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IMPRENSA
Evento promovido pela Folha teve como tema lançamento de livro
Debate discute papel do jornalismo
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise econômica e as transformações por que passa o setor de
mídia pontuaram o debate, realizado no auditório da Folha na
noite de segunda-feira, a propósito do lançamento no Brasil de "Os
Elementos do Jornalismo - o que
os jornalistas devem saber e o público exigir", dos norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosentiel
(Geração Editorial).
Lançado nos EUA em 2001, o livro é resultado de mais de 3.000
entrevistas, a partir das quais os
autores procuraram montar um
painel sobre valores do jornalismo e a situação das empresas que
o produzem.
Fernando Rodrigues, repórter
da Sucursal de Brasília da Folha,
autor do prefácio à edição brasileira e mediador do debate, lembrou que este ocorreu no mesmo
dia em que, nos EUA, a agência
reguladora do setor de comunicações derrubou uma série de restrições à concentração de propriedade na mídia.
O repórter citou artigo no qual
Kovach e Rosentiel investigam as
consequências, para o jornalismo,
do fato de que hoje boa parte das
empresas da área pertence a grandes conglomerados nos quais a
produção de notícia está longe de
ser a atividade principal.
Para Marcelo Beraba, diretor da
Sucursal do Rio da Folha e um
dos participantes do evento, as dificuldades financeiras que atingem as empresas de comunicação
no Brasil obscurecem questionamentos a respeito da função social
da atividade jornalística.
O livro, em sua avaliação, expressa uma "angústia da credibilidade" que ainda não está disseminada no meio jornalístico brasileiro. "Ela existe, mas é pontual.
Ainda enxergamos principalmente o lado econômico da questão", disse.
Reinaldo Azevedo, diretor de
Redação da revista e do site "Primeira Leitura", enumerou três
dados a seu ver definidores do
jornalismo praticado hoje no Brasil: as dificuldades específicas do
setor de mídia, notadamente a
queda de receita publicitária, a
crise mais ampla da economia
brasileira e a chegada do PT ao
poder no plano federal. Ele destacou do livro a definição de que "a
primeira lealdade do jornalista é
para com a cidadania".
Também presente à mesa, Rolf
Kuntz, jornalista de "O Estado de
S. Paulo" e professor de filosofia
política da USP, tomou a pergunta inicial do livro ("para que serve
o jornalismo?") para observar que
"a resposta é menos simples do
que parece".
Prestar serviço não é só atender
à demanda de um determinado
público, afirmou. "Muitas vezes, a
informação relevante diz respeito,
mais diretamente, à vida de pessoas que não lêem o jornal."
Outras questões envolvidas em
"atender a demanda" preocupam
Franklin Martins, comentarista
político da TV Globo e da rádio
CBN e diretor de jornalismo da
TV Globo em Brasília.
Após destacar vários aspectos
que considerou relevantes no livro, destacou um ausente que, a
seu ver, é de grande importância:
o debate sobre a independência
em relação à opinião pública.
Ele disse que, muitas vezes, é
duramente criticado por telespectadores e ouvintes por levar ao ar
certas informações. Para Martins,
o jornalista que está seguro da
confiabilidade e relevância do que
apurou tem de resistir a essa pressão. "Lealdade para com a sociedade não é o mesmo que ser servil
à opinião pública", afirmou.
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