São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Quebra de sigilo revela transferências de Sérgio Gomes da Silva para secretários e namorada de Daniel

Acusado fez repasses para conta de petistas

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A quebra do sigilo bancário do empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), revela transferências de valores para a namorada do prefeito, para a irmã dela, para um deputado estadual do PT e para dois secretários municipais da época.
É a primeira comprovação de que recursos do empresário -também acusado de participar de esquema de arrecadação de propina na prefeitura - foram repassados para autoridades municipais e pessoas ligadas ao PT.
Entre os beneficiários, segundo os documentos, estão também o policial civil Sebastião Ramos Pereira e Fernando Donizete Ulbrich, ambos funcionários da Secretaria de Serviços Municipais de Santo André, que era comandada pelo vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT). Juntos, os dois receberam cerca de R$ 218 mil.
A Folha teve acesso aos extratos bancários de Gomes da Silva de janeiro de 1997 a março de 2003. Cópias dos cheques foram incluídas no 15º volume da ação criminal aberta contra o empresário. A análise só foi possível após o juiz Luiz Fernando Migliori Prestes, de Itapecerica da Serra (SP), derrubar o sigilo do caso, no dia 30.
Além de responder pela morte de Daniel, Gomes da Silva é acusado de integrar um esquema de arrecadação de propina de empresários de ônibus na prefeitura. Parte do dinheiro teria financiado campanhas do PT, o que o partido nega. Segundo o Ministério Público, Daniel foi morto por tentar brecar o suposto esquema.
A documentação comprova que o Gomes da Silva recebeu, em conta no Banespa, R$ 100 mil de empresários de ônibus. Foram diversos depósitos concentrados em dezembro de 1998. No dia 31 daquele mês, ele depositou R$ 3 mil para Klinger.
Em janeiro e em fevereiro de 1999, o nome de Ivone de Santana, namorada de Daniel, consta como "favorecida" em dois cheques, um de R$ 7.500 e outro de R$ 2.500. O número da agência e da conta corrente registrados foram confirmados por Ivone. Trata-se de uma conta pessoal dela.
Ainda em fevereiro daquele ano, há um novo cheque de Gomes da Silva, desta vez para Michel René Mindrisz, secretário da Saúde de Santo André e ex-marido de Ivone, de R$ 2.500.
Em março, a "favorecida" foi a irmã de Ivone, a enfermeira Maria José de Santana, com R$ 7,5 mil.
Entre os petistas beneficiados está o deputado estadual Donisete Braga, que recebeu R$ 12 mil pagos em três parcelas (entre abril e junho de 1999). Os valores tiveram como destino duas contas em nome do deputado, no Itaú e na Nossa Caixa Nosso Banco.
Em entrevista à Folha, no final de 2003, quando a ação ainda era sigilosa, o deputado negou ter recebido valores de Gomes da Silva. Ontem, por sua assessoria, disse que não comentaria o caso.
O policial Sebastião Pereira, conhecido como Tião, e o assessor Fernando Ulbrich, apesar de não trabalharem com o empresário, receberam R$ 112.394 e R$ 105.890, respectivamente.
Nas ligações gravadas pela Polícia Federal logo após a morte de Daniel, em janeiro de 2002, Tião e Ulbrich conversam diariamente com Klinger e Gomes da Silva. Normalmente são incumbidos de entregar documentos, comprar lanches ou buscar alguém.
Um cheque de R$ 12 mil foi para a empresa Projeção, que pertencia ao empresário Ronan Maria Pinto, ex-sócio de Gomes da Silva e também acusado de participar do suposto esquema de propina.


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