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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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IMPRENSA

Evento promovido pela Folha teve como tema lançamento de livro

Debate discute papel do jornalismo

DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica e as transformações por que passa o setor de mídia pontuaram o debate, realizado no auditório da Folha na noite de segunda-feira, a propósito do lançamento no Brasil de "Os Elementos do Jornalismo - o que os jornalistas devem saber e o público exigir", dos norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosentiel (Geração Editorial).
Lançado nos EUA em 2001, o livro é resultado de mais de 3.000 entrevistas, a partir das quais os autores procuraram montar um painel sobre valores do jornalismo e a situação das empresas que o produzem.
Fernando Rodrigues, repórter da Sucursal de Brasília da Folha, autor do prefácio à edição brasileira e mediador do debate, lembrou que este ocorreu no mesmo dia em que, nos EUA, a agência reguladora do setor de comunicações derrubou uma série de restrições à concentração de propriedade na mídia.
O repórter citou artigo no qual Kovach e Rosentiel investigam as consequências, para o jornalismo, do fato de que hoje boa parte das empresas da área pertence a grandes conglomerados nos quais a produção de notícia está longe de ser a atividade principal.
Para Marcelo Beraba, diretor da Sucursal do Rio da Folha e um dos participantes do evento, as dificuldades financeiras que atingem as empresas de comunicação no Brasil obscurecem questionamentos a respeito da função social da atividade jornalística.
O livro, em sua avaliação, expressa uma "angústia da credibilidade" que ainda não está disseminada no meio jornalístico brasileiro. "Ela existe, mas é pontual. Ainda enxergamos principalmente o lado econômico da questão", disse.
Reinaldo Azevedo, diretor de Redação da revista e do site "Primeira Leitura", enumerou três dados a seu ver definidores do jornalismo praticado hoje no Brasil: as dificuldades específicas do setor de mídia, notadamente a queda de receita publicitária, a crise mais ampla da economia brasileira e a chegada do PT ao poder no plano federal. Ele destacou do livro a definição de que "a primeira lealdade do jornalista é para com a cidadania".
Também presente à mesa, Rolf Kuntz, jornalista de "O Estado de S. Paulo" e professor de filosofia política da USP, tomou a pergunta inicial do livro ("para que serve o jornalismo?") para observar que "a resposta é menos simples do que parece".
Prestar serviço não é só atender à demanda de um determinado público, afirmou. "Muitas vezes, a informação relevante diz respeito, mais diretamente, à vida de pessoas que não lêem o jornal."
Outras questões envolvidas em "atender a demanda" preocupam Franklin Martins, comentarista político da TV Globo e da rádio CBN e diretor de jornalismo da TV Globo em Brasília.
Após destacar vários aspectos que considerou relevantes no livro, destacou um ausente que, a seu ver, é de grande importância: o debate sobre a independência em relação à opinião pública.
Ele disse que, muitas vezes, é duramente criticado por telespectadores e ouvintes por levar ao ar certas informações. Para Martins, o jornalista que está seguro da confiabilidade e relevância do que apurou tem de resistir a essa pressão. "Lealdade para com a sociedade não é o mesmo que ser servil à opinião pública", afirmou.


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