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JANIO DE FREITAS
Gravações privatizadas
A importância do caso que estoura agora no Rio, mais um a
partir de gravações, não está no alto suborno oferecido a deputados,
do qual o principal acusado é o secretário fluminense de Fazenda e
filho do governador Marcello
Alencar, Marco Aurélio. Inexistindo surpresas, há, porém, um grave
elemento a mais sobre o que têm
sido as privatizações.
A irada insistência dos dois
Alencar de fazer a privatização da
imensa Cedae (Companhia de
Águas e Esgotos), de qualquer maneira, mesmo neste finalzinho de
governo, por si só já denunciava
motivação muito além da batalha
política com a Assembléia Legislativa e da batalha judicial comandada pelo ex-advogado Marcello
Alencar.
A privatização do Banerj deixou
um rastro comprometedor, para o
governo estadual e para o processo
brasileiro de privatizações. O conselheiro Sérgio Quintella, do Tribunal de Contas fluminense, fez
um estudo mais do que convincente sobre as impropriedades (para
usar uma palavra branda) na privatização do banco.
A oferta de US$ 80 mil a US$ 100
mil por voto de deputado que contribuísse para tornar a Cedae privatizável, derrubando decisão em
contrário da própria Assembléia,
tem como principal originalidade
o fato de que a denúncia pública
partiu de um deputado do PSDB,
Sérgio Cabral Filho. Contra um
governador do PSDB. E um secretário do PSDB. E, dos quatro deputados que gravaram as propostas,
dois são do PSDB.
Pela tese até ontem sustentada
pelos peessedebistas, e exposta
com toda a sem-cerimônia na Folha em artigos de Bresser Pereira e
professores do governismo, nas
gravações clandestinas só importa
o crime de fazê-las. A partir desse
crime, o revelado pelas gravações,
seja qual for, não tem importância
alguma. Ou serve apenas para "a
imprensa montar um espetáculo".
Como têm sido pessoas coerentes, pelo menos em relação a gravações -desde a que registrou o
impune tráfico palaciano de influência na bilionária concorrência do Sivam-, é justificada a expectativa em torno dos malabarismos ético-verbais que devem vir
por aí. Feitas e divulgadas por
peessedebistas, as gravações clandestinas têm autoria conhecida e
declarada. Constituíram crime?
São seus autores criminosos? As
propostas de suborno registradas
não merecem consideração?
O PSDB, pelo visto, privatizou
para si as gravações clandestinas,
contra ou a favor. Nesse caso, se
um amigo ligado ao PSDB for visitá-lo, leitor, evite envolvimentos
indesejados: certifique-se de que os
meninos não deixaram ligado o
gravador do seu aparelho de som.
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