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OPERAÇÃO ANACONDA
Rocha Mattos quer usar tempo livre para preparar defesa
Juiz acusado pede férias e diz pretender se aposentar
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz federal João Carlos da
Rocha Mattos, 55, entrou com pedido de férias de 30 dias, ontem,
no Tribunal Regional Federal.
"Pretendo queimar todas as férias
a que tenho direito." Rocha Mattos e os colegas Ali e Casem Mazloum são acusados pelo Ministério Público Federal de formação
de quadrilha, falsidade ideológica,
prevaricação e ameaça.
O juiz afirma que vai "aproveitar esse período" para cuidar de
sua defesa e para dar maior atenção aos filhos. "Eles estão desesperados." Rocha Mattos esteve
ontem na sede do Tribunal Regional Federal, na avenida Paulista,
onde foi recebido pela presidente
do TRF, Ana Maria Pimentel, em
companhia dos desembargadores
Newton de Lucca e Ramza Tartuce. Rocha Mattos diz que os três
desembargadores ouviram seu
relato, no gabinete da presidência,
sem fazer comentário.
O juiz diz que foi levar documentos sobre a presença do agente federal César Herman Rodriguez na Justiça Federal. Ele sustenta que o agente Rodriguez não
estava à disposição de seu gabinete. O juiz afirma que aproveitou o
encontro para fazer "um relato
sobre fato sigiloso envolvendo o
diretor-geral da Polícia Federal,
Paulo Lacerda".
Rocha Mattos também esteve
na sede da Procuradoria Regional
da República, onde tentou encontrar-se com a procuradora regional da República Janice Ascari,
uma das coordenadoras das investigações realizadas pelo Ministério Público Federal, com apoio
da Polícia Federal. A procuradora
não o recebeu. "Recebi o recado,
por funcionários, de que ela estava em reunião com outro procurador", disse o juiz.
Rocha Mattos diz que "estuda a
possibilidade de se aposentar".
Segundo ele, já estava em seus
planos pedir aposentadoria.
O juiz declarou que, no final de
semana, releu cópia de representação que havia obtido no TRF, na
última sexta-feira, sobre as acusações que lhe são feitas. "Há uma
parafernália, sem vínculo nenhum", diz. "A Polícia Federal interpretou trechos isolados das
gravações", diz.
No final de semana, o magistrado esteve novamente com sua ex-mulher, Norma Cunha, que está
presa na Polícia Federal. "Ela está
preocupada, muito triste", disse,
"pois passou por uma violência
muito grande", afirma.
Rocha Matos declarou que irá
depor, "sem nenhum constrangimento", se for convocado pela
CPI da Pirataria: "Acho ótimo. Se
o tribunal autorizar, vou depor,
sem problemas. Estou à disposição". "Só não falarei sobre o que
está sob sigilo. Isso não me causa
nenhum constrangimento."
CPI da Pirataria
A CPI da Pirataria da Câmara
Federal quer convocar os três juízes denunciados pelo Ministério
Público Federal sob acusação de
acobertar uma rede de criminosos. O presidente da comissão,
deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP) disse, no entanto, que
ainda não definiria datas para os
depoimentos porque é necessário
colher mais provas.
Ontem a comissão ouviu o delegado da Polícia Federal Gilberto
Aparecido Américo, que chefiava
a Delecoi (Delegacia de Crime Organizado e Inquéritos Especiais)
de São Paulo, antes de se aposentar. Foi o primeiro testemunho
sobre os juízes denunciados.
Américo disse que foi perseguido pelo juiz federal Ali Mazloum
após descobrir pistas da ligação
dele com um suposto doleiro.
O caso começa em 98, quando
policiais chefiados pelo delegado
apreenderam um computador e
prenderam Renato Alencar Esteves Arrais, por decisão do próprio
magistrado -juiz natural do caso. O detido tinha um esquema de
captação de dinheiro para investimentos que pode ter lesado cerca
de 400 pessoas. No notebook,
Américo diz ter encontrado o nome do juiz, incluído em uma relação de supostos clientes, cujos dados teriam sido lançados em 95.
Não se tratava de dado contábil.
A partir disso, segundo o delegado, o juiz comandou uma investigação contra ele, por suposto
envolvimento com o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho Barcelona, arquivada depois
em abril de 2001. "É lícito concluir
que fui vítima de uma conspiração", disse o delegado, que chegou a ser preso por decisão do
magistrado. Na época, o policial
não pediu a abertura de investigação contra Ali Mazloum.
Américo relacionou várias investigações que fez à frente da Delecoi sobre contrabandistas, que
agora serão reavaliadas pela CPI,
assim como a possível ligações
deles com os juízes. "Eu fui perseguido", disse o delegado.
Colaboraram FABIANE LEITE e ALESSANDRO SILVA, da Reportagem Local
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