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REAÇÃO
Para Lopes, geração futura vai pagar
Diretor do BC faz crítica ao Congresso
GUSTAVO PATÚ
enviado especial ao Rio
O diretor de
Política Monetária do Banco
Central, Francisco Lopes, atacou ontem a rejeição, pelo
Congresso, da
medida provisória que elevaria as
contribuições dos servidores públicos à Previdência.
O Congresso, segundo Lopes,
"está decidindo tributar as gerações futuras, que infelizmente não
têm representação parlamentar,
não podem votar a favor do seu
próprio bem-estar".
Por esse raciocínio, a decisão dos
parlamentares beneficia os servidores agora, mas piora ainda mais
o déficit da Previdência, que se
transformará numa dívida maior a
ser paga no futuro por todos os
contribuintes.
Para o diretor do BC, a defesa das
gerações futuras acaba sendo feita,
na prática, pelos investidores estrangeiros, que desde setembro
têm se negado a emprestar dinheiro ao país enquanto não houver
um ajuste das contas do governo.
'"Ao fazer isso, esses investidores
externos estão representando as
gerações futuras, estão fazendo
um papel extremamente saudável
de votar, com seus dólares, a favor
das gerações futuras."
As declarações de Lopes foram
feitas em seminário promovido
pela Fundação Getúlio Vargas, no
Rio, sobre as perspectivas das políticas de juros e de câmbio.
Segundo homem na hierarquia
de fato do BC, Lopes presidiu um
painel sobre a política monetária.
O segundo painel da tarde, sobre o
câmbio, seria comandado pelo
presidente do BC, Gustavo Franco,
que não compareceu.
Lopes disse esperar que o governo insista em medidas destinadas
a equilibrar as contas da Previdência, após o "contratempo" representado pela decisão de anteontem
do Congresso.
"Se não for possível, teremos que
pensar outras medidas, ou de corte
de despesas ou de aumento de receitas", avaliou.
A tese é simples: a meta de conseguir uma economia de R$ 23,6 bilhões para pagamentos da dívida
pública em 99, prometida ao FMI
(Fundo Monetário Internacional)
em acordo formal, terá que ser
cumprida de qualquer maneira.
"Não podemos nos dar ao luxo
de brincar em matéria de disciplina fiscal neste país", disse Lopes,
que completou: "mais".
A crítica à decisão de anteontem
do Congresso foi feita logo no início da exposição do diretor do BC.
Depois, a partir de perguntas da
platéia, ele fez outras referências
aos parlamentares.
Lopes disse que os políticos brasileiros acreditam que não deve
haver superávit primário -a economia, pelo setor público, de uma
parte da arrecadação de impostos
para o pagamento de dívidas.
"É um pouco a idéia de que dívida não se paga", disse Lopes, "que
tudo o que tem a ver com juros e
dívida é ilegítimo".
²
"Medieval"
Tal visão foi qualificada pelo diretor de "medieval", em referência
às antigas doutrinas da igreja contra a usura. De forma caricatural,
Lopes a comparou à idéia de que
cobrar juros "é coisa de judeu".
Em outro momento, questionado sobre por que o ajuste fiscal não
avança apesar de contar com a
quase unanimidade dos economistas presentes ao seminário, Lopes disse: "Ninguém aqui foi eleito, ninguém aqui tem mandato".
É próprio do regime democrático, argumentou, que um ajuste
dessa natureza seja um processo
difícil e demorado, muitas vezes
com medidas indesejadas, caso do
aumento de impostos.
"Dá trabalho explicar", disse, sobre as negociações com o Congresso, "principalmente quando o outro lado não quer entender".
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