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ELIO GASPARI
Chega de sábios, precisa-se de bravatas
Viva o bravateiro. Viva o
vice-presidente José Alencar. É um prazer ouvi-lo: "Nunca houve na história do Brasil
maior transferência de renda
oriunda do trabalho em benefício do sistema financeiro".
Se Lula fizer com a banca metade do que vem fazendo com o
funcionalismo e com o pedaço
do PT que pensa como ele deixou de pensar, os juros cobrados à patuléia caem sem que seja necessário mexer na taxa Selic do governor Henrique Meirelles. Em abril Lula comemorou com uma festa no Planalto
a doação de R$ 13 milhões dos
"meus amigos da Febraban"
para as cisternas do Fome Zero.
Louvando as mudanças da vida, disse assim:
"Quem é que imaginava, há
dois meses, que a Febraban viria hoje dizer que iria começar
com um plano piloto de 10 mil
cisternas? Ninguém".
Muita vela para pouco lastro.
Banqueiro dá cisterna, panela,
até vestido de noiva, desde que
lhe dêem juros. R$ 13 milhões
são o equivalente ao que a Viúva paga a cada dois dias por
um só ponto percentual dos juros que o governo mantém a
26,5% ao ano. Noutra conta,
R$ 13 milhões equivalem a dois
dias do lucro do Bradesco durante os três primeiros meses de
governo de Lula.
Lula podia chamar a Febraban de volta ao Planalto para
saber por que a taxa anual de
juros de um cheque especial varia de 35% a 200%. Ou por que
a taxa de juros para uma empresa pode ir de 30% a 80%. Infelizmente, nos últimos nove
anos, sempre que se fala nisso,
quem sai em defesa dos juros
lunares é algum diretor do
Banco Central. Tudo seria culpa dos caloteiros. (Com frequência, quando esses sábios
da economia deixam o Banco
Central, aconchegam-se em casas de crédito.)
Admita-se que os caloteiros
são uma ameaça. A banca brasileira, protegendo-se dessa
praga, tem uma rentabilidade
superior à americana, inglesa e
espanhola. Adorável risco. Durante os oito anos de FFHH a
rentabilidade média da banca
foi de 24,5%. A dos outros (indústria, comércio e serviços) ficou em 5,6%. Nos primeiros
três meses de Lula a rentabilidade dos dois maiores bancos
brasileiros foi de corar tucano.
A do Bradesco ficou em 19%,
com R$ 508 milhões, e a do
Itaú, em 32%, com R$ 714 milhões.
Convertendo esse ervanário
ao petês federal, é coisa como 1
milhão de cisternas.
Por mais que os 26,5% do governor Meirelles sejam uma taxa indecente, Lula teve razão
quando mostrou a disparidade
entre a taxa básica do Banco
Central e o que se cobra à choldra. Resta-lhe ir à obra, sabendo que o negócio do governo
com a banca não é conseguir
cisternas filantrópicas, mas
descartelizar os juros e as taxas
cobrados à patuléia. É nesse tipo de desempenho que se pode
esperar aquilo que ele anunciou à Febraban como "um outro padrão de relacionamento
na sociedade brasileira".
Até agora, esse padrão tem levado o governo a buscar mais
dinheiro no bolso dos trabalhadores e algumas cisternas no
cofre dos banqueiros.
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