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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO FURNAS
Segundo acusação, empresa japonesa e outras quatro do setor elétrico contribuem para caixa 2 de Furnas em troca de contratos com estatal
Ex-gerente denuncia "clube da propina"
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-superintendente administrativo da Toshiba José Antonio Csapo Talavera declarou que
a empresa de origem japonesa integraria um "clube" com outras
grandes empresas para dominar
negócios do setor elétrico em troca do pagamento de propinas a
dirigentes de estatais e políticos.
No depoimento tomado anteontem em caráter sigiloso, Talavera listou as multinacionais
WEG, Alston do Brasil, ABB
(Asea Brown Boveri) e a GE (General Electric), além do consórcio
Gevisa, composto pela GE, pela
Villares e pelo Banco Safra. Seriam os principais integrantes do
suposto "clube" da propina, ao lado da própria Toshiba.
Na outra ponta do esquema, estariam as estatais Furnas Centrais
Elétricas e Cemig (Companhia
Energética de Minas Gerais), importantes clientes da Toshiba no
país. Nos últimos dois anos, Furnas manteve negócios no valor de
R$ 8,6 milhões com a multinacional que fabrica componentes para
o setor elétrico.
"O "clube" reúne-se periodicamente na cidade de São Paulo,
sem local próprio, quando então
são definidos os vencedores de licitações e contratos com o poder
público, bem como os valores que
serão pagos aos servidores a título
de "propina'", afirmou Talavera.
Talavera foi demitido em 2004
da Toshiba e hoje é comerciante
em São Paulo. Com o apoio do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS), ele negocia proteção da
Polícia Federal e um depoimento
à CPI dos Correios.
A PF e a CPI investigam um suposto caixa dois em Furnas no valor de R$ 40 milhões operado pelo
ex-diretor de Engenharia Dimas
Toledo e que teria beneficiado
mais de 150 políticos.
"Espero que a CPI o convoque",
defendeu Augusto Carvalho, por
ora sem resposta da comissão.
Ontem, Talavera disse que não
comentaria seu depoimento na
PF, pois se comprometeu a não
falar nada com ninguém. "Vou
manter o que disse."
No depoimento à PF, Talavera
diz que foi contratado pela Toshiba em 1998 para apurar desvios
nas unidades da empresa. No início de 2001, ao rastrear saques em
dinheiro na fábrica de Minas Gerais, teria tomado conhecimento
do caixa dois da Toshiba.
"Leonídio [Soares, então diretor
da fábrica em Minas] confessou
que costumava repassar recursos
para empregados da estatal [Furnas], mediante o desconto de cheques na boca do caixa, amparados
por notas fiscais frias", disse Talavera. A tal confissão do diretor teria ocorrido na presença de dirigentes da Toshiba e de representantes da matriz japonesa.
Exemplares de notas frias lançadas por conta de consultorias fictícias e que teriam sido usadas para lastrear o desvio de dinheiro foram apresentados por Talavera à
PF e à CPI dos Correios. Em várias
notas, a palavra assessoria aparece escrita com "ç".
Ainda sobre Furnas, Talavera
afirmou à PF saber que Leonídio
Soares, que seria representante da
Toshiba no "clube" da propina,
"relacionava-se" com o ex-diretor
da estatal Dimas Toledo. Leonídio
não foi encontrado ontem.
Durante o depoimento prestado anteontem, o ex-funcionário
da Toshiba relatou que a empresa
havia sido procurada por Dr. Terra [supostamente Renato Terra,
investigado pela PF], que se apresentara como lobista. Em troca de
uma propina de US$ 5 milhões,
Terra teria oferecido contratos
para a construção de cinco ou seis
usinas termelétricas para Furnas
-obras do programa do governo
federal destinadas a evitar uma
nova ameaça de apagão no país.
"Os valores que seriam pagos
por Furnas já teriam embutidos
percentuais destinados ao pagamento de propinas para a diretoria da estatal e alguns políticos",
disse Talavera, que soube da tentativa de negócio por meio de outro então funcionário da Toshiba.
Talavera diz que o pagamento
de propina ocorria com o conhecimento da direção da Toshiba e
que ouviu do presidente da empresa no Brasil, Nobuhiro Tanimura, que "todos os que ocupavam cargos públicos nesses países
[latino-americanos] estariam sujeitos a receber propina e que as
coisas funcionavam assim na
América do Sul como um todo".
Colaboraram ANDREA MICHAEL e
RUBENS VALENTE
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