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VIAGEM AO ORIENTE
Presidente critica intervenção militar dos EUA no Iraque
Lula "vende" Brasil na Síria
e defende Estado palestino
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO
O Brasil será a porta de entrada
para os países árabes na América
Latina e uma grande conferência
entre presidentes latinos e árabes
deverá selar esse tipo de associação em 2004. Essa foi a mensagem
principal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento
de um seminário com cerca de
150 empresários sírio-brasileiros,
ontem à tarde em Damasco.
Mais tarde, num jantar com o
dirigente sírio, Bashar al Assad, o
brasileiro repetiu as posições brasileiras sobre o conflito árabe-israelense e agradou a platéia: "Defendemos firmemente a criação
de um Estado palestino". Segundo Lula, a "continuada ocupação
de territórios palestinos, a manutenção e expansão de assentamentos são inaceitáveis".
Houve também uma crítica indireta aos Estados Unidos: ""Lamentamos a Guerra do Iraque.
Entendemos que soluções por via
diplomática são sempre as mais
positivas e duradouras. Queremos um maior envolvimento das
Nações Unidas e dos Estados árabes no esforço de reconciliação e
reconstrução daquele país".
Começou ontem a viagem de
nove dias de Lula a cinco países
árabes. Hoje, ele ainda fica em Damasco até o início da tarde. Depois, vai a Beirute, no Líbano. Os
outros três países do giro presidencial são, pela ordem, Emirados Árabes Unidos, Egito e Líbia.
No Egito, para completar sua
aproximação com o mundo árabe, Lula já tem um encontro marcado com o premiê da Autoridade
Nacional Palestina, Ahmed Korei.
É um fato inédito para um presidente brasileiro: Fernando Henrique Cardoso se reuniu com Iasser
Arafat quando este ainda era o
presidente interino da ANP.
Apesar desse forte componente
político e simbólico na viagem de
Lula, a expectativa do brasileiro é
aumentar o fluxo comercial do
país com essa região. O presidente
atuou quase como um mercador.
Para aumentar o peso da oferta
de abrir a América Latina aos árabes, Lula terá a seu lado durante
toda a viagem Eduardo Duhalde,
ex-presidente da Argentina e
atual presidente da Comissão de
Representantes Permanentes do
Mercosul. Pouco antes de falar
aos empresários, no hotel Meridién, Lula disse ao ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento): "Furlan, o Duhalde tem
de ficar aqui na mesa".
O argentino fez um breve discurso antes de Lula. O brasileiro
falou depois, por 16 minutos, e fez
vários apelos aos empresários:
"Quero lembrar ao empresariado
sírio que o Brasil é mais do que
um mercado amplo e diversificado de 170 milhões de consumidores; é também uma porta de entrada para o Mercosul, o terceiro
maior bloco comercial do mundo, e para a Associação Latino-Americana de Integração, que
abarca todo o continente".
O presidente brasileiro disse
ainda que os países latino-americanos estão empenhados "no ambicioso empreendimento de
construir um espaço econômico e
comercial que caminha na direção de uma zona de livre comércio de escala continental".
Ao longo do dia, Lula visitou vários palácios sírios como parte das
cerimônias de recepção a chefes
de Estado. Assinou quatro acordos de cooperação, que são mais
simbólicos do que práticos. Os
acordos são nas áreas de esportes,
cultura, turismo e fitossanitária.
À tarde, no seminário empresarial, foram apresentados vídeos
sobre o Brasil. A governadora do
Rio Grande do Norte, Vilma Faria
(PSB), mostrou as oportunidades
de investimento em seu Estado.
Em seguida, quatro empreiteiras
-Odebrecht, Andrade Gutierrez,
Queiroz Galvão e Camargo Corrêa- mostraram outro vídeo
com pontes, viadutos, estradas e
usinas construídas no Brasil. Ao
final, depois dos créditos, aparecia a inscrição: "Incentivo: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior".
Entre as iniciativas anunciadas
na Síria, o empresário Maurilio
Biagi, da Cia. Energética Santa Elisa, de São Paulo, anunciou que
um grupo de brasileiros participará da construção de uma usina
para refino de açúcar na Síria.
"Será um investimento de US$
150 milhões e a usina deve estar
pronta em 2005", declarou.
O presidente da Petrobras, José
Eduardo Dutra, deve ter encontros com petrolíferas da região,
inclusive da Arábia Saudita.
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