São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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Corrupção atinge mais a pobres, diz membro da ONU

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Subsecretário-geral das Nações Unidas e Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), o italiano Antonio Maria Costa diz que as atuais estruturas de combate à corrupção no Brasil devem ser fortalecidas.
Costa afirma que a liberdade de imprensa é fundamental para que os casos de corrupção sejam descobertos e investigados. Isso, segundo disse, influenciaria a percepção da população sobre o problema. Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha, na sexta-feira, por e-mail. (JD)

Folha - Que relação pode ser estabelecida entre corrupção, drogas e crime organizado?
Antonio Maria Costa -
Drogas, crime, corrupção e terrorismo se tornaram ameaças à segurança internacional e obstáculos ao desenvolvimento. Como o Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, já enfatizou, não é possível atingir o desenvolvimento sem segurança, obter segurança sem desenvolvimento e ambos necessitam do devido respeito à aplicação da lei.

Folha - Por que a corrupção é associada a países subdesenvolvidos? Costa - Cada país produz seu próprio tipo de corrupção e não há um sistema completamente livre de corrupção. Mas países pobres tendem a ser mais afetados do que outros, o que contribui para crises severas e conflitos violentos.
Práticas corruptas são diferentes ao redor do mundo. Nos países em desenvolvimento, geralmente a corrupção tem origem nas necessidades geradas pelos baixos salários do funcionalismo público. No mundo desenvolvido, é resultado da combinação entre ganância, frágeis mecanismos de responsabilização [accountability] e punição, além da perda dos valores éticos.

Folha - Desvio de dinheiro público é um tema que ocupa cada vez mais as páginas dos jornais. Isso se deve ao crescimento da corrupção ou à maior liberdade da imprensa?
Costa -
- O desvio de dinheiro público atrai a atenção, pois compromete a qualidade de vida de todos. Não temos dados que estimem crescimento, decréscimo ou estabilização da corrupção. Mas a liberdade de imprensa colabora para que esses casos sejam descobertos, investigados e punidos. Isso influencia a percepção da população sobre a corrupção.

Folha - O sr. tem conhecimento de mecanismos de combate à corrupção no Brasil?
Costa -
Em um país democrático, o primeiro passo para um confronto efetivo é ter uma legislação moderna e clara. O Brasil acaba de ratificar a convenção da ONU contra a corrupção, o que demonstra estar seguindo essa direção. Pode-se dizer que a corrupção está sendo enfrentada no Brasil. Prova disso são as inúmeras investigações em curso, com destaque para as ações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Controladoria Geral da União. Por ter um órgão de combate à corrupção, códigos de conduta para funcionários públicos, democracia e imprensa independente, o Brasil demonstra ter condições de aprimorar esse enfrentamento. Mas as estruturas de controle também precisam ser fortalecidas.

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