|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DESPERDÍCIO
Dinheiro que deveria ser aplicado em assistência ao trabalhador patrocina filme, show e campos de futebol
Sesi e Sesc desviam recursos, diz TCU
OSWALDO BUARIM JR.
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília
A aplicação irregular de verbas
do Sesi (Serviço Social da Indústria) e do Sesc (Serviço Social do
Comércio) ainda é uma prática comum no país.
Financiamento de filme, patrocínio de show em Nova York e pagamento de despesas de entidades
empresariais são exemplos de como são gastos recursos que deveriam se destinar à assistência social
de empregados da indústria e do
comércio.
Os exemplos constam de auditoria por amostragem feita pelo TCU
(Tribunal de Contas da União),
com dados de 1995 a 1998.
Com orçamentos anuais próximos a R$ 500 milhões, o Sesi e o
Sesc são vinculados à CNI (Confederação Nacional da Indústria) e à
CNC (Confederação Nacional do
Comércio) e geridos pelas federações estaduais de empresários.
Devido aos desvios, está se deteriorando a qualidade dos serviços
prestados ao público-alvo das entidades do chamado sistema "S".
Além de gastos irregulares, a auditoria também constatou a existência de práticas que beneficiam
empresas privadas e provocam
perdas de receita.
O Sesi paulista, por exemplo,
perde cerca de R$ 20 milhões por
ano ao dar desconto de 8% nas
contribuições de empresas (1,5%
sobre a folha de pagamentos).
O desconto é dado às empresas
que pagam a contribuição diretamente ao Sesi. Se a arrecadação
fosse feita pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que recolhe as contribuições sobre a folha e
repassa a receita para as entidades
cobrando taxa de apenas 3,5%, a
perda seria bem menor.
Em 1996, segundo a auditoria, o
Sesi paulista "transferiu" R$ 20,8
milhões a empresas privadas por
conta do desconto por arrecadação direta.
Em Minas Gerais, a lista de despesas do Sesi incluiu itens que não
trazem nenhum benefício aos trabalhadores da indústria. Em 1996,
foram gastos R$ 20 mil no patrocínio de um show de Milton Nascimento na Brooklyn Academy of
Music, em Nova York.
O jornalista Pedro Bial foi contemplado com patrocínio de R$
496 mil para dirigir um filme e uma
série de televisão sobre a vida do
escritor Guimarães Rosa.
A série, segundo o TCU, era de
interesse exclusivo da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas
Gerais), pois sua produção estava
vinculada à realização do Encontro das Américas.
A Fiemg foi uma das participantes do evento, que reuniu ministros e empresários do continente
em Belo Horizonte, em 1997.
A entidade também aparece como co-patrocinadora do filme de
Bial -"Os Nomes do Rosa"-,
embora apenas o Sesi tenha desembolsado dinheiro.
Futebol e tobogãs
No Rio Grande do Sul, o Sesc gastou R$ 710 mil com a construção de
dois minicampos de futebol. Do
total, R$ 280 mil foram gastos com
a importação de grama sintética da
França, "considerando-se o fato de
o Rio Grande do Sul possuir grama
natural de excelente qualidade, a
custo bem inferior". Outros R$ 450
mil foram aplicados na instalação
de tobogãs em piscinas na sede
campestre da entidade.
"Cabe analisar se os recursos
despendidos nos dois empreendimentos citados, e que alcançam R$
1,16 milhão, não seriam mais bem
empregados em atividades de
maior sentido social, nas áreas de
saúde ou assistência", afirma o relatório do TCU.
A auditoria constatou ainda desvios de recursos para financiar entidades patronais. Os desvios ocorrem de maneira indireta, com pagamento de funcionários que
atuam em federações empresariais
e cessão de imóveis a preços abaixo
do valor de mercado, por exemplo.
O Sesc do Distrito Federal gastou, em 1996, R$ 21 mil por mês
com o pagamento dos salários de
11 funcionários cedidos à presidência da Fecomércio (Federação
do Comércio do DF).
Juntamente com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), o Sesc arca com 90% dos
custos do jornal da Fecomércio,
segundo o relatório.
Em São Paulo, os técnicos do
TCU verificaram que o Sesi só reajustou os aluguéis que cobrava do
prédio onde estão instalados a
Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) e o Ciesp
(Centro das Indústrias do Estado
de São Paulo) depois que a Folha
mostrou, em maio de 1996, os baixos valores cobrados das entidades
empresariais.
Dois meses depois da publicação
da reportagem, o aluguel do metro
quadrado passou de R$ 9 para R$
20, preço considerado razoável em
relação aos valores de mercado.
O relatório ressalta, porém, que
não houve reajuste dos contratos
de outras áreas alugadas a entidades patronais a "preços simbólicos" -R$ 0,22 a R$ 0,38 por metro
quadrado, em 1996.
Ainda em São Paulo, o TCU inspecionou a compra e a conclusão
de um hotel, pelo Sesi, em Presidente Epitácio (680 km de São
Paulo), próxima à divisa do Estado
com o Mato Grosso do Sul.
Em maio de 1996, a Folha revelou que o hotel não era explorado
desde o final da construção, ocorrida 17 meses antes. O TCU comprovou a realização de um mau negócio. Segundo o relatório, o custo
da compra e da conclusão chegou a
R$ 16,9 milhões, quando o preço
de mercado do empreendimento
não passava de R$ 6 milhões.
Outras irregularidades foram
constatadas pela auditoria realizada pelo TCU no Sesc do Distrito
Federal e de Pernambuco e no Sesi
do Piauí e de Sergipe (veja quadro
ao lado).
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|