São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2005

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VÔO DA ÁGUIA

População de maior poder aquisitivo deixou Mar del Plata; os que ficaram têm medo de atentado e piqueteiros

Comércio teme visita, e elite deixa a cidade

MAELI PRADO
ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA

Sem trabalho há 13 anos, Claudio Cabilla, 33, vive dos 150 pesos mensais de um dos planos sociais do governo argentino e não sabe que a geração de empregos nos países em desenvolvimento, como a Argentina, é o tema da 4ª Cúpula das Américas, que acontece a partir de hoje na cidade onde vive, o balneário Mar del Plata (a 400 km de Buenos Aires).
O que sabe é que tem medo de um possível atentado na cidade por conta da presença no encontro do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e que, como boa parte dos argentinos, não gosta do mandatário americano. "Ele pode até melhorar as coisas por lá, mas para as pessoas daqui não faz nada", diz, afirmando estar receoso de um possível ataque a cidade nos moldes do 11 de Setembro, nos EUA.
As ruas da favela onde mora, a alguns quarteirões do local onde ocorre a 3ª Cúpula dos Povos (a chamada "anticúpula"), estão desertas por causa da Cúpula das Américas, assim como boa parte dos outros bairros de Mar del Plata, geralmente lotada de turistas.
Muitos comerciantes fecharam as portas por causa do encontro, com receio de um eventual quebra-quebra nas marchas em repúdio à visita do presidente americano e contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) que ocorrerão principalmente hoje. Alguns colocaram grades ou chapas de ferro nas vitrines para protegê-las dos protestos, assim como bancos americanos e a rede de lanchonetes McDonald's.
Além disso, parte dos moradores, os de maior poder aquisitivo, deixou a cidade para escapar do forte esquema de segurança montado pelo governo argentino -a estimativa é que são 7.000 homens na cidade.
Quem mora próximo aos hotéis onde ocorrem as reuniões e onde fica a sala de imprensa montada para os cerca de mil jornalistas precisou se credenciar para sair e entrar da área.
"Por um lado é bom, já que é como uma semana de férias. Muita gente viajou para o Brasil por causa da cúpula", conta a dona-de-casa Mabel Martinez, 49.
Os moradores temem o que pode acontecer por causa do encontro, seja um atentado terrorista ou confusões causadas por protestos, sensação aumentada pelos policiais vestidos de negro que circulam em motocicletas pelas ruas.
"O medo das pessoas é dos piqueteiros. Por isso é que o comércio colocou as grades", opina o taxista Antonio Fernandez, 58. "Não tem porque acontecer um atentado aqui, a Argentina é um país neutro internacionalmente."

Arsenal
Anteontem, um homem que tinha na sua casa em Mar del Prata várias armas de fogo sem autorização foi detido pela polícia. Foram achados seis escopetas, várias carabinas, pistolas e revólveres, além de 10.000 cartuchos de munição. O preso foi detido sob a acusação de posse ilegal de armas de fogo e munição.
Além da marcha principal da Cúpula dos Povos, que ocorre hoje e deve ter presença do ex-jogador Diego Maradona e do presidente venezuelano, Hugo Chávez, acontecerá uma manifestação de piqueteiros mais radicais, que não são alinhados ao governo argentino. É esse protesto que provoca os maiores temores de enfrentamento com a polícia.
A marcha principal, com presença prevista pelos organizadores de 70 mil pessoas, é organizada por um deputado kirchnerista, Miguel Bonasso, o que fez um dos piqueteiros mais radicais classificá-la de "uma palhaçada" da chancelaria argentina.


Com agências internacionais


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