São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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QUESTÃO AGRÁRIA
Trabalhadoras rurais reivindicam programa de saúde, aposentadoria e reconhecimento da profissão

Camponesas fazem manifestação em 23 capitais

ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA EM RIBEIRÃO PRETO

Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, entidades camponesas brasileiras querem reunir até 40 mil mulheres em 23 capitais. O ápice está previsto para a data da efeméride, 8 de março.
A ação é promovida pela ANMTR (Articulação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais), grupo formado por cerca de 20 movimentos organizados e grupos autônomos de mulheres do campo.
Ginásios municipais e áreas de universidades públicas servirão de palco para os acampamentos com capacidade para alojar pelo menos mil participantes.
Os objetivos do movimento são chamar a atenção da sociedade, debater a questão da discriminação da mulher no campo e cobrar publicamente do governo respostas às reivindicações da categoria.
O lema da mobilização feminina, que se estende de segunda até sexta-feira, é "Mulheres Trabalhadoras Rurais Construindo um Novo Brasil".
A gaúcha Adriana Maria Mezadre, 22, da coordenação nacional do movimento, diz que as prioridades são a luta por um programa de saúde pública que atenda à mulher no campo, por acesso à aposentadoria e pelo reconhecimento da profissão de trabalhadora rural.
Ser a titular na posse da terra ou dividir a posse igualmente com o marido também está na lista das reivindicações femininas. "Hoje, apenas 12% dos lotes de assentamentos do Incra estão nas mãos das mulheres. Há casos em que a mulher assentada se separa, perde tudo e volta para os acampamentos", diz Cristiane Campos, do MST do Rio Grande do Sul.
Além das pautas específicas, o movimento das camponesas defende as bandeiras comuns de sem-terra e pequenos agricultores: tratar a reforma agrária como questão social e não como caso de polícia, mais crédito e terras para assentamento, mudanças na política agrária e veto aos alimentos transgênicos.
Em São Paulo, o acampamento será montado no estádio do Pacaembu a partir de terça-feira. O plano é reunir 2.000 mulheres e cerca de 300 crianças vindas de várias regiões do Estado.

Marta Suplicy
Segundo a coordenadora Maria Rodrigues, estão previstos debates no ginásio, uma mobilização na praça Ramos junto com as trabalhadoras urbanas e um ato ecumênico tendo a prefeita Marta Suplicy (PT) como convidada especial, ícone do movimento.
Em Brasília, uma comissão tentará ser recebida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Há um ano, a ANMTR reuniu cerca de 3.000 mulheres em Brasília para pressionar o governo a retirar da reforma da Previdência o item que mudava a idade de aposentadoria do trabalhador rural masculino e feminino.
O sucesso na reivindicação incentivou as camponesas a ampliarem o movimento neste ano para as outras capitais no país.
Além das militantes do MST, integram a ANMTR, fundada em 1997, mulheres ligadas ao MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), ao MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), sindicalistas, índias e grupos independentes como as quebradeiras de castanha do Pará, as quebradeiras de coco do Maranhão e as rendeiras do Ceará.
Não estão representadas na entidade as mulheres ligadas à Contag (Confederação Brasileira dos Trabalhadores na Agricultura), que devem fazer um evento à parte -As Margaridas Continuam em Marcha - em Fortaleza, na quinta-feira.
Em 10 de agosto do ano passado, a Contag reuniu milhares de mulheres na Marcha das Margaridas em Brasília. O tema era a luta contra a fome, a pobreza e a violência sexista.


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