RANIER BRAGON
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia antes da votação do projeto que permite um mandato extra às Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, os presidentes das duas Casas, deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e senador José Sarney (PMDB-AP), se reuniram em um café da manhã para demonstrar unidade de ação.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que derruba a proibição de os presidentes das Casas se reelegerem numa mesma legislatura deve ir a voto hoje na comissão especial da Câmara. A avaliação dos governistas é que ocorra uma fácil aprovação.
Sarney e João Paulo, beneficiários imediatos caso a reeleição seja permitida, trabalham nos bastidores pela aprovação do projeto, mas enfrentam a resistência da ala peemedebista liderada pelo senador Renan Calheiros (AL), que pleiteia a vaga de Sarney.
João Paulo repete insistentemente a políticos próximos que assegura a aprovação da PEC na Câmara. O problema seria o Senado, devido ao embate entre Sarney e Renan, que chegaram a discutir rispidamente na semana passada em uma reunião.
Os defensores da reeleição dizem que Sarney também estaria seguro da aprovação no Senado, apesar da oposição do senador alagoano. Uma das razões para esta avaliação é a de que 7 dos 13 senadores do PT teriam se comprometido a votar pela reeleição.
Semanas atrás, a bancada petista no Senado havia dado sinais de que votaria contra a proposta.
O ministro José Dirceu (Casa Civil) afirmou ontem que não tem interesse em deixar seu cargo para presidir a Câmara no ano que vem, como noticiou a imprensa.
Questionado se estava chateado com sua atual função, ausente da coordenação política do governo, Dirceu afirmou: "Passei 23 anos lutando para ser governo, como posso estar chateado? Estou muito bem no governo, muito feliz".
A pauta oficial do café da manhã foi a proposta complementar de reforma da Previdência. Os dois presidentes também acertaram ação conjunta neste ponto.
Os presidentes do Senado e da Câmara cumprem mandatos de dois anos cada um. A próxima eleição é em fevereiro de 2005. Desde 1969, é proibida constitucionalmente a reeleição dos integrantes das Mesas.
No ano passado, começou a tramitar projeto para derrubar essa proibição. O parecer do deputado Paes Landim (PTB-PI), que será votado hoje, restringe a recondução ao cargo a apenas uma vez.
"Pelas discussões travadas e as posições externadas, estou praticamente seguro de que a PEC será aprovada amanhã [hoje]", disse o presidente da comissão, deputado Arlindo Chinaglia (PT), que também é líder da bancada do PT.
O partido se reúne hoje para ver se fecha questão em torno da proposta, mas os petistas que integram a comissão são favoráveis à reeleição dos presidentes.

Partidos
Dos 32 integrantes da comissão, apenas 3 do PSDB, 1 do PC do B e outro do PDT devem votar contra. O PMDB pode não comparecer, como forma de evitar atrito com a Executiva Nacional, que decidiu na semana passada votar contra a proposta, fortalecendo a posição de Renan.
Apesar disso, o deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), ligado a Sarney, deve comparecer e votar a favor da PEC. A bancada de deputados peemedebista tende a apoiar a reeleição, em contraposição à bancada de senadores, mais influenciada por Renan.
Na votação em plenário, a tendência atual do PMDB é liberar o voto de seus filiados.


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