São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Base e oposição descartam CPI sobre Camargo Corrêa

55% dos congressistas atuais receberam doações legais de construtoras, segundo o TSE

Para líder de partido aliado, CPI sobre a Camargo seria "destampar uma panela de pressão'; oposicionista diz que haveria "efeito dominó"

KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em conversas reservadas com a Folha, deputados e senadores governistas e da oposição disseram que não há a menor chance de criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a empreiteira Camargo Corrêa, alvo da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal.
As empreiteiras deram contribuições financeiras legais para 55% dos atuais congressistas, segundo dados fornecidos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) -sem contar eventuais doações ilegais.
Um líder de partido aliado ao governo disse que investigar a Camargo Corrêa equivaleria "a destampar uma panela de pressão". Um deputado da oposição afirmou que poderia haver um "efeito dominó" -começar a investigar a Camargo Corrêa e chegar a outras empresas.
Há também interesses específicos dos aliados do presidente Lula em jogar contra uma CPI. A Camargo Corrêa, segunda empreiteira com maior receita líquida no país, tem boa relação com o PT e com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), potencial candidata à Presidência em 2010.
Além disso, a construtora participa de várias obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sendo vista como uma parceira do governo para tocar investimentos do pacote de obras de Lula para tentar mitigar efeitos negativos da crise econômica.
Os dois tucanos presidenciáveis, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), também são apontados como políticos que possuem boas relações com a empreiteira. A Camargo Corrêa foi a maior doadora individual da campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo, em 2004, com R$ 1 milhão. Aécio foi o quarto político que mais recursos recebeu das empresas do grupo em 2006, com R$ 379 mil.
Do lado do governo, pesa ainda outro fator para evitar a CPI. O Palácio do Planalto avalia que o estrago político da Operação Castelo de Areia já foi feito e atingiu a oposição, sobretudo o DEM, partido que faz críticas mais incisivas à administração petista.
Um dos articuladores do Planalto no Congresso disse que o Ministério Público Federal e a Justiça Federal, ao destacarem supostas irregularidades no financiamento eleitoral para partidos de oposição (PPS e DEM), atingiram partidos que incomodam o governo. Numa CPI, o governo teria mais a perder, porque, até agora, o PT tem se mantido preservado nos desdobramentos da Operação Castelo de Areia.
Como o governo Lula tem maioria ampla na Câmara e maioria numérica no Senado, dificilmente uma CPI prosperará, ainda mais sem entusiasmo da oposição. A ideia de uma CPI para investigar relações da Camargo com a Petrobras, aventada pela oposição, é vista pelo Planalto como um blefe.

Doações da Camargo
A Camargo Corrêa fez apostas em políticos com posições vitais no Congresso. Trinta e seis dos atuais 513 deputados e 81 senadores receberam em 2006 -ano das últimas eleições para o Congresso- doações da Camargo Corrêa ou de empresas controladas por ela. O foco foi em políticos que integraram ou integram a cúpula do Congresso, sejam governistas ou de oposição.
Entre os destinatários das doações, nove ocupam cargos de comando no Congresso, dois são ex-presidentes da Câmara e dois, dirigentes partidários.
A Camargo Corrêa é uma das maiores doadoras de recursos para candidatos a cargos públicos. Ela controla, é coligada ou tem participação em 27 empresas dos ramos de engenharia, construção, siderurgia, calçado, têxtil, entre outros, de acordo com a estrutura societária apresentada em seu site.
Em 2006, as doações diretas das empresas que controla feitas a candidatos ou a comitês financeiros somaram R$ 16,7 milhões, valor que teve acréscimo de pelo menos R$ 6,3 milhões doados naquele ano a PT, DEM e PSDB (doações somente no nome da Camargo Corrêa), que geralmente repassam esses recursos para os candidatos.

Petistas e tucanos
Entre as doações feitas diretamente (sem passar pelos caixas dos partidos), o hoje secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), recebeu R$ 160 mil. O líder do partido no Senado, Aloizio Mercadante (SP), recebeu R$ 200 mil. O líder da bancada petista na Câmara, Candido Vaccarezza (SP), R$ 90 mil.
Os ex-presidentes da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), com R$ 210 mil, e Aldo Rebelo (PC do B-SP), com R$ 250 mil, também foram beneficiários das doações. Na época, Aldo era o presidente da Câmara. O atual ocupante do cargo, Michel Temer (PMDB-SP), recebeu R$ 50 mil.
Entre a oposição, estão na lista deputados tucanos como Paulo Renato (SP) e Edson Aparecido (SP), que receberam R$ 100 mil cada um. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, obteve doação de R$ 50 mil.
Também em 2006, a Camargo Corrêa doou R$ 3,5 milhões para o comitê de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao comitê do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, foram R$ 785 mil.
Nas últimas eleições, as de 2008 (para prefeitos e vereadores), o grupo Camargo Corrêa diz ter doado R$ 23,9 milhões a partidos políticos e candidatos.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Governo pede ajuda internacional para bloquear dinheiro da Camargo Corrêa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.