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Base e oposição descartam CPI sobre Camargo Corrêa
55% dos congressistas atuais receberam doações legais de construtoras, segundo o TSE
Para líder de partido aliado, CPI sobre a Camargo seria "destampar uma panela de pressão'; oposicionista diz que haveria "efeito dominó"
KENNEDY ALENCAR
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversas reservadas
com a Folha, deputados e senadores governistas e da oposição disseram que não há a menor chance de criação de uma
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) para investigar a
empreiteira Camargo Corrêa,
alvo da Operação Castelo de
Areia, da Polícia Federal.
As empreiteiras deram contribuições financeiras legais
para 55% dos atuais congressistas, segundo dados fornecidos ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) -sem contar eventuais doações ilegais.
Um líder de partido aliado ao
governo disse que investigar a
Camargo Corrêa equivaleria "a
destampar uma panela de pressão". Um deputado da oposição
afirmou que poderia haver um
"efeito dominó" -começar a
investigar a Camargo Corrêa e
chegar a outras empresas.
Há também interesses específicos dos aliados do presidente Lula em jogar contra uma
CPI. A Camargo Corrêa, segunda empreiteira com maior receita líquida no país, tem boa
relação com o PT e com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), potencial candidata à Presidência em 2010.
Além disso, a construtora
participa de várias obras do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento), sendo vista
como uma parceira do governo
para tocar investimentos do
pacote de obras de Lula para
tentar mitigar efeitos negativos
da crise econômica.
Os dois tucanos presidenciáveis, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG),
também são apontados como
políticos que possuem boas relações com a empreiteira. A Camargo Corrêa foi a maior doadora individual da campanha
de Serra à Prefeitura de São
Paulo, em 2004, com R$ 1 milhão. Aécio foi o quarto político
que mais recursos recebeu das
empresas do grupo em 2006,
com R$ 379 mil.
Do lado do governo, pesa ainda outro fator para evitar a CPI.
O Palácio do Planalto avalia
que o estrago político da Operação Castelo de Areia já foi feito e atingiu a oposição, sobretudo o DEM, partido que faz
críticas mais incisivas à administração petista.
Um dos articuladores do Planalto no Congresso disse que o
Ministério Público Federal e a
Justiça Federal, ao destacarem
supostas irregularidades no financiamento eleitoral para
partidos de oposição (PPS e
DEM), atingiram partidos que
incomodam o governo. Numa
CPI, o governo teria mais a perder, porque, até agora, o PT
tem se mantido preservado nos
desdobramentos da Operação
Castelo de Areia.
Como o governo Lula tem
maioria ampla na Câmara e
maioria numérica no Senado,
dificilmente uma CPI prosperará, ainda mais sem entusiasmo da oposição. A ideia de uma
CPI para investigar relações da
Camargo com a Petrobras,
aventada pela oposição, é vista
pelo Planalto como um blefe.
Doações da Camargo
A Camargo Corrêa fez apostas em políticos com posições
vitais no Congresso. Trinta e
seis dos atuais 513 deputados e
81 senadores receberam em
2006 -ano das últimas eleições para o Congresso- doações da Camargo Corrêa ou de
empresas controladas por ela.
O foco foi em políticos que integraram ou integram a cúpula
do Congresso, sejam governistas ou de oposição.
Entre os destinatários das
doações, nove ocupam cargos
de comando no Congresso, dois
são ex-presidentes da Câmara e
dois, dirigentes partidários.
A Camargo Corrêa é uma das
maiores doadoras de recursos
para candidatos a cargos públicos. Ela controla, é coligada ou
tem participação em 27 empresas dos ramos de engenharia,
construção, siderurgia, calçado, têxtil, entre outros, de acordo com a estrutura societária
apresentada em seu site.
Em 2006, as doações diretas
das empresas que controla feitas a candidatos ou a comitês financeiros somaram R$ 16,7 milhões, valor que teve acréscimo
de pelo menos R$ 6,3 milhões
doados naquele ano a PT, DEM
e PSDB (doações somente no
nome da Camargo Corrêa), que
geralmente repassam esses recursos para os candidatos.
Petistas e tucanos
Entre as doações feitas diretamente (sem passar pelos caixas dos partidos), o hoje secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), recebeu
R$ 160 mil. O líder do partido
no Senado, Aloizio Mercadante
(SP), recebeu R$ 200 mil. O líder da bancada petista na Câmara, Candido Vaccarezza
(SP), R$ 90 mil.
Os ex-presidentes da Câmara
Arlindo Chinaglia (PT-SP),
com R$ 210 mil, e Aldo Rebelo
(PC do B-SP), com R$ 250 mil,
também foram beneficiários
das doações. Na época, Aldo era
o presidente da Câmara. O
atual ocupante do cargo, Michel Temer (PMDB-SP), recebeu R$ 50 mil.
Entre a oposição, estão na lista deputados tucanos como
Paulo Renato (SP) e Edson
Aparecido (SP), que receberam
R$ 100 mil cada um. O presidente do DEM, Rodrigo Maia,
obteve doação de R$ 50 mil.
Também em 2006, a Camargo Corrêa doou R$ 3,5 milhões
para o comitê de reeleição do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Ao comitê do candidato
tucano à Presidência, Geraldo
Alckmin, foram R$ 785 mil.
Nas últimas eleições, as de
2008 (para prefeitos e vereadores), o grupo Camargo Corrêa
diz ter doado R$ 23,9 milhões a
partidos políticos e candidatos.
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