São Paulo, Quinta-feira, 04 de Março de 1999
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PELO BRASIL
Barragem de Cororobó, inaugurada há 30 anos, atinge nível mais baixo de sua história
Cidade de Canudos volta após a seca

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

A seca está trazendo de volta ao sertão da Bahia a antiga cidade de Canudos (BA), que havia sido completamente destruída por uma guerra no final do século passado e encoberta pelas águas da barragem de Cororobó.
Desde que foi inaugurada, há 30 anos, a barragem de Cororobó atingiu nos últimos dias o nível mais baixo de volume de água de sua história, apenas 24 milhões de metros cúbicos ou 10% de sua capacidade total.
Com a barragem praticamente seca, os moradores e visitantes de Canudos (410 km de Salvador) já podem observar alguns dos cenários da guerra entre os seguidores do líder Antonio Conselheiro e tropas governamentais que provocou quase 20 mil mortes, como ruínas de diversas construções e a igreja.
O município nascido após a construção da barragem fica a 11 quilômetros da velha Canudos. "A situação aqui é dramática", disse o vereador Adailton Santos Ramos (PSDB).
Segundo Ramos, a seca está colocando em risco toda a área (1.200 hectares) do perímetro irrigado de Canudos, responsável pela geração de 1.500 empregos diretos.
"A água que irriga a região vem da barragem de Cocorobó. Com a estiagem, os técnicos terão que rever os planos de irrigação", afirmou.
O secretário municipal da Administração, José Cidrônio Dias de Oliveira, disse que a prefeitura chegou a contratar sete carros-pipa para abastecer a zona rural do município, mas que eles não são suficientes para levar água à toda a população.
Segundo Oliveira, há 18 meses não chove em Canudos. "Sem plantar nada, os moradores daqui sobrevivem de pequenos bicos e do emprego público."
A Prefeitura de Canudos emprega 419 funcionários, a maioria recebe salário mínimo. Além da longa estiagem, Canudos convive ainda com um elevado índice de analfabetismo.
Segundo a prefeitura, 60% das pessoas com mais de 15 anos não sabem ler e escrever. A cidade também não tem ligação por asfalto com nenhum outro município baiano.
"Quase um século depois de Antonio Conselheiro, os moradores de Canudos continuam convivendo com a fome, miséria, ignorância e a indiferença por parte dos governos estadual e federal", disse Oliveira.


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