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JANIO DE FREITAS
Questão de coerência
A imaginação está cada vez
mais escassa nas cúpulas do
poder, pelo que se vê da alegação
de que Nelson Jobim e Lula reuniram-se para considerações sobre
a nomeação de novo ministro do
Supremo Tribunal Federal, e não
para conversar sobre suas pretendidas candidaturas. A palavra
mais apropriada nem é conversar, mas uma outra que, até a ditadura devastar a política, serviu
para caracterizar certo tipo de encontro: os dois confabularam.
Lula já nomeou três ministros
para o STF, e em nenhum dos casos convidou o então presidente
do tribunal a dividir com ele a escolha. Além disso, a quinta-feira
do governante Lula foi um dia
ocupado pelo candidato Lula,
com sucessivos encontros político-eleitorais na Presidência. E,
quanto à outra parte, o teor político atribuído a recentes atitudes
de Nelson Jobim, no STF, está longe de refletir a sua atividade política atual, voltada para conversações na área do PSDB e do PMDB,
inclusive fora de Brasília.
Dessa movimentação já se tem
um resultado inicial: pelo menos
à Presidência da República, Nelson Jobim - é o próprio a informar - não será candidato. Uff.
Entra no PMDB, sim, mas aí o
problema é dos contrários a compromissos com Lula e favoráveis à
restauração do seu enorme partido, a começar de candidatura
própria à Presidência.
A torrente de crítica desabada
sobre Nelson Jobim sugere um
contraponto: reconhecer-lhe o
mérito da coerência. Alguém ouviu, em qualquer tempo, outro
motivo para a nomeação de Nelson Jobim que não fosse a função
política de ser, no Supremo, uma
extensão do governo e do próprio
Fernando Henrique Cardoso, seu
nomeante? Se a função projetou-se no tempo, nada mais coerente e
lógico, dada a sujeição de Lula ao
continuísmo, que é também de
conduta pessoal.
O melhor, em toda a historiada
de um presidente do Supremo
acusado por juizes, juristas e outros de ser político e não magistrado, é que a ele, justamente a
Nelson Jobim, está entregue a
condução do Conselho Nacional
de Justiça encarregado de aprimorar todo o Judiciário operacional e eticamente.
Das verbas
Mencionei de passagem, terça-feira, notícia publicada no Rio de
que a verba propagandística da
prefeitura paulistana triplicara
neste ano (de R$ 12 milhões para
R$ 36 milhões). A prefeitura informa que a verba aprovada é de
R$ 24 milhões, contra R$ 22 milhões em 2005.
Bom proveito - se houver
como.
Idem
Originalidade, não tem: segue a
regra tradicional de ferrar o consumidor em benefício das grandes
empresas. Mas tem outras fidelidades à tradição que mereceriam
investigações, fossem da polícia,
da Corregedoria Geral da União
ou do Congresso.
Ao escolher o sistema de telefonia destinado a quem recebe menos de cinco salários mínimos, a
Agência Nacional de Telecomunicações, ou Anatel, aprovou a
que menos favorece os usuários,
ou seja, a que mais beneficia as
telefônicas. Até o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o próprio presidente da Anatel, Plínio
Aguiar, acusam a fórmula aprovada de resultar em gasto maior
para o consumidor de baixa renda. Basta dizer que o consumidor
convencional tem vantagens tarifárias negadas ao de menor poder
aquisitivo.
A fórmula teve como principais
patronos, na Anatel, pessoas que
vêm ainda dos tempos inesquecíveis de Sérgio Motta no Ministério das Comunicações. O que reforça a pergunta: se há alternativa melhor, por maior equidade
entre consumidor e fornecedor,
por que foi recusada pela que exagera benefícios para o fornecedor?
Tenho certeza de que todo leitor
dispensa sugestão de resposta.
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