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ANÁLISE
Serra é cobrado por falhas do governo
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando José Serra parecia ter
superado, com a ascensão nas
pesquisas eleitorais, o dilema de
"ser ou não ser governo", seus adversários deixaram claro que a
questão não será esquecida.
Lula, Ciro Gomes e Anthony
Garotinho usaram o debate da
Rede Record para associar o tucano ao que deu errado nos anos
FHC -com ênfase no saldo de
desempregados, em contraponto
aos postos de trabalho prometidos pela propaganda de Serra.
Mais do que interpelações duras
ao tucano, foram perguntas amenas entre os três que viabilizaram
a estratégia. Lula quis ouvir Garotinho sobre a dengue. Resposta,
réplica e tréplica somaram três
minutos de críticas ao governo federal e ao ex-ministro da Saúde.
O mesmo se deu quando o petista perguntou o que Ciro achava
das privatizações, ou quando este
pediu a opinião de Lula sobre desenvolvimento regional.
Ao apresentar "questão de ordem" contra a "tabelinha" adotada por seus oponentes, Serra ouviu de Boris Casoy que teria de se
conformar, pois o governo seria
"mencionado o tempo todo".
Adiante, Lula completou: "Você
tem o ônus de ser governo".
Faz parte do jogo que o candidato oficial, especialmente o de
uma administração desgastada,
queira apenas "discutir o futuro",
como disse Serra quando Garotinho lhe cobrou os desempregados de Fernando Henrique.
Assim como não espanta que os
candidatos de oposição procurem
fazer o contrário: passar em revista os insucessos do governo de
que o adversário faz parte.
Mais reveladora é a atuação
conjunta na noite de anteontem.
Ela indica que Serra se tornou
"perigo real e imediato", como diz
um título de filme. Há um mês, no
debate da Bandeirantes, dividia a
lanterna com Garotinho. Agora,
disputa palmo a palmo com Ciro
uma das vagas no segundo turno.
Mesmo Lula, que tudo indica
ser dono da outra, não foi o mesmo do confronto do início de
agosto. Continua à vontade, sem
dúvida, mas desceu um pouco das
alturas para bater pesado no governo. Tratou Serra como se esperasse encontrá-lo na etapa final.
O tucano foi ao debate preparado para apanhar, seja em razão de
sua subida recente, seja porque a
ordem sorteada dos perguntadores lhe era desfavorável (ficou por
último em quase todos os blocos,
sem chance de escolher o adversário para responder).
Considerando o ambiente hostil, Serra se saiu razoavelmente
bem. Foi bastante assertivo na
primeira resposta a Ciro -este
lhe cobrou a "campanha sórdida"
na TV, e o tucano, como que dobrando a aposta do adversário,
devolveu o golpe enumerando
episódios embaraçosos para o
candidato da Frente Trabalhista.
E, se é verdade que Lula foi mais
enfático do que antes contra o governo, também cabe notar que
Serra não se limitou a atacar Ciro,
sua tarefa mais urgente. Fustigou
Lula com a "dualidade" entre discurso e prática do PT, tecla que,
ao lado da "questão da experiência", deverá ser usada contra o petista no segundo turno caso o tucano saia vivo do duelo com Ciro.
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