São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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PT E MÍDIA

"Se a gente olhar o governo Lula até agora e pensar nos efeitos [da crise] para 2006, a grande novidade será a ausência do PT nas eleições", disse Marcos Nobre. "O PT que estará ausente é o PT de 1989, aquele que levava sempre o debate para o seu limite, que acirrava a disputa, em busca de espaço."
Para Nobre, o partido não vai mais desempenhar o "papel crítico" que exercia porque "perdeu a promessa de transformação profunda por dentro do sistema político", a "bandeira da ética" e a "identidade". "A questão toda para o PT é qual vai ser a cara que o partido vai ter nesta eleição."
Fernando Luiz Abrucio concorda que o PT, partido "mais atingido", "sofrerá, do ponto de vista eleitoral, os efeitos da crise". "A imagem do PT foi destruída. Grandes líderes desmoronaram."
"Ainda que a imagem do presidente seja notavelmente forte depois da crise, ele vai para as eleições com um partido mais descosturado, sem um núcleo duro que dê o mesmo tipo de sustentação, de formulação, que ocorreu na eleição anterior", concluiu Maria Hermínia Tavares de Almeida.
"Mesmo que Lula ganhe a eleição, ele não terá a mesma relação que teve com o PT nos últimos anos. Eu acho que isso é um ponto negativo sobre o sistema político", disse Abrucio, para quem um dos erros do PT foi montar "uma coalizão que tinha uma incongruência enorme do ponto de vista ideológico e que se manteve basicamente com a distribuição de cargos, verbas e promessas de financiamento de campanha".

Imprensa
Questionados pelo público sobre a possibilidade de a mídia ter "criado" o escândalo, os debatedores afastaram a hipótese. Para Maria Hermínia, "na verdade, a crise emergiu de dentro da coalizão de governo".
"Não creio que essa crise seja uma invenção da mídia. (...) Mas, obviamente, a mídia tem tido uma atitude bastante dura com relação aos escândalos e ao governo e com um tratamento muito diferenciado, eu acho que algumas estão claramente em campanha. Há revistas semanais que passaram do ponto da informação e do fornecimento da informação", disse Maria Hermínia.
Apesar de cumprir a função de "alarme" para as falhas do sistema político, a mídia cometeu erros "de qualidade jornalística", disse Abrucio. Para ele, alguns órgãos ultrapassaram "o limite da busca da verdade".


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