São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/CENÁRIOS

Intelectuais que estiveram em debate na Folha discutiram efeitos do escândalo do "mensalão" e avaliaram que PT foi mais atingido que Lula

Crise terá impacto menor, dizem analistas

André Porto/Folha Imagem
Da esquerda para a direita, o cientista político Fernando Abrucio, o jornalista da Folha e mediador Vinicius Mota, e os professores Maria Hermínia Tavares de Almeida, da USP, e Marcos Nobre, da Unicamp

DA REDAÇÃO

Os efeitos do escândalo do "mensalão" nas eleições deste ano serão muito menos impactantes do que boa parte dos cientistas políticos do país imaginava no ano passado, no auge da crise. Mudanças significativas no sistema político brasileiro, como alterações nas campanhas eleitorais e na distribuição de cargos no governo, não ocorrerão neste ano. O surgimento de um candidato forte fora das coalizões de PT e PSDB, outra conseqüência imaginada em 2005, não acontecerá.
Mas a crise do ano passado não será irrelevante nestas eleições. Ela deixou marcas no PT, o principal atingido pelas denúncias, e no Congresso. Ambos tiveram suas imagens abaladas e devem ser os que mais irão sofrer as conseqüências da crise política.
Esses foram os principais pontos discutidos no debate promovido pela Folha, na última terça-feira, sobre o cenário político-eleitoral. Participaram os doutores em ciência política Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular da USP; Fernando Luiz Abrucio, professor de ciência política da FGV-SP e professor licenciado da PUC-SP; e Marcos Nobre, doutor em filosofia, professor da Unicamp e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, professor titular do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), convidado, não participou por motivos de saúde. O debate, que teve lotação máxima, com mais de cem pessoas, foi mediado pelo editor de Opinião da Folha, Vinicius Mota.
Segundo Maria Hermínia, o sistema político brasileiro se mostrou bastante consolidado, não tendo sido ameaçado pelos acontecimentos do ano passado. A professora prevê uma disputa presidencial capitaneada por PSDB e PT, descartando que um candidato "que corra por fora" tenha chances. "A crise que ocorreu no ano passado não teve porte para desestruturar essa lógica [disputa entre PT e PSDB], que vem se constituindo desde 1994."
"Os efeitos imaginados no auge da crise não serão sentidos em 2006 como se pensava", afirmou Abrucio. Segundo o professor, a reformulação do sistema político brasileiro, com mudanças significativas na estrutura de cargos e nas campanhas eleitorais, "infelizmente" não ocorrerá neste ano.
Os três professores foram unânimes ao dizer que o maior atingido com a crise foi o PT, cuja imagem era associada à bandeira da ética. "O problema do PT é como se apresentar nesta eleição", disse Marcos Nobre.
Outro abalado foi o Legislativo. "A imagem do Congresso se deteriorou, e isso é muito importante, porque não conheço sociedades democráticas sem Congresso", disse Abrucio, que destacou que o peso sobre o Parlamento pode ter beneficiado Luiz Inácio Lula da Silva. "A maneira como foi conduzida a crise talvez tenha sido uma bênção para o presidente."
Maria Hermínia acredita que o que decidirá a eleição será "a capacidade dos candidatos de convencer o eleitor de que são capazes de melhorar ainda mais as condições econômicas e sociais". Mas Nobre ressaltou: "Temos de ver se o eleitorado vai aceitar uma simples comparação entre dois governos, entre quem fez mais Bolsa-Família".


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