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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RETÓRICA DA CRISE
Presidente afirma que não sobe em palanque para "contar mentiras" e "fazer promessas"
Lula diz que, por não ser "duas caras", apanha muito
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A ANGICOS
No momento em que enfrenta
uma queda de popularidade nas
pesquisas e vê o governo federal
diante de sua pior crise política, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em Angicos
(RN), que sempre "apanhou"
muito pelo fato de não ser um político de "duas caras". E disse à
população que não esperem dele
um presidente que sai de palanque em palanque contando "promessas" e "mentiras".
As declarações ocorreram em
discurso de 42 minutos, diante de
cerca de 3.000 alunos, jovens e
adultos do Rio Grande do Norte,
recém-formados pelo programa
Brasil Alfabetizado (criado em
2003 pelo governo federal).
"Eu apanhei muito neste país.
Apanhei muito por não querer ser
um político de duas caras, aquele
que chegava ao Ceará e falava ser
favorável à transposição do rio
São Francisco, chegava ao Rio
Grande do Norte e dizia ser favorável, em Sergipe dizia não ter
uma posição definida e chegava à
Bahia e dizia ser contra", afirmou
o presidente, em fala de improviso, arrancando aplausos dos presentes.
Mais tarde, voltou ao tema, desta vez com o gancho da construção de uma refinaria de petróleo
no Nordeste. Pernambuco e Rio
Grande do Norte travam um duelo nos bastidores para receber as
obras. "Eu não vou chegar em cada palanque e contar uma promessa e uma mentira. Não esperem, não esperem, até porque,
quando eu deixar a Presidência,
vocês farão parte dos companheiros que eu vou continuar encontrando neste país afora."
Usando um boné branco do
evento, o presidente demonstrou
irritação com as seguidas vaias
dos presentes a alguns políticos
locais presentes, como os senadores Fernando Bezerra (PTB) e Garibaldi Alves (PMDB) e a governadora Wilma de Faria (PSB),
que, ao discursar, disse que Lula
"vai conseguir sair dessa crise como um grande vitorioso por ser
um homem honesto".
Lula aproveitou o início de sua
fala para demonstrar sua insatisfação com as vaias.
"Não tem nada mais desagradável para mim, como presidente da
República, de vir a uma festa que
não é nossa, não é de nenhum
partido, não é de nenhuma religião, mas é do povo mais humilde
desse país. E as autoridades que
venham participar, seja do PT ou
não, sejam vaiadas. É que nós precisamos aprender a distinguir
quando a gente está numa manifestação política ou quando a gente está num ato como esse."
Durante o evento, Lula entregou diplomas a cerca de 20 alunos
formados pelo programa de alfabetização do governo federal. Entre eles, a agricultora Maria Leonor Freitas do Nascimento, de 103
anos. Ela abraçou o presidente,
cumprimentou os ministros e foi
aplaudida.
No palanque, bem-humorado,
Lula distribuiu autógrafos e ganhou um par de chinelos de couro
de presentes.
Mudança de agenda
O presidente cancelou a visita
que faria a Natal (RN), prevista
para ontem, e para Belo Horizonte (MG), onde iria amanhã. Também mudou o destino do seu descanso hoje. Ao invés de viajar para São Bernardo do Campo (SP),
voltou à Brasília. Não está descartada a ida do presidente ao jogo
de futebol entre Brasil e Chile, válido pelas eliminatórias da Copa
da Alemanha, que acontece hoje
na capital federal.
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