São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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ANÁLISE

Serra é cobrado por falhas do governo

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando José Serra parecia ter superado, com a ascensão nas pesquisas eleitorais, o dilema de "ser ou não ser governo", seus adversários deixaram claro que a questão não será esquecida.
Lula, Ciro Gomes e Anthony Garotinho usaram o debate da Rede Record para associar o tucano ao que deu errado nos anos FHC -com ênfase no saldo de desempregados, em contraponto aos postos de trabalho prometidos pela propaganda de Serra.
Mais do que interpelações duras ao tucano, foram perguntas amenas entre os três que viabilizaram a estratégia. Lula quis ouvir Garotinho sobre a dengue. Resposta, réplica e tréplica somaram três minutos de críticas ao governo federal e ao ex-ministro da Saúde.
O mesmo se deu quando o petista perguntou o que Ciro achava das privatizações, ou quando este pediu a opinião de Lula sobre desenvolvimento regional.
Ao apresentar "questão de ordem" contra a "tabelinha" adotada por seus oponentes, Serra ouviu de Boris Casoy que teria de se conformar, pois o governo seria "mencionado o tempo todo". Adiante, Lula completou: "Você tem o ônus de ser governo".
Faz parte do jogo que o candidato oficial, especialmente o de uma administração desgastada, queira apenas "discutir o futuro", como disse Serra quando Garotinho lhe cobrou os desempregados de Fernando Henrique.
Assim como não espanta que os candidatos de oposição procurem fazer o contrário: passar em revista os insucessos do governo de que o adversário faz parte.
Mais reveladora é a atuação conjunta na noite de anteontem. Ela indica que Serra se tornou "perigo real e imediato", como diz um título de filme. Há um mês, no debate da Bandeirantes, dividia a lanterna com Garotinho. Agora, disputa palmo a palmo com Ciro uma das vagas no segundo turno.
Mesmo Lula, que tudo indica ser dono da outra, não foi o mesmo do confronto do início de agosto. Continua à vontade, sem dúvida, mas desceu um pouco das alturas para bater pesado no governo. Tratou Serra como se esperasse encontrá-lo na etapa final.
O tucano foi ao debate preparado para apanhar, seja em razão de sua subida recente, seja porque a ordem sorteada dos perguntadores lhe era desfavorável (ficou por último em quase todos os blocos, sem chance de escolher o adversário para responder).
Considerando o ambiente hostil, Serra se saiu razoavelmente bem. Foi bastante assertivo na primeira resposta a Ciro -este lhe cobrou a "campanha sórdida" na TV, e o tucano, como que dobrando a aposta do adversário, devolveu o golpe enumerando episódios embaraçosos para o candidato da Frente Trabalhista.
E, se é verdade que Lula foi mais enfático do que antes contra o governo, também cabe notar que Serra não se limitou a atacar Ciro, sua tarefa mais urgente. Fustigou Lula com a "dualidade" entre discurso e prática do PT, tecla que, ao lado da "questão da experiência", deverá ser usada contra o petista no segundo turno caso o tucano saia vivo do duelo com Ciro.



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