|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIPLOMACIA
Partidos rivais tentam explorar a visita de Lionel Jospin ao Brasil
PSDB e PT disputam premiê francês
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso e o PT da
prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, disputam a agenda e a melhor foto do premiê da França,
Lionel Jospin, que começa hoje
uma visita de três dias ao Brasil.
FHC tem dois almoços marcados com Jospin, um protocolar,
no Itamaraty, em Brasília, e outro
mais informal, no hotel Copacabana Palace, no Rio. É uma tentativa de neutralizar o almoço que
Marta oferece ao primeiro-ministro em sua residência particular.
"Os franceses adoram o Brasil, e
os socialistas adoram principalmente o PT", disse Marta à Folha.
Durante recente viagem a Paris,
Jospin sugeriu o almoço entre os
dois, que será na sexta. Marta
aventou convidar "representantes da esquerda". Ele foi mais preciso: queria apenas os dirigentes
do PT. Serão 12, incluindo Luiz
Inácio Lula da Silva.
O ministro e presidenciável José
Serra (Saúde) não ficou fora da
agenda e da disputa, pois assina
amanhã no Planalto um dos principais protocolos da viagem, de
cooperação na área de saúde pública e prevenção à Aids.
Por uma deferência diplomática, também acabaram incluídos
na programação o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), o do Rio, Anthony Garotinho (PSB), e o prefeito do Rio,
Cesar Maia (PTB). Nada, porém,
comparado com passeio a pé programado para Jospin e Marta no
histórico Pátio do Colégio (centro
de São Paulo) ou o almoço com
FHC, provavelmente regado a reminiscências parisienses, no Copacabana Palace.
Comitiva
Jospin chega a Brasília hoje, às
22h50, com uma comitiva raras
vezes vista em viagens assim. São
dois aviões Airbus com um total
de 220 pessoas, incluindo empresários de primeiro time, que o Itamaraty classifica como "dois terços do PIB francês".
Exemplos: Louis Schweitzer, diretor-geral da fábrica de carros
Renault, Charles Edelstenne, da
fábrica de aviões Dassault, Michel
Pebereau, do BNP (Banco de Paris), e Michel Bon, da France Telecom (telecomunicações).
O embaixador do Brasil em Paris, Marcos Azambuja, disse à Folha que, além do tamanho da comitiva, o próprio fato de Jospin
vir ao Brasil já é em si importante,
porque os presidentes franceses
viajam muito, mas os primeiros-ministros, raramente.
"As viagens do primeiro-ministro são uma indicação segura de
onde a França está pondo suas fichas", disse. Jospin, por exemplo,
só esteve em países grandes, populosos e estratégicos, como o
Brasil: China, Índia e Rússia.
Acordos
Em Brasília, a agenda de Jospin
inclui uma hora e meia de reunião
com FHC no Planalto, com a presença de 5 ministros e 15 assessores franceses e um total de 17 ministros e assessores brasileiros.
Os temas mais importantes na
reunião deverão ser, entre outros:
Estados Unidos, implantação da
Alca (zona de livre comércio das
Américas), a recusa norte-americana de assinar o Protocolo ambiental de Kyoto e a cooperação
cultural, técnica, comercial e econômica Brasil-França.
O tema mais polêmico é o da
agricultura, pois a França é um
país fortemente agrícola, defende
uma política protecionista para o
setor na União Européia e teme a
concorrência brasileira.
A reunião será seguida de assinatura de acordos bilaterais, quatro deles, inclusive o da Aids, considerados muito importantes: a
construção de uma ponte no rio
Orinoco, ligando o Estado do
Amapá à Guiana Francesa, um
programa conjunto de prevenção
e combate a incêndios em florestas e intercâmbio na área de ensino profissionalizante.
Setor privado
Jospin viaja amanhã mesmo para São Paulo, onde chega às 18h e
tem encontro às 19h45 com integrantes da Câmara de Comércio
Brasil-França. Na sexta-feira, a
programação inclui palestra no
centro cultural da Fiesp.
Jospin encerra a visita ao Brasil
passando pelo Rio, onde faz palestra sobre a globalização na universidade Cândido Mendes e é
homenageado com jantar pelo
governador Anthony Garotinho.
No sábado, a agenda de Jospin
prevê café da manhã com Cesar
Maia e almoço restrito com FHC.
Do Rio, o primeiro-ministro francês segue para a Argentina.
Texto Anterior: Responsabilidade fiscal: Judiciário anuncia corte de R$ 45,5 milhões em gastos Próximo Texto: Local de almoço foi escolha difícil Índice
|