São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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"Missão oficial" coincide com festa junina

"Da Bahia para cima o São João é uma coisa muito forte", argumenta o pernambucano Carlos Eduardo Cadoca (PMDB)

Maurício Rands (PT-PE) diz que a participação do parlamentar na vida cultural da comunidade faz parte de seus deveres

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma das principais concentrações de deputados em "missão oficial autorizada" acontece no final de junho, quando as fogueiras de São João e São Pedro ardem país afora, principalmente no Norte e no Nordeste -regiões com 42% dos parlamentares. Neste ano, 40% dos deputados estavam em suposta "missão" no período.
"O São João não tem nenhum significado para boa parte do país, mas da Bahia para cima o São João é uma coisa muito forte", argumenta o pernambucano Carlos Eduardo Cadoca (PMDB), em "missão oficial autorizada" durante as quatro sessões de votação realizadas entre 22 de junho e 3 de julho.
"Se não for uma coisa sistemática, eu até aceito e confesso que vez ou outra me socorro do expediente para poder, atendendo à minha base, justificar uma falta", afirma o deputado, que ressalta procurar cumprir "pelo menos esses três ou quatro dias em que são feitas as chamadas para presença". Ele se ausentou de 15% das votações da atual legislatura.
Já o paraibano Marcondes Gadelha (PSB) afirma ser contra a falta e se diz saudoso do tempo em que as regras para assegurar a presença do deputado em Brasília "eram rígidas". Ele também teve abonada a falta às quatro sessões do período final das festas juninas.
"Não sei se justifiquei ou se levei falta", afirmou, antes de ser informado de que teve todas as ausências abonadas. "É? É bom verificar, porque pode ter... Eu posso... Olha, eu perdi muito dinheiro também. Tem viagens não justificadas que fiz e que a gente perde dinheiro. A punição é severa", declarou.
Gadelha, que se ausentou de 28% das votações da Legislatura, se explica: "Não acho justificado faltar [para ir às festas juninas]. Mas é uma heresia você falar isso lá. Se você disser isso lá, o pessoal não vai aceitar. Afinal de contas, você não pode fazer uma atividade parlamentar desvinculada das bases".

Vida cultural
O petista Maurício Rands (PE) diz não ter nenhum problema em justificar suas faltas para comparecer aos festejos.
"A participação do parlamentar na vida cultural de sua comunidade é parte do elenco de deveres do seu mandato. Para mim, inclusive, é muito cansativo porque eu vou de bairro em bairro nas quadrilhas organizadas pelas comunidades, então, é um momento de interação e de fortalecimento da vida cultural da região."
Rands faltou a 18% das sessões. A maioria, segundo ele, em decorrência de sua participação na CPI dos Correios.
Fernando Ferro (PT-PE) estava presente no dia 22, mas teve as faltas abonadas nos dias 27 e 28. "Se faltei pelo São João reconheço que não é correto, mesmo com a grande paixão que tenho. Acho que isso é uma falta e que [eles] têm que assumir a responsabilidade." Ferro se ausentou em só 11% das votações nos últimos quatro anos.
Em 2003, primeiro ano da Legislatura, não houve concentração de missões oficiais no final de junho. No ano seguinte, há o registro de 264 abonos de falta na sessão de 29 de junho, o que representa 52% da Câmara. Em 2005, o período coincidiu com as primeiras semanas do estouro do escândalo do mensalão e também não registrou concentração de faltas justificadas. (RANIER BRAGON)


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