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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Rocha Mattos quer usar tempo livre para preparar defesa

Juiz acusado pede férias e diz pretender se aposentar

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, 55, entrou com pedido de férias de 30 dias, ontem, no Tribunal Regional Federal. "Pretendo queimar todas as férias a que tenho direito." Rocha Mattos e os colegas Ali e Casem Mazloum são acusados pelo Ministério Público Federal de formação de quadrilha, falsidade ideológica, prevaricação e ameaça.
O juiz afirma que vai "aproveitar esse período" para cuidar de sua defesa e para dar maior atenção aos filhos. "Eles estão desesperados." Rocha Mattos esteve ontem na sede do Tribunal Regional Federal, na avenida Paulista, onde foi recebido pela presidente do TRF, Ana Maria Pimentel, em companhia dos desembargadores Newton de Lucca e Ramza Tartuce. Rocha Mattos diz que os três desembargadores ouviram seu relato, no gabinete da presidência, sem fazer comentário.
O juiz diz que foi levar documentos sobre a presença do agente federal César Herman Rodriguez na Justiça Federal. Ele sustenta que o agente Rodriguez não estava à disposição de seu gabinete. O juiz afirma que aproveitou o encontro para fazer "um relato sobre fato sigiloso envolvendo o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda".
Rocha Mattos também esteve na sede da Procuradoria Regional da República, onde tentou encontrar-se com a procuradora regional da República Janice Ascari, uma das coordenadoras das investigações realizadas pelo Ministério Público Federal, com apoio da Polícia Federal. A procuradora não o recebeu. "Recebi o recado, por funcionários, de que ela estava em reunião com outro procurador", disse o juiz.
Rocha Mattos diz que "estuda a possibilidade de se aposentar". Segundo ele, já estava em seus planos pedir aposentadoria.
O juiz declarou que, no final de semana, releu cópia de representação que havia obtido no TRF, na última sexta-feira, sobre as acusações que lhe são feitas. "Há uma parafernália, sem vínculo nenhum", diz. "A Polícia Federal interpretou trechos isolados das gravações", diz.
No final de semana, o magistrado esteve novamente com sua ex-mulher, Norma Cunha, que está presa na Polícia Federal. "Ela está preocupada, muito triste", disse, "pois passou por uma violência muito grande", afirma.
Rocha Matos declarou que irá depor, "sem nenhum constrangimento", se for convocado pela CPI da Pirataria: "Acho ótimo. Se o tribunal autorizar, vou depor, sem problemas. Estou à disposição". "Só não falarei sobre o que está sob sigilo. Isso não me causa nenhum constrangimento."

CPI da Pirataria
A CPI da Pirataria da Câmara Federal quer convocar os três juízes denunciados pelo Ministério Público Federal sob acusação de acobertar uma rede de criminosos. O presidente da comissão, deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP) disse, no entanto, que ainda não definiria datas para os depoimentos porque é necessário colher mais provas.
Ontem a comissão ouviu o delegado da Polícia Federal Gilberto Aparecido Américo, que chefiava a Delecoi (Delegacia de Crime Organizado e Inquéritos Especiais) de São Paulo, antes de se aposentar. Foi o primeiro testemunho sobre os juízes denunciados.
Américo disse que foi perseguido pelo juiz federal Ali Mazloum após descobrir pistas da ligação dele com um suposto doleiro.
O caso começa em 98, quando policiais chefiados pelo delegado apreenderam um computador e prenderam Renato Alencar Esteves Arrais, por decisão do próprio magistrado -juiz natural do caso. O detido tinha um esquema de captação de dinheiro para investimentos que pode ter lesado cerca de 400 pessoas. No notebook, Américo diz ter encontrado o nome do juiz, incluído em uma relação de supostos clientes, cujos dados teriam sido lançados em 95. Não se tratava de dado contábil.
A partir disso, segundo o delegado, o juiz comandou uma investigação contra ele, por suposto envolvimento com o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho Barcelona, arquivada depois em abril de 2001. "É lícito concluir que fui vítima de uma conspiração", disse o delegado, que chegou a ser preso por decisão do magistrado. Na época, o policial não pediu a abertura de investigação contra Ali Mazloum.
Américo relacionou várias investigações que fez à frente da Delecoi sobre contrabandistas, que agora serão reavaliadas pela CPI, assim como a possível ligações deles com os juízes. "Eu fui perseguido", disse o delegado.


Colaboraram FABIANE LEITE e ALESSANDRO SILVA, da Reportagem Local


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