São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT

Atacado pelo ministro Ricardo Berzoini e pelo senador Aloizio Mercadante, dirigente diz "estar num beco praticamente sem saída"

Genoino se vê abandonado por seu grupo

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O presidente do PT, José Genoino, deixa a sede do partido, em São Paulo, sem falar com a imprensa


DA REPORTAGEM LOCAL

Confuso sobre seu futuro no partido, o presidente do PT, José Genoino, queixou-se ontem, em conversas, de estar sendo abandonado pelo próprio Campo Majoritário e reclamou de "estar num beco praticamente sem saída". A pelo menos dois petistas, afirmou que se sente sozinho, e sua desolação seria tamanha que, entre seus interlocutores, há quem acredite na possibilidade de renúncia ainda hoje.
Enquanto Genoino buscava a preservação da Executiva, ministros defendiam, até publicamente, seu afastamento. Um deles foi o do Trabalho, Ricardo Berzoini.
Já pela manhã, Berzoini sugeriu a saída de Genoino por ter avalizado um empréstimo de R$ 2,4 milhões ao partido desconhecendo que o empresário Marcos Valério de Souza era um dos signatários. Segundo Berzoini, Genoino ficou em "situação delicada" e a imagem que fica é a de um presidente omisso. "É o que em banco chamamos de alçada. Ninguém assina sem ler um documento acima de R$ 1.000", disse.
Segundo ele, os ministros concordam que Genoino deve se afastar da presidência. Sobre o fato de petistas defenderem a permanência do tesoureiro, Delúbio Soares, Berzoini lamentou: "E morreremos todos afogados".

"Presidenciáveis"
No PT, já existem cotados para a substituição da Executiva: além de Berzoini e dos ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Olívio Dutra (Cidades), são cogitados o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, e o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia.
Dulci ganhou força com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para eventualmente assumir a presidência do partido. Um dos fundadores da legenda, em 1980, Dulci é visto no Planalto como um possível nome de consenso entre as diferentes alas petistas.
Desde o último final de semana, por causa do recrudescimento das denúncias, Lula passou a defender a renúncia de toda a cúpula petista, incluindo Genoino, Delúbio, e o secretário-geral, Sílvio Pereira (que ontem pediu licença do partido). Com o agravamento da crise, Dulci se aproximou ainda mais do presidente. Foi favorecido, por exemplo, pela saída de José Dirceu da Casa Civil, da virtual demissão de Aldo Rebelo (Coordenação Política) e do surgimento do nome de Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) em meio às denúncias.
A assessores, Dulci faz questão de dizer que somente passaria a cogitar a mudança do Planalto ao PT com a saída de Genoino do cargo, o que pode ser definido nos próximos dias e já teria sido acertado com o presidente Lula no último sábado durante um encontro em São Paulo.
De toda essa movimentação de "fogo amigo", a que mais irritou Genoino foi a do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Na noite de domingo, Mercadante reuniu parlamentares e prefeitos em seu escritório para discutir a eleição em São Paulo e o futuro do PT. "É consenso no partido a necessidade de uma reestruturação da Executiva", disse ontem Mercadante.
Segundo o senador, a profundidade da mudança vai depender da evolução da semana.
A versão que chegou a Genoino foi outra: de que o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá, foi o encarregado de sugerir que ele deixasse o cargo. Ontem, Pietá esteve na sede do PT. Mas não teria sido recebido por Genoino, que, indignado, telefonou para Mercadante.
"Isso tudo é intriga", disse Mercadante. Pressionado, Genoino reclamou de ter "queimado" seu patrimônio ao defender Delúbio e Sílvio Pereira. (CATIA SEABRA)

Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de Brasília


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