São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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ELEIÇÕES 2004

Com popularidade em queda, presidente ficará distante do palanque da prefeita de SP; obras serão o mote principal

Lula será coadjuvante em campanha de Marta

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em queda e sua rejeição em São Paulo em alta, o PT pretende priorizar as obras da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, como mote de sua campanha à reeleição.
Disputa mais importante para o partido no país, a sucessão em São Paulo terá Lula como um participante indireto. Ele deve se manter distante de atos públicos de campanha da prefeita, mas sem que isso signifique não-engajamento.
Em vez de tentar pegar carona na imagem de Lula, o comando da campanha da petista à reeleição pretende concentrar o marketing eleitoral em projetos como os das escolas-modelos chamadas CEU, da revitalização do corredor viário e de moradias populares.
Os vínculos de Lula com Marta serão explorados, em especial a possibilidade de ganhos para São Paulo por ter uma prefeita do mesmo partido do presidente. Mas o que pesará na decisão do quanto e como ligar Marta a Lula será a taxa de rejeição do presidente no início da campanha.
Na eleição de 2000, Lula apareceu poucas vezes no programa de Marta, pois sua rejeição era maior do que a dela. Foi usado negativamente por Paulo Maluf, então principal adversário da petista, que colocou na TV vídeo em que Lula dizia que Pelotas (RS) era um "pólo exportador de veados".
Com três meses de governo Lula, 12% dos paulistanos reprovavam o presidente. Com dez meses de administração, 18% afirmavam que poderiam não votar em um candidato apoiado pelo presidente. Pesquisa Datafolha de 25 de março mostra que esse percentual já atingiu 26%.
A rejeição da prefeita está também alta. Segundo o Datafolha, 44% dos paulistanos dizem que não votariam em Marta de maneira alguma, e 38% reprovam sua administração.
A decisão sobre como Lula participará da campanha da prefeita depende do tamanho de ganhos e prejuízos que poderá trazer.
O publicitário Duda Mendonça comprometeu-se com Marta a cuidar pessoalmente do marketing eleitoral de sua campanha à reeleição. Ele acredita que a prefeita tem uma gestão fácil de "vender" e aposta no desempenho pessoal da petista. Conforme o Datafolha, 22% afirmam que a administração de Marta é ótima ou boa. Mas 34% declaram que o desempenho pessoal dela é ótimo ou bom. Esse é o percentual de votos ao qual os petistas acreditam que a prefeita pode atingir.
Até aqui as pesquisas eleitorais mostram Marta em uma situação desconfortável. Só lidera a disputa -mesmo assim em empate técnico com Luiza Erundina (PSB), atingindo 22% em sua melhor performance- em cenários sem a presença de Paulo Maluf e José Serra (PSDB) como candidatos.
Para os petistas, a candidatura de Maluf, a ser confirmada, pode ajudar Marta. O ex-prefeito inicia a campanha em um patamar alto e teria uma tendência a perder pontos durante a disputa. Mas ocuparia espaço que poderia impedir um eventual crescimento de um candidato tucano.
A candidatura Serra, na visão petista, só existirá se o ex-ministro enxergar condições de nacionalizar a disputa para confirmar-se como "liderança" de oposição a Lula. Derrotar o presidente em São Paulo seria capitalizar-se como o nome com chance de vencê-lo no pleito presidencial de 2006.
Mas o PT avalia que Marta tem hoje condições melhores para vencer do que tinha no início da campanha de 2000. A TV é uma peça-chave. Como prefeita, Marta possui a vantagem de uma exposição de mídia mesmo fora do horário eleitoral e terá desta vez um tempo de propaganda duas vezes superior ao de quatro anos atrás.
O número exato depende do total de candidatos a prefeito, o que só será conhecido em junho, mas o PT calcula que, confirmada a aliança com o PMDB, Marta pode ter algo próximo a 14 minutos diários na TV. Sem aliança, o PT teria oito minutos. Em 2000, o partido tinha seis minutos.
Sozinho, o PSDB terá algo perto de sei minutos do horário eleitoral. Aliando-se ao PFL, os tucanos teriam 11 minutos. O PP, de Maluf, ficaria perto de cinco minutos.
O PT pretende usar a vantagem de maior tempo na TV para mostrar programas bem avaliados de Marta na educação, no transporte e na habitação. As pesquisas mostram a saúde como a mais problemática de sua gestão.
Por ora, ataques diretos a adversários são descartados. O partido não pretende levar à TV as acusações contra Paulo Maluf, investigado sobre a manutenção de contas bancárias no exterior com dinheiro que supostamente viria do superfaturamento de obras públicas. O PT avalia que o discurso ético, que sempre foi usado pelo partido em campanhas eleitorais, sai prejudicado depois da eclosão do caso Waldomiro Diniz. Mas seu efeito tenderia a reduzir-se daqui por diante, acreditam.


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