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Troca de acusações marca eleição na AMB
Oposição acusa candidato de Collaço, presidente da entidade de magistrados, de uso da máquina; situação vê defesa de nepotismo
Disputa no dia 9 deve ter como vencedor o juiz Mozart Valadares, da situação, que tem o apoio da maioria em associações dos Estados
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem se surpreende com as
discussões entre ministros do
Supremo Tribunal Federal não
imagina o nível da campanha
para escolher, no próximo dia
9, o sucessor de Rodrigo Collaço, presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), entidade que reúne
13.240 magistrados. Circulam
dossiês apócrifos e e-mails sugerindo financiamento de campanha, uso da máquina e até
acusações de fraude.
"É acima de tudo lamentável", diz Collaço. Ele não deverá
ter dificuldade para fazer o sucessor, juiz Mozart Valadares,
presidente da associação estadual de magistrados de Pernambuco, que tem apoio da
grande maioria nas associações
dos Estados. Pela oposição,
concorre o juiz Carlos Hamilton Bezerra Lima, vice-presidente da associação que reúne
os magistrados do Piauí.
Em nota distribuída a associados, a AMB atribui à chapa
de oposição "uma campanha de
baixo nível, lançando inverdades, ataques e infâmias, incompatíveis com o que se espera de
um debate eleitoral, especialmente entre juízes".
Pesquisa recente mostra situação confortável para Valadares, que se licenciou da vice-presidência da AMB para concorrer. De 1.530 magistrados
consultados, 83% julgaram
"ótima ou boa" a atuação da entidade (apenas 2% consideraram ruim ou péssima) e 89%
responderam que a associação
"está no caminho certo".
A gestão de Collaço foi marcada pelo apoio ao Conselho
Nacional de Justiça e pela luta
contra o nepotismo no Judiciário. Defendeu uma política nacional de combate à corrupção,
o fim do foro privilegiado e o
voto aberto para promoção de
juízes. "Foram propostas extraídas de ampla discussão entre as entidades filiadas", diz
Valadares. "Representam o
sentimento majoritário da magistratura. São teses que uma
parcela mais conservadora não
aceita", afirma.
A oposição
Bezerra Lima define a oposição como "um movimento de
vanguarda", que teve origem
entre juízes descontentes com
a atuação da AMB. Cita o afastamento de entidades de juízes
trabalhistas e de juízes federais,
"irresignadas com a falta de tratamento isonômico" pela AMB.
"Criaram um fosso entre juízes
e desembargadores", diz o oposicionista. "A atual gestão indispôs os juízes contra os tribunais, e estes contra o CNJ."
Em mensagem de apoio à
chapa de Bezerra Lima, o desembargador paulista Augusto
Ferraz Mota de Arruda diz que
a AMB transformou-se "numa
preciosa aliada do governo executivo da União, tornando a
magistratura nacional um corpo burocrático de Estado".
Collaço diz que essa interpretação é "equivocada". Ele vê
"uma atitude divisionista de
entidades ligadas ao movimento oposicionista para defender
o nepotismo. São segmentos
que perderam privilégios".
Bezerra Lima alega "desigualdade do pleito". Diz que teve dificuldades para montar
sua chapa, porque teve negado
pedido para receber a relação
dos associados. "O uso da máquina é inconteste. Passaram o
rolo compressor por cima da
oposição", diz. A AMB nega.
A suspeita de irregularidades
na última eleição da AMB foi levantada pelo desembargador
Ivan Sartori, do Tribunal de
Justiça de São Paulo, no site do
movimento da oposição. Sartori perdeu aquela eleição para
Collaço e hoje é candidato a vice-presidente na chapa de Bezerra Lima.
Em troca de e-mails com juízes, Sartori cita "falta de lisura
nas eleições passadas, urnas
violadas, uso da máquina e financiamento da campanha pelas associações, principalmente
a de Santa Catarina", Estado de
origem de Collaço. "Não é de
meu feitio criar dossiê e nem
mesmo fui à Justiça. Mas agora,
nesse pleito, nós iremos", diz
Sartori.
A Associação dos Magistrados do Estado de Pernambuco
emitiu "nota de repúdio", hipotecando apoio a Valadares, "vítima de aleivosas injúrias perpetradas em pseudo dossiê".
"Quem tiver alguma questão
em relação à minha pessoa, à
minha conduta como magistrado, devia assumir a denúncia",
diz o candidato da situação.
"A gente sempre vê a eleição
como um momento para revigorar a AMB. Parece que o esforço maior da chapa da oposição é denegrir a entidade. Uma
busca de atingir a legitimidade
que a entidade alcançou", afirma Collaço.
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