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Subprocurador-geral foi flagrado negociando com empresário de jogos a entrega de fita na qual Waldomiro Diniz cobra propina
Apuração sobre Santoro pode levar 1 ano
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O corregedor-geral do Ministério Público Federal, Wagner Gonçalves, disse que a investigação interna contra o subprocurador-geral da República José Roberto
Santoro e dois procuradores da
República no Distrito Federal poderá ser concluída somente daqui
a um ano, por causa de vários
procedimentos exigidos por lei,
mas que atrasam a tramitação.
Gonçalves afirmou que pretende conduzi-la com a maior rapidez possível e que a sindicância,
primeira etapa da investigação,
deverá ser realizada em apenas 20
dias. Ela foi aberta na quarta-feira,
um dia após a revelação de trechos da conversa de Santoro com
o empresário do jogo Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
"Eu pretendo agilizar o mais rapidamente possível. É preciso dar
uma resposta social para tranqüilidade interna e externa", disse à
Folha, em entrevista concedida
na manhã de sexta-feira.
Ele se recusou a fazer juízo de
mérito sobre a investigação contra Santoro e os procuradores
Marcelo Serra Azul e Mário Lúcio
Avelar, dizendo que a Lei Orgânica do Ministério Público Federal
exige o sigilo.
O objetivo da apuração é esclarecer se os três cometeram falta
funcional e faltaram com o dever
de lealdade à instituição quando
conduziram os primeiros passos
do caso Waldomiro Diniz sem informar a Fonteles nem mandá-lo
a colegas do Rio de Janeiro.
A conduta de Santoro na conversa com Cachoeira também será examinada, já que os trechos de
áudio divulgados pela TV Globo
sugerem a pressão dele para obter
uma fita que prejudicaria o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Gonçalves disse que, nesse caso,
não poderá sugerir a queima de
etapas de investigação. "O assunto é muito importante para o Ministério Público, porque está em
discussão o princípio do promotor natural, e é a primeira vez que
enfrentaremos para valer essa
questão." Pelo princípio do promotor natural, os procuradores
não escolhem que investigações
ficarão sob sua responsabilidade.
Amigo de políticos do PT, como
o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, Gonçalves negou que
esse vínculo possa interferir na
sua avaliação sobre a conduta dos
três procuradores.
Em 2003, ele foi um dos cotados
para a sucessão de Geraldo Brindeiro na função de procurador-geral, mas Lula nomeou Claudio
Fonteles, que o escolheu para a
Corregedoria em setembro.
Gonçalves defendeu o controle
externo da Justiça e do Ministério
Público, previstos na emenda
constitucional da reforma do Judiciário, que tramita no Senado.
O corregedor afirmou que, por
falta de estrutura e falhas na legislação, ninguém foi punido nos últimos dez anos. A principal razão
é que 85% dos casos são relativos
a faltas leves, puníveis com advertência ou censura, e que, por isso,
prescrevem em um ano, antes do
desfecho da apuração. Mas o corregedor pondera: "Se, em dez
anos, ninguém foi punido, então
tem uma falha aí".
Segundo ele, porém, a impunidade está deixando de ocorrer.
Sem citar o nome, ele disse que
um subprocurador-geral está pela
primeira vez sob risco de punição
grave. Trata-se de Miguel Guskow, acusado de ter usado o cargo
para dar garantia a uma operação
fraudulenta de US$ 1 bilhão com
títulos da dívida externa brasileira. Ele pode perder a aposentadoria por decisão judicial.
Rito
O corregedor poderá arquivar a
sindicância contra Santoro, Avelar e Serra Azul se achar que não
há irregularidades ou nomear
dois colegas para aprofundar,
com ele, a apuração em um inquérito administrativo, no qual
serão ouvidas as testemunhas.
O passo seguinte será a instauração do processo administrativo
pelo Conselho Superior do Ministério Público Federal se for o caso.
Nessa fase, os investigados terão
amplo direito de defesa.
Ao final, caberá ao conselho,
composto por dez subprocuradores-gerais, decidir se houve falta
funcional e aprovar determinada
punição se for o caso. A pena varia
de advertência à perda do cargo,
sendo que a punição mais dura
depende de decisão judicial.
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