São Paulo, quinta, 4 de junho de 1998

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SUCESSÃO
26% dizem que não votariam em presidente de jeito nenhum; taxa de Lula é maior, de 30%, por motivos pessoais
Desemprego pesa mais na rejeição a FHC

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Os motivos que levam 26% do eleitorado a dizer que não votaria em Fernando Henrique Cardoso de jeito nenhum são, na sua grande maioria, ligados a problemas econômicos, como o desemprego, e a críticas à sua administração.
Já a rejeição de 30% dos eleitores a Luiz Inácio Lula da Silva é baseada, principalmente, em motivos pessoais e em discordâncias com sua posição política ou com o PT.
É o que mostra corte da pesquisa nacional Datafolha sobre as razões de rejeição aos candidatos favoritos na corrida presidencial.
O desemprego aparece como o principal motivo isolado da rejeição a FHC. De cada 3 eleitores que não votam no presidente, 1 diz que é por causa do aumento do desemprego. Muitos acham que o Plano Real fez crescer o problema.
Quem se queixa mais são os que têm renda familiar baixa.
Entre os excluídos Äpessoas de baixa renda e que estudaram no máximo até o 1º grauÄ, 24% dizem que não votam em FHC. Desses, 35% apontam o desemprego como principal motivo.
No grupo dos deslocados Äpessoas de baixa renda, mas que têm escolaridade médiaÄ, 36% rejeitam o presidente. Desses, pouco mais de um terço (36%) reclamam do aumento do desemprego.
Entre os eleitores com renda mais alta, a principal razão alegada para não votarem no presidente é a insatisfação com o governo.
Na média dos que rejeitam FHC, 31% apontam essa razão. Mas na elite (pessoas de renda e escolaridade altas) esse percentual é mais elevado: 44%.
Dizem que o presidente não faz um bom governo ou que fez promessas e não cumpriu.
É também na elite que há mais críticas às privatizações. De cada 4 eleitores da elite, 1 (27%) rejeita FHC. Desses, 13% apontam as privatizações como motivo.
Críticas à política econômica (21%) e reclamações contra os baixos salários (19%) aparecem como terceira e quarta principais razões da rejeição ao presidente.
No primeiro caso, são os excluídos que mais reclamam: 23% encontram na economia motivos para não votar no tucano. Afirmam, por exemplo, que o presidente diz que não há inflação, mas que os preços sobem. "Ninguém mais tem dinheiro", acrescentam.
Já as queixas contra o salário baixo são mais frequentes entre remediados (renda e escolaridade médias), deslocados e excluídos. Nesse item, aparecem também menções ao fato de o salário mínimo e o rendimento dos aposentados serem considerados baixos.
A imagem do presidente (17%) é o quinto principal motivo para sua rejeição. Os que mais reclamam são os remediados. Dizem que FHC beneficia mais os ricos, que ele viaja muito e que é prepotente.
Sua declaração chamando de "vagabundos" os que se aposentam com menos de 50 anos de idade também aparece como motivo alegado por 11% dos eleitores que rejeitam FHC para não votarem nele. Os excluídos são os mais revoltados com a frase.
Os batalhadores (renda alta e escolaridade baixa) que rejeitam o presidente têm percentuais mais altos do que os demais grupos nos motivos da rejeição ao presidente. Mas eles representam apenas 0,3% do eleitorado e, por isso, têm peso quase nulo na definição da eleição.

Lula
Se os motivos da rejeição a FHC são mais conjunturais e objetivos Äo que indica que, em tese, o presidente ainda poderia agir para diminuir sua rejeiçãoÄ, as causas que levam 30% do eleitorado a não votar em Lula são intrínsecas ao próprio candidato petista.
Sob esse aspecto, o desafio de Lula é mais difícil do que o do presidente. Para eliminar os motivos que levam quase um terço do eleitorado a rejeitá-lo, o petista precisaria mudar radicalmente a sua própria imagem.
Dos que rejeitam o petista, 36% não votam nele por motivos ligados à imagem. "Não tem cultura", "antipatizo com ele", "promete coisas que não pode cumprir" e "não gosto do jeito dele falar" são frases frequentes em todos os grupos sociais.
A posição política aparece logo a seguir: 35% dos que não votam de jeito nenhum no petista afirmam que ele é "agitador", "anarquista" e "baderneiro". São adjetivos mais comuns na boca de remediados e deslocados.
Entre os eleitores da elite que rejeitam Lula, destaca-se a antipatia pelo seu partido: 31% dizem que não gostam do PT e/ou que o partido é comunista ou radical.
Os batalhadores formam o grupo mais resistente ao petista. Não por acaso, é nesse segmento que FHC leva a maior vantagem sobre Lula na pesquisa de intenção de voto: tem 37% dos votos, contra 18% do candidato do PT.
Desses eleitores de renda alta e escolaridade baixa, 45% dizem não votar em Lula de jeito nenhum. Os principais motivos são antipatia pessoal, a idéia de que ele "não tem cultura", e a opinião de que ele é um "agitador".



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