São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2001

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DIPLOMACIA


Partidos rivais tentam explorar a visita de Lionel Jospin ao Brasil


PSDB e PT disputam premiê francês

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso e o PT da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, disputam a agenda e a melhor foto do premiê da França, Lionel Jospin, que começa hoje uma visita de três dias ao Brasil.
FHC tem dois almoços marcados com Jospin, um protocolar, no Itamaraty, em Brasília, e outro mais informal, no hotel Copacabana Palace, no Rio. É uma tentativa de neutralizar o almoço que Marta oferece ao primeiro-ministro em sua residência particular.
"Os franceses adoram o Brasil, e os socialistas adoram principalmente o PT", disse Marta à Folha. Durante recente viagem a Paris, Jospin sugeriu o almoço entre os dois, que será na sexta. Marta aventou convidar "representantes da esquerda". Ele foi mais preciso: queria apenas os dirigentes do PT. Serão 12, incluindo Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro e presidenciável José Serra (Saúde) não ficou fora da agenda e da disputa, pois assina amanhã no Planalto um dos principais protocolos da viagem, de cooperação na área de saúde pública e prevenção à Aids.
Por uma deferência diplomática, também acabaram incluídos na programação o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o do Rio, Anthony Garotinho (PSB), e o prefeito do Rio, Cesar Maia (PTB). Nada, porém, comparado com passeio a pé programado para Jospin e Marta no histórico Pátio do Colégio (centro de São Paulo) ou o almoço com FHC, provavelmente regado a reminiscências parisienses, no Copacabana Palace.

Comitiva
Jospin chega a Brasília hoje, às 22h50, com uma comitiva raras vezes vista em viagens assim. São dois aviões Airbus com um total de 220 pessoas, incluindo empresários de primeiro time, que o Itamaraty classifica como "dois terços do PIB francês".
Exemplos: Louis Schweitzer, diretor-geral da fábrica de carros Renault, Charles Edelstenne, da fábrica de aviões Dassault, Michel Pebereau, do BNP (Banco de Paris), e Michel Bon, da France Telecom (telecomunicações).
O embaixador do Brasil em Paris, Marcos Azambuja, disse à Folha que, além do tamanho da comitiva, o próprio fato de Jospin vir ao Brasil já é em si importante, porque os presidentes franceses viajam muito, mas os primeiros-ministros, raramente.
"As viagens do primeiro-ministro são uma indicação segura de onde a França está pondo suas fichas", disse. Jospin, por exemplo, só esteve em países grandes, populosos e estratégicos, como o Brasil: China, Índia e Rússia.

Acordos
Em Brasília, a agenda de Jospin inclui uma hora e meia de reunião com FHC no Planalto, com a presença de 5 ministros e 15 assessores franceses e um total de 17 ministros e assessores brasileiros.
Os temas mais importantes na reunião deverão ser, entre outros: Estados Unidos, implantação da Alca (zona de livre comércio das Américas), a recusa norte-americana de assinar o Protocolo ambiental de Kyoto e a cooperação cultural, técnica, comercial e econômica Brasil-França.
O tema mais polêmico é o da agricultura, pois a França é um país fortemente agrícola, defende uma política protecionista para o setor na União Européia e teme a concorrência brasileira.
A reunião será seguida de assinatura de acordos bilaterais, quatro deles, inclusive o da Aids, considerados muito importantes: a construção de uma ponte no rio Orinoco, ligando o Estado do Amapá à Guiana Francesa, um programa conjunto de prevenção e combate a incêndios em florestas e intercâmbio na área de ensino profissionalizante.

Setor privado
Jospin viaja amanhã mesmo para São Paulo, onde chega às 18h e tem encontro às 19h45 com integrantes da Câmara de Comércio Brasil-França. Na sexta-feira, a programação inclui palestra no centro cultural da Fiesp.
Jospin encerra a visita ao Brasil passando pelo Rio, onde faz palestra sobre a globalização na universidade Cândido Mendes e é homenageado com jantar pelo governador Anthony Garotinho.
No sábado, a agenda de Jospin prevê café da manhã com Cesar Maia e almoço restrito com FHC. Do Rio, o primeiro-ministro francês segue para a Argentina.


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