São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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JANIO DE FREITAS

Lula, o conservador

O problema criado pelo vídeo de Waldomiro Diniz tende, agora, a seguir vida própria, pelos gabinetes policiais e judiciais, sem levar a reboque o Palácio do Planalto. Foi este o presente involuntário dado a Lula e a José Dirceu pelo subprocurador que deixou gravada a confissão do propósito, não só seu, de usar o vídeo de Waldomiro Diniz para "ferrar o chefe da Casa Civil, ou seja, para derrubar o governo".
O subprocurador José Roberto Santoro revelou-se um ás do tiro pela culatra: além de acertar o próprio peito, atingiu gravemente a oposição que se animara com o caso Waldomiro. Mas o alívio do governo nesse caso não lhe é tão favorável quanto devera. As três pesquisas da semana passada demonstraram que, mesmo em plena ebulição do caso Waldomiro, o que estava na cabeça da grande maioria eram a política econômica e suas conseqüências desastrosas.
E por aí o governo vai de ruim a pior. Não só porque dia a dia pingam notícias que comprovam o arruinamento crescente trazido pelo governo Lula: o Brasil, que era a 8ª economia do mundo quando Fernando Henrique assumiu, com ele caiu para 12ª e com Lula já é a 15ª, o que expressa o empobrecimento do país; em 2003, os brasileiros consumiram menos R$ 26 bilhões do que em 2002, o que expressa o empobrecimento do padrão de vida da população, e assim em diante. Ou melhor, abaixo.
O governo não reage ao alarme das pesquisas? Claro que sim. Com a renovação das demonstrações de suas características -a ineficácia e o ilusionismo. Faz uma solenidade, mais uma, para lançar as bases de uma pretensa política industrial. O que afinal apresentou é tão preliminar e vago, que deveria ter surgido até o segundo mês de governo, está atrasado mais de ano. Nem a turma das palmas foi nessa.
O MST avisa a chegada do "abril vermelho". O governo não reage? Claro que sim. Mais discursos de Lula. Para anunciar, outra vez, bilhões destinados à reforma agrária. Para começar, por que a espera pela ação mais intensa do MST? Além disso, os sem-terra estão escolados e escaldados o suficiente para saber que os bilhões dos discursos são fáceis, os de Lula como os de Fernando Henrique, mas só saem na TV, não saem do Tesouro Nacional. Daí, os bilhões que saem, muito maiores, são os que remuneram com os juros recordistas os possuidores de títulos da dívida governamental. São bilhões que têm o glorioso destino de aumentar a concentração da renda, de tornar os ricos mais ricos -outra especialidade do governo Lula e sua política econômica recessiva.
"No exterior é mais fácil encontrar empresários com maior confiança no Brasil do que os empresários daqui", foi uma de suas jóias verbais da semana. Vale, como as frases do subprocurador Santoro, por uma confissão de governo, além de estagnante, alienado. Pois é isso, sim. Governo que provoca recessão, como ficou atestado no menor PIB de 2003 em relação ao já ruim 2002, é antinacional, antipovo, antifuturo. É conservador do que há de pior, e por sê-lo deliberadamente é que se dedica a migalhas de caridade, porque não busca a construção de um cenário inovador. Assim é o governo de Lula, o conservador que substituiu o medo dos conservadores pela frustração dos demais.


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