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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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VIAGEM AO ORIENTE

Presidente critica intervenção militar dos EUA no Iraque

Lula "vende" Brasil na Síria e defende Estado palestino

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO

O Brasil será a porta de entrada para os países árabes na América Latina e uma grande conferência entre presidentes latinos e árabes deverá selar esse tipo de associação em 2004. Essa foi a mensagem principal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento de um seminário com cerca de 150 empresários sírio-brasileiros, ontem à tarde em Damasco.
Mais tarde, num jantar com o dirigente sírio, Bashar al Assad, o brasileiro repetiu as posições brasileiras sobre o conflito árabe-israelense e agradou a platéia: "Defendemos firmemente a criação de um Estado palestino". Segundo Lula, a "continuada ocupação de territórios palestinos, a manutenção e expansão de assentamentos são inaceitáveis".
Houve também uma crítica indireta aos Estados Unidos: ""Lamentamos a Guerra do Iraque. Entendemos que soluções por via diplomática são sempre as mais positivas e duradouras. Queremos um maior envolvimento das Nações Unidas e dos Estados árabes no esforço de reconciliação e reconstrução daquele país".
Começou ontem a viagem de nove dias de Lula a cinco países árabes. Hoje, ele ainda fica em Damasco até o início da tarde. Depois, vai a Beirute, no Líbano. Os outros três países do giro presidencial são, pela ordem, Emirados Árabes Unidos, Egito e Líbia.
No Egito, para completar sua aproximação com o mundo árabe, Lula já tem um encontro marcado com o premiê da Autoridade Nacional Palestina, Ahmed Korei. É um fato inédito para um presidente brasileiro: Fernando Henrique Cardoso se reuniu com Iasser Arafat quando este ainda era o presidente interino da ANP.
Apesar desse forte componente político e simbólico na viagem de Lula, a expectativa do brasileiro é aumentar o fluxo comercial do país com essa região. O presidente atuou quase como um mercador.
Para aumentar o peso da oferta de abrir a América Latina aos árabes, Lula terá a seu lado durante toda a viagem Eduardo Duhalde, ex-presidente da Argentina e atual presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul. Pouco antes de falar aos empresários, no hotel Meridién, Lula disse ao ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento): "Furlan, o Duhalde tem de ficar aqui na mesa".
O argentino fez um breve discurso antes de Lula. O brasileiro falou depois, por 16 minutos, e fez vários apelos aos empresários: "Quero lembrar ao empresariado sírio que o Brasil é mais do que um mercado amplo e diversificado de 170 milhões de consumidores; é também uma porta de entrada para o Mercosul, o terceiro maior bloco comercial do mundo, e para a Associação Latino-Americana de Integração, que abarca todo o continente".
O presidente brasileiro disse ainda que os países latino-americanos estão empenhados "no ambicioso empreendimento de construir um espaço econômico e comercial que caminha na direção de uma zona de livre comércio de escala continental".
Ao longo do dia, Lula visitou vários palácios sírios como parte das cerimônias de recepção a chefes de Estado. Assinou quatro acordos de cooperação, que são mais simbólicos do que práticos. Os acordos são nas áreas de esportes, cultura, turismo e fitossanitária.
À tarde, no seminário empresarial, foram apresentados vídeos sobre o Brasil. A governadora do Rio Grande do Norte, Vilma Faria (PSB), mostrou as oportunidades de investimento em seu Estado. Em seguida, quatro empreiteiras -Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa- mostraram outro vídeo com pontes, viadutos, estradas e usinas construídas no Brasil. Ao final, depois dos créditos, aparecia a inscrição: "Incentivo: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior".
Entre as iniciativas anunciadas na Síria, o empresário Maurilio Biagi, da Cia. Energética Santa Elisa, de São Paulo, anunciou que um grupo de brasileiros participará da construção de uma usina para refino de açúcar na Síria. "Será um investimento de US$ 150 milhões e a usina deve estar pronta em 2005", declarou.
O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, deve ter encontros com petrolíferas da região, inclusive da Arábia Saudita.


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