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RELIGIÃO
Diferentes versões apontam perseguição religiosa e repressão a eventual levante contra os holandeses
Motivo de matanças divide historiadores
da Agência Folha, em Natal
A ocorrência dos massacres de
Cunhaú e Uruaçu é comprovada
historicamente por autores portugueses e holandeses. Porém as
fontes divergem quanto à motivação das chacinas.
Para aceitar o pedido de beatificação dos mártires, o Vaticano se
convenceu de que a motivação
dos massacres foi religiosa, no
contexto de perseguição de calvinistas aos católicos na época.
Os autores portugueses registram a presença de um pastor da
Igreja Reformada no episódio de
Uruaçu, que teria tentado demover os moradores de suas convicções católicas, como condição para não serem mortos.
Segundo os relatos, os índios
Pedro Poti e Antonio Paraopaba,
chefes dos potiguares na Paraíba e
no Rio Grande do Norte, tinham
estudado na Holanda e retornado
convertidos ao calvinismo. Paraopaba teria comandado o massacre de Uruaçu.
Olavo de Medeiros Filho, 66,
considerado o maior especialista
em história do Rio Grande do
Norte, reconhece os componentes religiosos nos dois episódios,
mas defende que as duas matanças tiveram o objetivo de impedir
um eventual levante local contra
os holandeses, que então estendiam seus domínios de Sergipe ao
Ceará. Autor de 12 livros sobre o
Brasil colonial, Medeiros conclui
que os massacres foram uma consequência da insurreição pernambucana, que tinha se iniciado
dias antes e poderia se irradiar.
Medeiros integrou a comissão
de peritos em história que analisou a pesquisa do processo de
beatificação. No parecer final, a
comissão assinala: "Parece-nos
também ter havido a preponderância da motivação religiosa sobre a patriótica, por ocasião dos
massacres".
Individualmente, Medeiros não
tem a mesma opinião. "A perseguição religiosa poderia acontecer em qualquer ocasião. A Igreja
quer a canonização, por isso se fixa no ângulo religioso. Mas não
foi só religioso. A fidelidade à Holanda havia sido rompida", diz.
A tese de Medeiros se baseia em
relatos de autores holandeses e
franceses e de autoridades flamengas da época. Um relatório
apresentado ao governo da Holanda em 1647, assinado pelos três
conselheiros que sucederam
Maurício de Nassau, diz que os
índios tapuias souberam da revolta dos portugueses em Pernambuco e, por isso, foram para o engenho Cunhaú, para impedir
eventual insurreição também ali.
Sobre o episódio de Uruaçu, os
conselheiros H. Hamel, Adriaen
Van Bullestrate e P. Jansen Bas escrevem que o massacre ocorreu
porque alguns portugueses, rendidos em um forte, quebraram
acordo de paz e fugiram para se
juntar a revoltosos na Paraíba.
O documento diz ainda que a
segunda chacina foi também uma
vingança pela morte de 30 a 40 índios em agosto de 1645.
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