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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT
Com envolvimento de membros do Campo Majoritário em escândalo, disputa para presidência do partido deve ir a 2º turno em pelo menos 11 Estados
Crise afeta ala majoritária do PT em eleição
DA AGÊNCIA FOLHA
Com o envolvimento de membros do Campo Majoritário nos
escândalos da crise política, os
candidatos da tendência petista à
presidência dos diretórios estaduais do PT não devem repetir os
resultados das últimas eleições internas do partido, em 2001, quando o Campo Majoritário venceu
em 24 Estados. Neste ano, em pelo
menos 11 Estados a disputa só deve ser resolvida em um segundo
turno, com as tendências de esquerda do PT unidas contra o
candidato do Campo.
"[A eleição] não será a tranqüilidade que seria de se esperar tempos atrás", disse o deputado estadual Tadeu Veneri, candidato da
chapa Ação Popular Socialista à
presidência do diretório do Paraná, sobre a possibilidade de uma
vitória fácil de seu adversário André Vargas, candidato do Campo.
"Se considerarmos que os envolvidos do PT no escândalo que
levou à crise política são todos do
Campo Majoritário, há que se
imaginar que isso terá reflexo na
militância", disse Veneri.
A eleição para as presidências
estaduais do PT está marcada para o dia 18 -mesma data da eleição para a presidência nacional da
sigla. Se nenhum dos candidatos
tiver mais de 50% dos votos, os
dois mais votados disputam o segundo turno no dia 9 de outubro.
O envolvimento de nomes nacionais do Campo -como o ex-ministro José Dirceu, principal liderança da ala- e as críticas ao
"modelo centralizado de gestão"
adotado pela corrente levaram
muitos de seus candidatos a adotar um discurso de mudança.
"Defendo fazer uma nova maioria. É visível que há poucas divergências sobre o presente e sobre o
futuro [do partido], mas há avaliações muito duras sobre o passado", disse o ex-secretário Especial
de Diretos Humanos Nilmário
Miranda, que saiu do cargo para
disputar, pelo Campo, a presidência do PT em Minas Gerais.
A inscrição das chapas e dos
candidatos para os diretórios estaduais terminou em 20 de junho,
ainda no início da crise política.
Depois disso, candidatos e dirigentes do partido ligados ao Campo apareceram envolvidos no esquema de caixa dois ligado a Marcos Valério de Souza.
Na Bahia e no Distrito Federal,
houve troca dos candidatos envolvidos no escândalo. A estratégia do Campo foi substitui-los por
nomes históricos da sigla, capazes
de atrair os votos da militância.
"Eu não queria ser candidato,
mas, como fui deputado federal
por dois mandatos e, em 1994, o
mais votado em Brasília, meu nome era o mais positivo neste momento", disse o deputado distrital
Chico Vigilante, indicado para
disputar a presidência do diretório do PT-DF pelo Campo. Ele
substituiu Raimundo Júnior, que
apareceu na lista de beneficiários
dos repasses de Marcos Valério.
Na Bahia, onde o deputado federal Josias Gomes, ex-presidente
estadual do partido, também foi
citado na lista de Valério, o Campo Majoritário continua como
um dos favoritos na disputa.
"Nunca tivemos tanta chance
de derrotar o Campo, mas não dá
para dizer que eles não vão passar
para o segundo turno", disse Marcelino Galo, candidato da Articulação de Esquerda para a presidência do PT-BA. Para Robinson
Almeida, candidato da Democracia Socialista na Bahia, o Campo
Majoritário se mantém forte para
as eleições porque promoveu filiações em todo o Estado.
"Alguns filiados participam da
vida partidária, mas outros são
mobilizados só para votar. Boa
parte do apoio do Campo vem
deste perfil de filiado", disse Almeida. Para ele, a corrente no Estado tem apoio de cerca de 40%
das lideranças e militantes.
Pulverização
Apesar de a esquerda petista ter
lançado várias candidaturas concorrentes na disputa pelos diretórios estaduais, em um eventual segundo turno a tendência é que a
esquerda se junte para derrotar os
candidatos do Campo. Na opinião de alguns petistas ligados à
ala, a militância não vê as lideranças regionais da sigla como responsáveis pela crise nacional.
"O pessoal do PT de Goiás não
teve problema e a companheirada
não os vincula à crise", disse o secretário de Organização do PT,
Céser Donisete, ligado ao Campo.
Para Nazareno Santos, secretário de Organização do PT no Pará,
o escândalo do "mensalão" não
teve efeito na militância. O atual
presidente da sigla no Estado, deputado Paulo Rocha, está ameaçado de ter o mandato cassado
por aparecer na lista de Marcos
Valério como beneficiário de saques de um total de R$ 920 mil.
"Não haverá segundo turno
porque o Campo gira em torno do
Paulo Rocha, que na eleição de
2001 obteve 73% dos votos. (...) O
filiado sabe [sobre as denúncias],
mas a linha de pensamento interno é que o Paulo não fez nada de
errado", disse o secretário.
Para o presidente do PT-MS,
Mariano Cabreira, que rompeu
com o corrente e disputa a reeleição pela corrente moderada PT de
Luta e de Massas, as forças de centro do PT devem se reagrupar depois da eleição interna em torno
de novas lideranças. "O Campo
era organizado para dar governabilidade ao Dirceu. Ele aglutinou
as forças de centro do PT e, quando a corrente perde a referência,
ela desmancha."
(SÍLVIA FREIRE, KÁTIA BRASIL, MARI TORTATO, LÉO GERCHMANN E FÁBIO GUIBU)
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