São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Com envolvimento de membros do Campo Majoritário em escândalo, disputa para presidência do partido deve ir a 2º turno em pelo menos 11 Estados

Crise afeta ala majoritária do PT em eleição

DA AGÊNCIA FOLHA

Com o envolvimento de membros do Campo Majoritário nos escândalos da crise política, os candidatos da tendência petista à presidência dos diretórios estaduais do PT não devem repetir os resultados das últimas eleições internas do partido, em 2001, quando o Campo Majoritário venceu em 24 Estados. Neste ano, em pelo menos 11 Estados a disputa só deve ser resolvida em um segundo turno, com as tendências de esquerda do PT unidas contra o candidato do Campo.
"[A eleição] não será a tranqüilidade que seria de se esperar tempos atrás", disse o deputado estadual Tadeu Veneri, candidato da chapa Ação Popular Socialista à presidência do diretório do Paraná, sobre a possibilidade de uma vitória fácil de seu adversário André Vargas, candidato do Campo.
"Se considerarmos que os envolvidos do PT no escândalo que levou à crise política são todos do Campo Majoritário, há que se imaginar que isso terá reflexo na militância", disse Veneri.
A eleição para as presidências estaduais do PT está marcada para o dia 18 -mesma data da eleição para a presidência nacional da sigla. Se nenhum dos candidatos tiver mais de 50% dos votos, os dois mais votados disputam o segundo turno no dia 9 de outubro.
O envolvimento de nomes nacionais do Campo -como o ex-ministro José Dirceu, principal liderança da ala- e as críticas ao "modelo centralizado de gestão" adotado pela corrente levaram muitos de seus candidatos a adotar um discurso de mudança.
"Defendo fazer uma nova maioria. É visível que há poucas divergências sobre o presente e sobre o futuro [do partido], mas há avaliações muito duras sobre o passado", disse o ex-secretário Especial de Diretos Humanos Nilmário Miranda, que saiu do cargo para disputar, pelo Campo, a presidência do PT em Minas Gerais.
A inscrição das chapas e dos candidatos para os diretórios estaduais terminou em 20 de junho, ainda no início da crise política. Depois disso, candidatos e dirigentes do partido ligados ao Campo apareceram envolvidos no esquema de caixa dois ligado a Marcos Valério de Souza.
Na Bahia e no Distrito Federal, houve troca dos candidatos envolvidos no escândalo. A estratégia do Campo foi substitui-los por nomes históricos da sigla, capazes de atrair os votos da militância.
"Eu não queria ser candidato, mas, como fui deputado federal por dois mandatos e, em 1994, o mais votado em Brasília, meu nome era o mais positivo neste momento", disse o deputado distrital Chico Vigilante, indicado para disputar a presidência do diretório do PT-DF pelo Campo. Ele substituiu Raimundo Júnior, que apareceu na lista de beneficiários dos repasses de Marcos Valério.
Na Bahia, onde o deputado federal Josias Gomes, ex-presidente estadual do partido, também foi citado na lista de Valério, o Campo Majoritário continua como um dos favoritos na disputa.
"Nunca tivemos tanta chance de derrotar o Campo, mas não dá para dizer que eles não vão passar para o segundo turno", disse Marcelino Galo, candidato da Articulação de Esquerda para a presidência do PT-BA. Para Robinson Almeida, candidato da Democracia Socialista na Bahia, o Campo Majoritário se mantém forte para as eleições porque promoveu filiações em todo o Estado.
"Alguns filiados participam da vida partidária, mas outros são mobilizados só para votar. Boa parte do apoio do Campo vem deste perfil de filiado", disse Almeida. Para ele, a corrente no Estado tem apoio de cerca de 40% das lideranças e militantes.

Pulverização
Apesar de a esquerda petista ter lançado várias candidaturas concorrentes na disputa pelos diretórios estaduais, em um eventual segundo turno a tendência é que a esquerda se junte para derrotar os candidatos do Campo. Na opinião de alguns petistas ligados à ala, a militância não vê as lideranças regionais da sigla como responsáveis pela crise nacional.
"O pessoal do PT de Goiás não teve problema e a companheirada não os vincula à crise", disse o secretário de Organização do PT, Céser Donisete, ligado ao Campo.
Para Nazareno Santos, secretário de Organização do PT no Pará, o escândalo do "mensalão" não teve efeito na militância. O atual presidente da sigla no Estado, deputado Paulo Rocha, está ameaçado de ter o mandato cassado por aparecer na lista de Marcos Valério como beneficiário de saques de um total de R$ 920 mil.
"Não haverá segundo turno porque o Campo gira em torno do Paulo Rocha, que na eleição de 2001 obteve 73% dos votos. (...) O filiado sabe [sobre as denúncias], mas a linha de pensamento interno é que o Paulo não fez nada de errado", disse o secretário.
Para o presidente do PT-MS, Mariano Cabreira, que rompeu com o corrente e disputa a reeleição pela corrente moderada PT de Luta e de Massas, as forças de centro do PT devem se reagrupar depois da eleição interna em torno de novas lideranças. "O Campo era organizado para dar governabilidade ao Dirceu. Ele aglutinou as forças de centro do PT e, quando a corrente perde a referência, ela desmancha." (SÍLVIA FREIRE, KÁTIA BRASIL, MARI TORTATO, LÉO GERCHMANN E FÁBIO GUIBU)

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