ômega australiano à espera do
Airbus europeu. Lula vive em
estado de felicidade enquanto
seus comissários foram capazes
de acreditar que poderiam presentear o PC do B com o ducado
de Fortaleza. Fizeram isso no
Rio, em 1997. Destruíram o partido e produziram Anthony Garotinho, que na sua versão mais
tímida chamou-se Benedita da
Silva.
A caminho do seu terceiro ano
de governo, Lula acredita que
vai redesenhar o mapa geopolítico do mundo e que sua chegada à Presidência é um marco da
história da humanidade. Acredita também que se reuniu com
uma dúzia de empresários no
Alvorada para um jantarzinho
e convenceu-os a cacifarem a reforma do palácio. Coisa de R$ 16
milhões. Esse é o engano dos petistas que passaram a fumar
charutos cubanos (Lula fuma
cigarrilhas holandesas). A mesa
dos empresários do Alvorada é
constante, como o valor de Pi.
Quem muda é o presidente. Durante a ditadura militar, uma
das pessoas jurídicas sentadas à
mesa do companheiro cacifou a
construção do pavilhão de tiro
de um quartel paulista.
Ao deslumbramento proletário somou-se uma administração de parolagem. Enquanto a
diretoria do Banco Central e a
ekipekonômica da Fazenda
atuam em harmonia com a herança tucana e os bons ofícios
da banca, a área social do governo de Lula é uma ruína. Teve
três ministros da fome (José
Graziano, Benedita da Silva e
Patrus Ananias). Revelaram-se
fracassos de estilos diversos.
Dois foram os ministros da Educação e poucas lembranças permitem. O ministro da Saúde dá
compostura à inutilidade. Essa
equipe fracassada abriga-se no
Planalto sob o guarda-chuva da
marquetagem. Os ministros
acreditam que são ótimos. Tudo
seria um problema de marketing.
O que falta ao PT Federal é a
centelha do olhar dos militantes
que em eleições passadas iam felizes para rua, sacudindo bandeiras. Vê-los, uns poucos, circulando pelas ruas de São Paulo,
chegava a ser comovente. São os
petistas que vivem longe das
"boquinhas". Gente indignada
e, por isso, no início da campanha paulista, foram substituídos por assalariados. Partido rico é assim. Mal sabem os comissários que no fim da novela os
partidos ricos acabam sem malas e sem votos.
Não há em Brasília hierarcas
curiosos para discutir as minúcias técnicas do bilhete único de
transporte. Passaram-se quase
dois anos de governo e o Ministério das Cidades não conseguiu
botar de pé um programa de legalização dos lotes urbanos dos
brasileiros que vivem nas grandes cidades. Foi a centelha da
velha militância quem fez o bilhete único, os uniformes escolares e as mochilas da garotada
pobre de São Paulo. Eram pessoas que pretendiam mudar o
Brasil, não suas vidas. É dessa
gente a monumental vitória petista na periferia da maior cidade do país. Uma vitória que
marcará a história de São Paulo
por muitos e muitos anos.
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