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Corrupção atinge mais a pobres, diz membro da ONU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Subsecretário-geral das Nações
Unidas e Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas contra
Drogas e Crime (UNODC), o italiano Antonio Maria Costa diz
que as atuais estruturas de combate à corrupção no Brasil devem
ser fortalecidas.
Costa afirma que a liberdade de
imprensa é fundamental para que
os casos de corrupção sejam descobertos e investigados. Isso, segundo disse, influenciaria a percepção da população sobre o problema. Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha, na
sexta-feira, por e-mail.
(JD)
Folha - Que relação pode ser estabelecida entre corrupção, drogas e
crime organizado?
Antonio Maria Costa - Drogas,
crime, corrupção e terrorismo se
tornaram ameaças à segurança
internacional e obstáculos ao desenvolvimento. Como o Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, já
enfatizou, não é possível atingir o
desenvolvimento sem segurança,
obter segurança sem desenvolvimento e ambos necessitam do devido respeito à aplicação da lei.
Folha - Por que a corrupção é associada a países subdesenvolvidos?
Costa - Cada país produz seu próprio tipo de corrupção e não há
um sistema completamente livre
de corrupção. Mas países pobres
tendem a ser mais afetados do que
outros, o que contribui para crises
severas e conflitos violentos.
Práticas corruptas são diferentes ao redor do mundo. Nos países em desenvolvimento, geralmente a corrupção tem origem
nas necessidades geradas pelos
baixos salários do funcionalismo
público. No mundo desenvolvido, é resultado da combinação
entre ganância, frágeis mecanismos de responsabilização [accountability] e punição, além da
perda dos valores éticos.
Folha - Desvio de dinheiro público
é um tema que ocupa cada vez mais
as páginas dos jornais. Isso se deve
ao crescimento da corrupção ou à
maior liberdade da imprensa?
Costa - - O desvio de dinheiro
público atrai a atenção, pois compromete a qualidade de vida de
todos. Não temos dados que estimem crescimento, decréscimo ou
estabilização da corrupção. Mas a
liberdade de imprensa colabora
para que esses casos sejam descobertos, investigados e punidos. Isso influencia a percepção da população sobre a corrupção.
Folha - O sr. tem conhecimento de
mecanismos de combate à corrupção no Brasil?
Costa - Em um país democrático, o primeiro passo para um confronto efetivo é ter uma legislação
moderna e clara. O Brasil acaba de
ratificar a convenção da ONU
contra a corrupção, o que demonstra estar seguindo essa direção. Pode-se dizer que a corrupção está sendo enfrentada no Brasil. Prova disso são as inúmeras
investigações em curso, com destaque para as ações da Polícia Federal, do Ministério Público e da
Controladoria Geral da União.
Por ter um órgão de combate à
corrupção, códigos de conduta
para funcionários públicos, democracia e imprensa independente, o Brasil demonstra ter condições de aprimorar esse enfrentamento. Mas as estruturas de
controle também precisam ser
fortalecidas.
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