São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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Pluralismo é bom para igreja, diz presidente da CNBB

D. Geraldo Lyrio afirma que reforma agrária é uma questão que já deveria ter sido superada e pede que o Congresso ouça a igreja

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA

O recém-eleito presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o arcebispo de Mariana (MG), d. Geraldo Lyrio Rocha, 65, em entrevista à Folha, comentou os recentes escândalos no Judiciário, cobrou mais espaço para a Igreja nos debates do Congresso e comentou o processo de reforma agrária no país. Leia trechos:

 

FOLHA - Como o sr. avalia o projeto de reforma agrária no país?
DOM GERALDO LYRIO ROCHA -
A questão da reforma agrária é um discurso que já era para ser superado há muito tempo. É estranho que em pleno século 21 ainda esteja se falando em reforma agrária a ser feita. Muitos países já fizeram a sua reforma agrária há séculos. Então, isso soa como algo anacrônico, diante da comunidade internacional, nós discutirmos reforma agrária no Brasil. Vejo que é um processo que precisa ser mais acelerado. Não se pode negar que muitos passos têm sido dados, mas há uma lentidão porque há muitos entraves no processo.

FOLHA - O que o sr. acha que precisa ser feito para tornar a reforma agrária mais eficaz?
DOM GERALDO -
Uma reforma agrária eficaz implica uma política agrícola eficaz também. Muitos assentamentos estão passando por imensas dificuldades. Tanta luta para conseguir a terra e, agora, um desânimo que vai tingindo a muitos assentados porque lhes faltam meios para uma produção conveniente e também meios para escoar a produção que conseguem. Os órgãos governamentais precisam se voltar com mais atenção tanto no sentido de acelerar o processo da reforma agrária, como no sentido de garantir os meios necessários para que os assentamentos já feitos tenham eficácia.

FOLHA - Como o sr. tratará as diferentes correntes teológicas existentes na igreja?
DOM GERALDO -
Pluralismo na igreja sempre foi saudável. O problema se dá quando as pessoas se fecham e radicalizam suas posições. É bom que haja divergências, mas sempre preservando os valores fundamentais da fé e garantindo a comunhão eclesial, que é inegociável. A igreja sempre permitiu as várias escolas teológicas, que sempre conviveram, às vezes com tensões, mas tensões que não levaram a rupturas. Tensões que até ajudaram na elaboração do próprio pensamento católico e que às vezes nos ajudam na busca da verdade.

FOLHA - O que o sr. acha que precisa ser melhorado no Legislativo?
DOM GERALDO -
O que nos preocupa é que, às vezes, o Congresso Nacional pode se tornar refém de lobistas que pressionam de uma tal maneira e com tanto poder que, nem sempre, os valores éticos são devidamente considerados na elaboração das leis. Nem tudo o que é legal é por si mesmo moral. E pode haver pressões no sentido de aprovar questões que, do ponto de vista ético, precisariam de um aprofundamento maior. Algumas questões, sobretudo as ligadas à vida, à bioética, à família, nos preocupam muito.

FOLHA - O sr. acha que a igreja não é ouvida pelo Congresso?
DOM GERALDO -
A igreja não pretende ter a hegemonia na sociedade. A igreja não pretende ter o controle da sociedade. Mas a igreja quer ter a liberdade de levantar a sua voz. Ela não pode ser bloqueada no anúncio de sua mensagem e nem sempre o que a igreja está propondo é algo que se refere unicamente aos seus fiéis. É estranho que às vezes pequenos grupos que exercem pressão muito forte são mais ouvidos do que a igreja, que anuncia a sua verdade, inclusive, com o peso histórico e social que ela tem.

FOLHA - Como a igreja interpretou os últimos escândalos no Judiciário?
DOM GERALDO -
É deplorável que a corrupção atinja tantas instâncias da sociedade e tantas instâncias do poder do país. É muito triste porque vai se criando uma mentalidade de que tudo é permitido, as instituições vão se desmoralizando e as pessoas vão ficando sem referências e sem critérios. Por outro lado, ainda bem que estas questões estão vindo à tona e o que a gente espera é que sejam devidamente apuradas, que se chegue aos que são culpados. E, que quando houve a apropriação indébita do bem público, então que haja restituição aos cofres públicos daquilo que foi tirado da nação.


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