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CASO SANTO ANDRÉ
Quebra de sigilo revela transferências de Sérgio Gomes da Silva para secretários e namorada de Daniel
Acusado fez repasses para conta de petistas
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A quebra do sigilo bancário do
empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do
assassinato do prefeito de Santo
André, Celso Daniel (PT), revela
transferências de valores para a
namorada do prefeito, para a irmã dela, para um deputado estadual do PT e para dois secretários
municipais da época.
É a primeira comprovação de
que recursos do empresário
-também acusado de participar
de esquema de arrecadação de
propina na prefeitura - foram
repassados para autoridades municipais e pessoas ligadas ao PT.
Entre os beneficiários, segundo
os documentos, estão também o
policial civil Sebastião Ramos Pereira e Fernando Donizete Ulbrich, ambos funcionários da Secretaria de Serviços Municipais de
Santo André, que era comandada
pelo vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT). Juntos, os dois
receberam cerca de R$ 218 mil.
A Folha teve acesso aos extratos
bancários de Gomes da Silva de
janeiro de 1997 a março de 2003.
Cópias dos cheques foram incluídas no 15º volume da ação criminal aberta contra o empresário. A
análise só foi possível após o juiz
Luiz Fernando Migliori Prestes,
de Itapecerica da Serra (SP), derrubar o sigilo do caso, no dia 30.
Além de responder pela morte
de Daniel, Gomes da Silva é acusado de integrar um esquema de
arrecadação de propina de empresários de ônibus na prefeitura.
Parte do dinheiro teria financiado
campanhas do PT, o que o partido
nega. Segundo o Ministério Público, Daniel foi morto por tentar
brecar o suposto esquema.
A documentação comprova que
o Gomes da Silva recebeu, em
conta no Banespa, R$ 100 mil de
empresários de ônibus. Foram diversos depósitos concentrados
em dezembro de 1998. No dia 31
daquele mês, ele depositou R$ 3
mil para Klinger.
Em janeiro e em fevereiro de
1999, o nome de Ivone de Santana, namorada de Daniel, consta
como "favorecida" em dois cheques, um de R$ 7.500 e outro de
R$ 2.500. O número da agência e
da conta corrente registrados foram confirmados por Ivone. Trata-se de uma conta pessoal dela.
Ainda em fevereiro daquele
ano, há um novo cheque de Gomes da Silva, desta vez para Michel René Mindrisz, secretário da
Saúde de Santo André e ex-marido de Ivone, de R$ 2.500.
Em março, a "favorecida" foi a
irmã de Ivone, a enfermeira Maria
José de Santana, com R$ 7,5 mil.
Entre os petistas beneficiados
está o deputado estadual Donisete
Braga, que recebeu R$ 12 mil pagos em três parcelas (entre abril e
junho de 1999). Os valores tiveram como destino duas contas
em nome do deputado, no Itaú e
na Nossa Caixa Nosso Banco.
Em entrevista à Folha, no final
de 2003, quando a ação ainda era
sigilosa, o deputado negou ter recebido valores de Gomes da Silva.
Ontem, por sua assessoria, disse
que não comentaria o caso.
O policial Sebastião Pereira, conhecido como Tião, e o assessor
Fernando Ulbrich, apesar de não
trabalharem com o empresário,
receberam R$ 112.394 e R$
105.890, respectivamente.
Nas ligações gravadas pela Polícia Federal logo após a morte de
Daniel, em janeiro de 2002, Tião e
Ulbrich conversam diariamente
com Klinger e Gomes da Silva.
Normalmente são incumbidos de
entregar documentos, comprar
lanches ou buscar alguém.
Um cheque de R$ 12 mil foi para
a empresa Projeção, que pertencia ao empresário Ronan Maria
Pinto, ex-sócio de Gomes da Silva
e também acusado de participar
do suposto esquema de propina.
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