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Pluralismo é bom para igreja, diz presidente da CNBB
D. Geraldo Lyrio afirma que reforma agrária é uma questão que já deveria ter sido superada e pede que o Congresso ouça a igreja
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA
O recém-eleito presidente da
CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil), o arcebispo de Mariana (MG), d. Geraldo
Lyrio Rocha, 65, em entrevista
à Folha, comentou os recentes
escândalos no Judiciário, cobrou mais espaço para a Igreja
nos debates do Congresso e comentou o processo de reforma
agrária no país. Leia trechos:
FOLHA - Como o sr. avalia o projeto
de reforma agrária no país?
DOM GERALDO LYRIO ROCHA - A
questão da reforma agrária é
um discurso que já era para ser
superado há muito tempo. É estranho que em pleno século 21
ainda esteja se falando em reforma agrária a ser feita. Muitos países já fizeram a sua reforma agrária há séculos. Então, isso soa como algo anacrônico, diante da comunidade internacional, nós discutirmos
reforma agrária no Brasil.
Vejo que é um processo que
precisa ser mais acelerado. Não
se pode negar que muitos passos têm sido dados, mas há uma
lentidão porque há muitos entraves no processo.
FOLHA - O que o sr. acha que precisa ser feito para tornar a reforma
agrária mais eficaz?
DOM GERALDO - Uma reforma
agrária eficaz implica uma política agrícola eficaz também.
Muitos assentamentos estão
passando por imensas dificuldades. Tanta luta para conseguir a terra e, agora, um desânimo que vai tingindo a muitos
assentados porque lhes faltam
meios para uma produção conveniente e também meios para
escoar a produção que conseguem. Os órgãos governamentais precisam se voltar com
mais atenção tanto no sentido
de acelerar o processo da reforma agrária, como no sentido de
garantir os meios necessários
para que os assentamentos já
feitos tenham eficácia.
FOLHA - Como o sr. tratará as diferentes correntes teológicas existentes na igreja?
DOM GERALDO - Pluralismo na
igreja sempre foi saudável. O
problema se dá quando as pessoas se fecham e radicalizam
suas posições. É bom que haja
divergências, mas sempre preservando os valores fundamentais da fé e garantindo a comunhão eclesial, que é inegociável.
A igreja sempre permitiu as várias escolas teológicas, que
sempre conviveram, às vezes
com tensões, mas tensões que
não levaram a rupturas. Tensões que até ajudaram na elaboração do próprio pensamento católico e que às vezes nos
ajudam na busca da verdade.
FOLHA - O que o sr. acha que precisa ser melhorado no Legislativo?
DOM GERALDO - O que nos preocupa é que, às vezes, o Congresso Nacional pode se tornar refém de lobistas que pressionam
de uma tal maneira e com tanto
poder que, nem sempre, os valores éticos são devidamente
considerados na elaboração das
leis. Nem tudo o que é legal é
por si mesmo moral. E pode haver pressões no sentido de
aprovar questões que, do ponto
de vista ético, precisariam de
um aprofundamento maior. Algumas questões, sobretudo as
ligadas à vida, à bioética, à família, nos preocupam muito.
FOLHA - O sr. acha que a igreja não
é ouvida pelo Congresso?
DOM GERALDO - A igreja não pretende ter a hegemonia na sociedade. A igreja não pretende ter
o controle da sociedade. Mas a
igreja quer ter a liberdade de levantar a sua voz. Ela não pode
ser bloqueada no anúncio de
sua mensagem e nem sempre o
que a igreja está propondo é algo que se refere unicamente
aos seus fiéis. É estranho que às
vezes pequenos grupos que
exercem pressão muito forte
são mais ouvidos do que a igreja, que anuncia a sua verdade,
inclusive, com o peso histórico
e social que ela tem.
FOLHA - Como a igreja interpretou
os últimos escândalos no Judiciário?
DOM GERALDO - É deplorável
que a corrupção atinja tantas
instâncias da sociedade e tantas instâncias do poder do país.
É muito triste porque vai se
criando uma mentalidade de
que tudo é permitido, as instituições vão se desmoralizando
e as pessoas vão ficando sem referências e sem critérios. Por
outro lado, ainda bem que estas
questões estão vindo à tona e o
que a gente espera é que sejam
devidamente apuradas, que se
chegue aos que são culpados. E,
que quando houve a apropriação indébita do bem público,
então que haja restituição aos
cofres públicos daquilo que foi
tirado da nação.
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