|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Marcos Nobre
A imagem do dinheiro
O SEGUNDO TURNO
não servirá para
"aprofundar as propostas", "discutir o país" ou
qualquer outro desses clichês habituais. A campanha
foi ruim e não vai melhorar.
Alckmin até agora não disse
a que veio. E vai continuar
assim, porque nada tem
mesmo a dizer. Lula vai
continuar na campanha
plebiscitária de aprovação
do seu governo. Não vai
além disso.
É esse o sentido do instituto da reeleição. O que está
em jogo é uma aprovação
ou uma reprovação do governo em curso. O governo
do candidato à reeleição estabelece a pauta de discussão. Quanto mais altos os
níveis de aprovação do seu
governo, maior a capacidade do candidato à reeleição
de estabelecer a agenda da
eleição.
Alckmin está obrigado a
discutir o governo Lula.
Mas não conseguiu dizer
nada de relevante até agora.
Quando muito, disse que faria exatamente as mesmas
coisas só que melhor. Não
colaborou para a qualificação do debate eleitoral.
Sua candidatura vive da
rejeição a Lula e dos repetidos escândalos de banditismo político. De positivo,
conta com o apoio envergonhado de lideranças tucanas e pefelistas. Não dá para
ganhar eleição assim. Nem
para melhorar nível de
campanha.
Uma parte importante
das decisões de voto de última hora foi simplesmente
expressão da vontade de
realização do segundo turno e não o resultado de um
entusiasmo repentino com
a candidatura Alckmin.
O que mais se ouve é que
o segundo turno veio do
dossiê, da ausência no debate e da imagem do dinheiro. Em 2002, também se
disse que a imagem do dinheiro tinha causado a derrocada da candidatura presidencial de Roseana Sarney. Mas é difícil imaginar
que a foto de um monte de
maços de notas possa realmente ser decisiva.
Se há imagem que levou
ao segundo turno foi a de
um persistente descontrole
da máquina petista. A possibilidade de que os esquemas mafiosos persistam e
possam vir a ter influência
num eventual segundo
mandato foi decisiva aos rumos da votação de 1º de outubro. A tarefa de Lula nas
próximas semanas é convencer o eleitorado de que o
banditismo partidário será
banido.
Mais que isso, Lula terá
de convencer esse eleitorado que não o rejeita, mas lhe
é ainda resistente de que
seu próximo governo não se
confundirá com o PT. Para
isso, será obrigado a mostrar afinal qual arco de
alianças pretende construir
no segundo mandato. Vai
ter de colocar na mesa as
cartas que pretendia guardar na manga de uma vitória em primeiro turno. Essa
vai ser a verdadeira novidade dessa nova etapa da campanha e, talvez, um ganho
para o debate político.
Nenhuma candidatura
conseguiu abalar o pilar da
campanha à reeleição: o de
que não haveria de fato opção melhor ao governo Lula. Alckmin depende do noticiário policial para manter
viva sua candidatura. E
imagens, mesmo de dinheiro, passam.
MARCOS NOBRE é professor de filosofia
política da Unicamp e pesquisador do Cebrap
Texto Anterior: Saiba mais: Peemedebista sofre declínio político no Rio Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: Alckmin afirma que Lula está à sua direita e defende o fim da reeleição Índice
|