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"Lula não manda no PT", diz articulador de projeto Chinaglia
Vaccarezza, um dos responsáveis por triunfo de petista, quer que partido assuma campanha por anistia de Dirceu
Deputado defende nome de Marta Suplicy no ministério e pede que neolulistas do PMDB da Câmara recebam cargos de ala do Senado
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Um dos principais articuladores da vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa pela
presidência da Câmara, o deputado federal Cândido Vaccarezza (SP) diz que "o PT não faz o
que Lula manda". Afirma que o
presidente da República "é o
principal quadro do PT, mas o
PT muitas vezes tem vontades
diferentes da vontade de Lula".
Na opinião de Vaccarezza, o
PT deveria assumir a campanha pela anistia do ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu, que
teve o mandato de deputado federal cassado em 2005.
Vaccarezza defende a indicação da ex-prefeita de São Paulo
Marta Suplicy para o ministério. Diz que ela conta com o
apoio do PT nacional, e não só
do paulista, e "tem qualificação
técnica, conduta ilibada, peso
partidário e peso social".
Vaccarezza defende que os
neolulistas do PMDB da Câmara, que apoiou Chinaglia, recebam parte da cota de cargos em
poder do grupo peemedebista
do Senado -que esteve com Aldo Rebelo (PC do B-SP).
FOLHA - O PT faz aquilo que Lula
manda?
CÂNDIDO VACCAREZZA - O PT não
faz o que Lula manda. A história do PT não é cumprir o que
seus filiados mandam. Lula é o
principal quadro do PT, mas o
PT tem vontades muitas vezes
diferentes das de Lula.
FOLHA - O governo de coalizão começou com um fracasso, sem conseguir apresentar candidato único na Câmara. Isso deixará máculas?
VACCAREZZA - Começou com
um sucesso, porque os dois
candidatos do segundo turno
eram da base. O que ganhou é o
que tem condição de dar equilíbrio à Câmara porque é do PT e
conta com o apoio do PMDB.
Esse núcleo garante mais segurança política ao governo.
FOLHA - Chinaglia unirá a base?
VACCAREZZA - A unificação da
base é função do líder do governo, dos partidos da base e do
próprio Lula, não do presidente da Câmara. Teremos nos
próximos quatro anos a possibilidade de uma nova era no
funcionamento da Câmara e do
PT. O partido deve apresentar
ações propositivas ao governo.
FOLHA - No PT, há defensores de
que o núcleo do governo de coalizão
seja com PSB e PC do B.
VACCAREZZA - Eu defendo que o
núcleo seja PT-PMDB, costurando uma grande aliança eleitoral para 2010 com PSB, PC do
B e os demais partidos que
apóiam Lula.
FOLHA - Lula tem dito que o PT deve ceder espaço aos aliados nos ministérios. O sr. concorda?
VACCAREZZA - Sou favorável a
aumentar o espaço dos partidos aliados, como o PMDB,
mas o espaço deve ser dado a
quem tem base política no partido, combinando capacidade
técnica e conduta ética. Não
pode ser ministro quem só tenha capacidade técnica, a não
ser que vá para a cota pessoal
do presidente. Acho que o PT
deve ser generoso com os aliados e deve ser generoso com o
PT, que está sub-representado.
FOLHA - O sr. se refere ao desejo do
PT-SP de substituir Fernando Haddad (Educação) por Marta Suplicy?
VACCAREZZA - O pleito da indicação de Marta para o ministério não é do PT paulista. É do
PT nacional, talvez de todos os
partidos da base aliada e de
muita gente que não tem relação partidária. Seria indelicado
com ministros interinos dizer
que a Marta pode ocupar esta
ou aquela pasta. Mas ela tem
qualificação técnica, conduta
ilibada, peso partidário e peso
social como poucos ministros.
FOLHA - O sr. defende retirar cargos do PMDB do Senado em favor
do grupo neogovernista?
VACCAREZZA - Quem indica ministro é o presidente. Minha
avaliação é que o PMDB que
assumiu o apoio ao governo
institucionalmente não pode
estar representado por apenas
um segmento do partido, o que
parece ser hoje a realidade.
Não sei se esse segmento é
maioria dentro do PMDB.
FOLHA - Renan Calheiros trabalhou contra Chinaglia. A relação entre Câmara e Senado será tensa?
VACCAREZZA - A tensão que poderia existir seria fruto de uma
tentativa de o Senado prevalecer sobre a Câmara. Com Arlindo, esse risco não existe. O Senado não terá mais peso do que a Câmara. Aliás, o Senado, que
seria representante dos Estados, não deveria ter iniciativa
na proposição de leis. Isso atrasa o processo legislativo. A iniciativa na produção legislativa
deveria caber à Câmara, como
as questões do Orçamento. O
Senado deveria votar só matérias aprovadas na Câmara.
FOLHA - O apoio de Serra e Aécio
foi fundamental para a vitória?
VACCAREZZA - As conversas com
o PSDB foram importantes para a vitória, sobretudo no segundo turno.
FOLHA - Qual foi a participação de
José Dirceu na eleição?
VACCAREZZA - Escreveu no blog
dele que apoiava o Arlindo, como militante do PT. Dirceu não
é deputado e não teve participação concreta na campanha.
FOLHA - O PT deve assumir uma
campanha pela anistia de Dirceu?
VACCAREZZA - Acho que o PT
deve assumir.
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