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JANIO DE FREITAS
Lula, o conservador
O problema criado pelo vídeo de Waldomiro Diniz
tende, agora, a seguir vida própria, pelos gabinetes policiais e judiciais, sem levar a reboque o Palácio do Planalto. Foi este o presente involuntário dado a Lula e
a José Dirceu pelo subprocurador
que deixou gravada a confissão
do propósito, não só seu, de usar o
vídeo de Waldomiro Diniz para
"ferrar o chefe da Casa Civil, ou
seja, para derrubar o governo".
O subprocurador José Roberto
Santoro revelou-se um ás do tiro
pela culatra: além de acertar o
próprio peito, atingiu gravemente
a oposição que se animara com o
caso Waldomiro. Mas o alívio do
governo nesse caso não lhe é tão
favorável quanto devera. As três
pesquisas da semana passada demonstraram que, mesmo em plena ebulição do caso Waldomiro, o
que estava na cabeça da grande
maioria eram a política econômica e suas conseqüências desastrosas.
E por aí o governo vai de ruim a
pior. Não só porque dia a dia pingam notícias que comprovam o
arruinamento crescente trazido
pelo governo Lula: o Brasil, que
era a 8ª economia do mundo
quando Fernando Henrique assumiu, com ele caiu para 12ª e
com Lula já é a 15ª, o que expressa
o empobrecimento do país; em
2003, os brasileiros consumiram
menos R$ 26 bilhões do que em
2002, o que expressa o empobrecimento do padrão de vida da população, e assim em diante. Ou
melhor, abaixo.
O governo não reage ao alarme
das pesquisas? Claro que sim.
Com a renovação das demonstrações de suas características -a
ineficácia e o ilusionismo. Faz
uma solenidade, mais uma, para
lançar as bases de uma pretensa
política industrial. O que afinal
apresentou é tão preliminar e vago, que deveria ter surgido até o
segundo mês de governo, está
atrasado mais de ano. Nem a turma das palmas foi nessa.
O MST avisa a chegada do
"abril vermelho". O governo não
reage? Claro que sim. Mais discursos de Lula. Para anunciar,
outra vez, bilhões destinados à reforma agrária. Para começar, por
que a espera pela ação mais intensa do MST? Além disso, os
sem-terra estão escolados e escaldados o suficiente para saber que
os bilhões dos discursos são fáceis,
os de Lula como os de Fernando
Henrique, mas só saem na TV,
não saem do Tesouro Nacional.
Daí, os bilhões que saem, muito
maiores, são os que remuneram
com os juros recordistas os possuidores de títulos da dívida governamental. São bilhões que têm o
glorioso destino de aumentar a
concentração da renda, de tornar
os ricos mais ricos -outra especialidade do governo Lula e sua
política econômica recessiva.
"No exterior é mais fácil encontrar empresários com maior confiança no Brasil do que os empresários daqui", foi uma de suas
jóias verbais da semana. Vale, como as frases do subprocurador
Santoro, por uma confissão de governo, além de estagnante, alienado. Pois é isso, sim. Governo
que provoca recessão, como ficou
atestado no menor PIB de 2003
em relação ao já ruim 2002, é antinacional, antipovo, antifuturo.
É conservador do que há de pior, e
por sê-lo deliberadamente é que
se dedica a migalhas de caridade,
porque não busca a construção de
um cenário inovador. Assim é o
governo de Lula, o conservador
que substituiu o medo dos conservadores pela frustração dos demais.
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