São Paulo, #!L#Sexta-feira, 04 de Fevereiro de 2000


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JANIO DE FREITAS
Palavra-chave

O uso da palavra suspeito no artigo de anteontem, sobre a injustificável demora na autorização de medicamentos genéricos pelo Ministério da Saúde, repete-se hoje com redobrada motivação.
O ministro da Saúde, que alega não estarem ao seu alcance os meios de coibir os preços absurdos e os aumentos explosivos dos remédios, cometeu grave intervenção nos preços -a favor dos laboratórios exploradores a que dizia estar combatendo.
A apressada e ridícula "liberação" de apenas seis medicamentos genéricos, das centenas esperadas, mais acentua do que atenua a perfeita identidade entre o ritmo do Ministério da Saúde e a oposição dos grandes laboratórios à venda de medicamentos genéricos (a substância medicamentosa, sem os nomes e a roupagem fantasiosos que os laboratórios lhes dão e, por isso, muito mais baratas do que os remédios de nomes comerciais).
Ao comunicar a liberação das seis substâncias, José Serra disse esperar que os preços dos genéricos sejam de 30% a 55% mais baratos do que os remédios hoje disponíveis. Por que 30% a 55%? Com base em que levantamento foi estabelecida tal margem? Não se sabe. Mas se sabe, por evidência constrangedora, que esses percentuais sinalizaram para os produtores os preços que devem ser cobrados pelos medicamentos genéricos.
Ocorre que a diferença de preços entre os remédios de nome comercial e os de suas substâncias comercializáveis não se enquadra naquele limite. A experiência já longa dos Estados Unidos e da Europa (nesta, particularmente o caso da França) o atesta. As farmácias de manipulação têm demonstrado que no Brasil a diferença de preços é também muito maior do que a citada por José Serra. Eliane Cantanhêde referiu-se, na Folha de ontem, ao antibiótico amoxilina, cuja caixa custa R$ 1,20, como genérico de uma farmácia de manipulação mencionada, e mais de 11 vezes acima, ou R$ 14, como o remédio que leva o nome de Amoxil. Se a diferença fosse entre 30% e 55%, o preço do genérico, em vez de R$ 1,20, ficaria entre R$ 6,30 e R$ 9,80. Nem sempre a diferença pode ser tão alta, mas diferenças altas são comuns e suficientes para negar a margem de Serra mesmo como média, o que não era o caso.
Se os percentuais foram dados ao ministro da Saúde por sua assessoria, seria o caso de alertar-se quanto ao informante, cujos serviços ao lobby dos grandes laboratórios são maiores que os devidos ao Ministério da Saúde e à população. Esse lobby já engordou a conta e o patrimônio de muita gente.
O Ministério da Saúde continua testando ao infinito, segundo o número oficioso, a eficácia de 170 genéricos. Mas não testou nenhum dos remédios que têm a mesma substância e são vendidos com nomes comerciais a preços assaltantes.


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