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ELEIÇÕES 2004
Com popularidade em queda, presidente ficará distante do palanque da prefeita de SP; obras serão o mote principal
Lula será coadjuvante em campanha de Marta
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
queda e sua rejeição em São Paulo
em alta, o PT pretende priorizar
as obras da prefeita de São Paulo,
Marta Suplicy, como mote de sua
campanha à reeleição.
Disputa mais importante para o
partido no país, a sucessão em São
Paulo terá Lula como um participante indireto. Ele deve se manter
distante de atos públicos de campanha da prefeita, mas sem que
isso signifique não-engajamento.
Em vez de tentar pegar carona
na imagem de Lula, o comando
da campanha da petista à reeleição pretende concentrar o marketing eleitoral em projetos como os
das escolas-modelos chamadas
CEU, da revitalização do corredor
viário e de moradias populares.
Os vínculos de Lula com Marta
serão explorados, em especial a
possibilidade de ganhos para São
Paulo por ter uma prefeita do
mesmo partido do presidente.
Mas o que pesará na decisão do
quanto e como ligar Marta a Lula
será a taxa de rejeição do presidente no início da campanha.
Na eleição de 2000, Lula apareceu poucas vezes no programa de
Marta, pois sua rejeição era maior
do que a dela. Foi usado negativamente por Paulo Maluf, então
principal adversário da petista,
que colocou na TV vídeo em que
Lula dizia que Pelotas (RS) era um
"pólo exportador de veados".
Com três meses de governo Lula, 12% dos paulistanos reprovavam o presidente. Com dez meses
de administração, 18% afirmavam que poderiam não votar em
um candidato apoiado pelo presidente. Pesquisa Datafolha de 25
de março mostra que esse percentual já atingiu 26%.
A rejeição da prefeita está também alta. Segundo o Datafolha,
44% dos paulistanos dizem que
não votariam em Marta de maneira alguma, e 38% reprovam
sua administração.
A decisão sobre como Lula participará da campanha da prefeita
depende do tamanho de ganhos e
prejuízos que poderá trazer.
O publicitário Duda Mendonça
comprometeu-se com Marta a
cuidar pessoalmente do marketing eleitoral de sua campanha à
reeleição. Ele acredita que a prefeita tem uma gestão fácil de "vender" e aposta no desempenho
pessoal da petista. Conforme o
Datafolha, 22% afirmam que a
administração de Marta é ótima
ou boa. Mas 34% declaram que o
desempenho pessoal dela é ótimo
ou bom. Esse é o percentual de
votos ao qual os petistas acreditam que a prefeita pode atingir.
Até aqui as pesquisas eleitorais
mostram Marta em uma situação
desconfortável. Só lidera a disputa
-mesmo assim em empate técnico com Luiza Erundina (PSB),
atingindo 22% em sua melhor
performance- em cenários sem
a presença de Paulo Maluf e José
Serra (PSDB) como candidatos.
Para os petistas, a candidatura
de Maluf, a ser confirmada, pode
ajudar Marta. O ex-prefeito inicia
a campanha em um patamar alto
e teria uma tendência a perder
pontos durante a disputa. Mas
ocuparia espaço que poderia impedir um eventual crescimento de
um candidato tucano.
A candidatura Serra, na visão
petista, só existirá se o ex-ministro enxergar condições de nacionalizar a disputa para confirmar-se como "liderança" de oposição a
Lula. Derrotar o presidente em
São Paulo seria capitalizar-se como o nome com chance de vencê-lo no pleito presidencial de 2006.
Mas o PT avalia que Marta tem
hoje condições melhores para
vencer do que tinha no início da
campanha de 2000. A TV é uma
peça-chave. Como prefeita, Marta
possui a vantagem de uma exposição de mídia mesmo fora do horário eleitoral e terá desta vez um
tempo de propaganda duas vezes
superior ao de quatro anos atrás.
O número exato depende do total de candidatos a prefeito, o que
só será conhecido em junho, mas
o PT calcula que, confirmada a
aliança com o PMDB, Marta pode
ter algo próximo a 14 minutos
diários na TV. Sem aliança, o PT
teria oito minutos. Em 2000, o
partido tinha seis minutos.
Sozinho, o PSDB terá algo perto
de sei minutos do horário eleitoral. Aliando-se ao PFL, os tucanos
teriam 11 minutos. O PP, de Maluf, ficaria perto de cinco minutos.
O PT pretende usar a vantagem
de maior tempo na TV para mostrar programas bem avaliados de
Marta na educação, no transporte
e na habitação. As pesquisas mostram a saúde como a mais problemática de sua gestão.
Por ora, ataques diretos a adversários são descartados. O partido
não pretende levar à TV as acusações contra Paulo Maluf, investigado sobre a manutenção de contas bancárias no exterior com dinheiro que supostamente viria do
superfaturamento de obras públicas. O PT avalia que o discurso ético, que sempre foi usado pelo partido em campanhas eleitorais, sai
prejudicado depois da eclosão do
caso Waldomiro Diniz. Mas seu
efeito tenderia a reduzir-se daqui
por diante, acreditam.
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