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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Visões reduzidas

Às vezes, e com frequência cada vez maior, é preciso suspeitar que os principais dirigentes do governo não percebem mais as contradições em que estão envolvidos. Ou pelas sensações excessivas do seu êxito eleitoral e social, ou pela idéia inflada que façam da sua condição de portadores do poder, sabe-se lá se ainda por outras causas, suas percepções parecem perturbadas por uma catarata mental que desfoca e desfigura até obviedades.
A presença inicial é muito bem percebida. Como se nota de observações à maneira desta, feita por Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada: "Em nome de uma integração necessária do Brasil no mundo, governantes tornaram nosso país extremamente vulnerável aos movimentos capitais especulativos e às pressões das forças políticas que os sustentam".
A imagem inicial está adequadamente captada. Mas trazê-la ao foco necessário, a imagem nas formas e cores atualizadas e nítidas, isso não ocorre. "Tornaram nosso país extremamente vulnerável", sim, mas o que foi feito, ao longo deste ano que vai chegando ao fim, para acabar de fato com tal vulnerabilidade? Ou o que a mais ameaça com vulnerabilidade do que economia estagnada e, portanto, dependente de grandes empréstimos sempre repetidos e da sedução de "investimentos" estrangeiros, com juros recordistas que mais aprofundam o círculo vicioso da estagnação econômica?
É o Lula ainda em campanha. Não, não é só isso. Nem só ele. José Dirceu, também com plenas condições para representar o governo, na mesma ocasião constatava que o crescimento de 1% neste ano não atende ao que chamou de "urgência dos famintos e dos miseráveis". E concluía: "O tempo conspira contra nós". E quem, senão o núcleo do governo integrado também por José Dirceu, emparedou-se contra o exame de qualquer sugestão de política que, sendo antiinflacionária, estimulasse crescimento menos imoral do que o aceito pelo governo?

Luzes
A ministra Dilma Roussef (Minas e Energia) oferece pormenorizadas explicações, aqui necessariamente sintetizadas, para dados e críticas publicados em nota no domingo.
Sobre a estudada compra de energia argentina, ao dobro do preço brasileiro, para Estados do Sul, não há risco de racionamento, porque há sobra de energia térmica. Na ordem de preferências para socorrer-se de baixa excessiva dos reservatórios, como a provocada pela seca anormal do rio Iguaçu, energia hídrica tem precedência, por seu melhor preço, sobre a térmica. No caso, é a energia hídrica argentina. Chuvas já melhoram os reservatórios.
Sobre a futura compra, pela Light, de energia muito mais cara que a ofertada por Furnas, com mais um aumento de custo para os consumidores, a legislação decorrente da privatização concedeu às distribuidoras, como a Light, o direito de comprar até 30% da energia em produtoras suas, com base em um "preço teórico" ainda por cima premiado com 11,5% de bônus.
Sobre os serviços da Light, estão, de fato, entre os piores. A empresa serviu de plataforma para a compra da Eletropaulo, por R$ 1 bilhão, ainda não quitados, em prejuízo do investimento em seus serviços. Suas falhas já lhe causaram R$ 25 milhões em multas, neste ano.
Uma novidade: até o fim deste ano deve ser apresentado um novo modelo para o sistema energético, do qual, segundo o previsto, decorrerá certa proteção para o consumidor domiciliar.

Saneamento
Pelos próximos 12 dias, este espaço estará entregue a melhor sorte que a habitual.


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