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SOMBRA NO PLANALTO
Presidente acha que gravação de subprocurador negociando fita na qual Waldomiro pede propina é chance de Dirceu se recuperar
Para Lula, episódio Santoro é um "respiro"
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva terminou a semana dizendo
que o "episódio Santoro" deu ao
governo um "respiro" para tentar
superar o caso Waldomiro Diniz.
Também acha que é a melhor
chance de o ministro José Dirceu
(Casa Civil) se recuperar e continuar no posto.
Segundo a Folha apurou, Lula
julga que Dirceu ganhou oportunidade de ouro após a revelação
da gravação na qual o subprocurador da República José Roberto
Santoro pressionou Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a lhe dar a fita que detonou o caso Waldomiro Diniz.
Ao pressionar Cachoeira, Santoro disse que, se fossem surpreendidos pela chegada do procurador-geral da República, Claudio Fonteles, o encontro dos dois
seria interpretado como tentativa
de "ferrar" Dirceu. O governo
classificou o encontro Santoro-Cachoeira de "conspiração" e desencadeou uma contra-ofensiva
no caso Waldomiro.
Isso posto, não significa que Lula tenha dissipado todas as suas
dúvidas a respeito da conveniência de manter Dirceu na Casa Civil. O discurso público do governo é que Dirceu não sairá do governo e que nunca Lula cogitou
disso. Não é verdade. Pelo menos
por duas vezes, Dirceu esteve perto de deixar a Casa Civil.
Essa hipótese hoje é remota. Se
um dia ela se concretizar, o presidente deseja que seja a pedido de
Dirceu ou por um clima político
que o leve a solicitar a demissão.
A simples demissão de Dirceu é
tarefa complicada. Lula acha que,
pelo peso no PT e pela participação na sua eleição em 2002, um
Dirceu ferido poderia ser um inimigo feroz na Câmara dos Deputados, onde reassumiria a cadeira
de deputado federal por São Paulo. Dirceu poderia, por exemplo,
jogar o PT contra o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho, e
minar a política econômica.
Lula não se esquece de que saem
do PT os maiores ataques a Palocci e que precisaria articular o esvaziamento de Dirceu no PT.
Por isso, uma idéia que ficou na
cabeça de Lula é a de eventualmente tirá-lo do Palácio do Planalto. Insatisfeito com o desempenho de Humberto Costa na
Saúde, o presidente já pensou em
pôr Dirceu nesse posto, que é estratégico, mas que deixaria o Planalto fora da linha de tiro.
Carnaval em depressão
A primeira vez que Dirceu esteve perto de deixar o governo foi
no Carnaval, entre os dias 21 e 25
de fevereiro, quando o ministro
viajou para São Paulo e confessou
a amigos que achava melhor sair.
Ele já havia, no dia 16 de fevereiro,
colocado o cargo à disposição de
Lula. Naquele semana, ele alterou
momentos de depressão com
rompantes de raiva, nos quais levantava a voz e falava em sair.
Mas amigos e aliados do ministro da Casa Civil, entre os quais o
advogado Antonio Carlos de Almeida Castro e os senadores José
Sarney (PMDB-AP) e Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), o
persuadiram a ficar no cargo.
Naquele período da crise, que
começara em 13 de fevereiro com
a reportagem da revista "Época"
que trouxe o vídeo no qual Waldomiro pedia propina e contribuição de campanha a Cachoeira,
um assessor direto de Lula dizia
que a turbulência política duraria
apenas duas semanas, mas ela
continuou. O próprio governo
avalia que a crise começou a murchar mesmo na última terça-feira,
quando o "Jornal Nacional" da
Rede Globo trouxe à tona o "episódio Santoro".
Lula, porém, evita cantar vitória. Essa cautela foi decisiva para
que determinasse o afastamento
de Dirceu, ainda que temporário,
da articulação política. Lula o
quer fora dos holofotes, gerenciando os ministérios.
Antes do "episódio Santoro",
no dia 26 de março, Lula teve conversa dura com Dirceu. Deixou
claro que a chance de ele se salvar
seria mergulhar na coordenação
do governo -algo que o presidente desejava desde o fim de janeiro, quando fez a reforma ministerial e tirou da Casa Civil a articulação política. Em breve, Dirceu anunciará as novas regras das
agências reguladoras, num claro
gesto de que incorporou o papel
de "gerentão".
Datafolha
A segunda vez em que Dirceu
quase caiu foi na manhã de 2 de
março. A manchete da Folha era
uma pesquisa Datafolha: "Maioria quer afastamento de Dirceu,
mas poupa Lula". Lula leu e confidenciou a auxiliares que talvez
fosse a hora de adotar a saída
Henrique Hargreaves, referência
ao ex-ministro de Itamar Franco
que saiu do posto para responder
a acusações e retornou depois.
Segundo a pesquisa, 67% dos
entrevistados queriam o afastamento de Dirceu. Àquela altura, a
imagem de Lula ainda não havia
sido afetada, como foi agora.
Ao ver o Datafolha, Dirceu se
abateu. Mas, ao longo do dia, contou com um aliado inesperado.
Depois de prometer uma revelação bombástica contra o chefe da
Casa Civil, o senador Almeida Lima (PDT-SE) fez um discurso vazio e deu argumentos a favor de
suposta campanha para desestabilizar o governo e tirar Dirceu da
Casa Civil. Lula, então, desistiu da
"saída Hargreaves".
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