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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Sem-terra se instalaram em área vizinha, o que foi criticado por líder ruralista que acompanhou a ação

Após tiroteio, Paraná faz 1ª reintegração

Clayton de Souza/"Diário de São Paulo"
PMs observam saída de sem-terra da fazenda Pitanga durante reintegração de posse feita ontem


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM UNIFLOR
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A Polícia Militar do Paraná cumpriu ontem a primeira reintegração de posse, por determinação judicial, no governo Roberto Requião (PMDB). A reintegração aconteceu ontem da manhã, na fazenda Pitanga, em Uniflor (noroeste do PR). Na noite anterior, homens armados haviam disparado contra o acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
No tiroteio, o militante sem-terra Emílio José Teixeira, 24, foi atingido por três disparos. Seu quadro clínico ontem era bom.
Para retirar cerca de 40 sem-terra, a PM utilizou 120 homens. Não houve conflito e nem foi necessário o uso de um caminhão colocado à disposição, por determinação da Justiça, pelo proprietário da fazenda, Antônio Carlos Granzoto, 60. Os sem-terra retiraram os barracos da área da fazenda e os montaram 20 metros adiante, em uma área de domínio do DER (Departamento de Estradas e Rodagem) na PR-464.
A ação da PM foi acompanhada pelo presidente da UDR (União Democrática Ruralista) Noroeste do Paraná, Marcos Prochet, 44, que considerou uma afronta a permanência dos integrantes do MST no local. "Isso não é reintegração, eles [sem-terra] apenas pularam a cerca", disse.
Clodoaldo Rodrigues da Silva, 32, da coordenação do MST na região acusou Marcos Prochet de comandar a ação dos pistoleiros. "Ele [Prochet] esteve na tarde de ontem [anteontem] circulando na área e à noite acontecem os disparos. Não é a primeira em vez que Prochet participa desse tipo de ação", disse Silva.
Prochet disse que não houve disparos contra os sem-terra, mas sim "uma tentativa de invasão" da fazenda vizinha à Pitanga. Os sem-terra que estavam no local no momento do tiroteio afirmam que os disparos partiram de uma plantação de mandioca ao lado, na fazenda Roma.
"Foram jagunços de Prochet e da fazenda Roma que dispararam contra nós. Ficou evidente isso pois os disparos começaram quando um carro nosso iluminou o local", disse Silva.
Antônio Carlos Granzoto, proprietário da fazenda Pitanga, disse que estava com a família em um hotel em Nova Esperança, quando soube do tiroteio. Ele nega que tenha contratado seguranças para desalojar os sem-terra. "Não faria um absurdo desses", afirmou.
Agentes da Polícia Federal entraram na investigação sobre o conflito. A atuação da PF no caso é restrita. O objetivo é identificar os seguranças envolvidos nos disparos e saber se eles são contratados por empresas de segurança privada. Os policiais também tentaram levantar os tipos de armas usadas no conflito, mas a PF disse que nenhuma arma ou funcionário da fazenda foram localizados.
Os agentes também estiveram em Paranavaí, cidade vizinha a Uniflor, para levantar dados sobre uma empresa de vigilância. A Agência Folha apurou que todo o acompanhamento feito no Paraná está sendo reportado diretamente à Superintendência Nacional da PF, em Brasília.


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