São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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PFL quer apurar o elo entre saques e votações

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), pediu ontem na tribuna que a CPI dos Correios investigue a "estranha coincidência" entre as votações de projetos prioritários do governo na Câmara dos Deputados e os saques realizados pelas agências de publicidade de Marcos Valério Fernandes de Souza - SMPB e DNA- no Banco Rural.
Valério é acusado de ser o "operador" do "mensalão", suposto pagamento do PT para deputados da base aliada denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O cruzamento das datas foi realizado pela agência Reuters, que usou como critério os saques realizados em até dois dias antes ou depois da votação.
A movimentação financeira foi revelada por relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda), que apurou saques, em espécie, de R$ 20,9 milhões das contas das duas agências entre 2003 e 2005. Em 18 meses, foram feitos 103 saques.

"Endereço certo"
"Não quero fazer ilações. Mas, pelas datas dos saques, é de se supor que esse dinheiro tinha endereço certo", disse o líder.
Para ele, a CPI dos Correios precisa avaliar agora o índice de fidelidade de deputados nas votações para identificar quem poderia ter recebido o "mensalão".
O senador destacou três votações importantes ocorridas na Câmara dos Deputados às quais estariam associados saques volumosos das contas das agências de Valério: a reforma tributária, ocorrida em 2003, a medida provisória do salário mínimo e a medida provisória que dá status de ministro para o presidente do Banco Central, ambas ocorridas em 2004.
Para a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), o PFL está "forçando a barra" porque apenas alguns saques coincidem com as votações.
"Eu também posso listar as coincidências entre as fases da lua e esses saques", disse. "Não quero desqualificar, acho que isso deve ser apresentado na CPI, mas isso precisa ser visto com cuidado", completou.

Saques no Banco Rural
A reforma tributária, votada em 24 de setembro de 2003, foi associada a uma soma de R$ 1,21 milhão em saques da empresa SMPB, realizados entre os dias 23 e 26 do mesmo mês.
A votação que ajustou o salário mínimo para R$ 260 na Câmara ocorreu em 2 de junho de 2004. Dois dias depois, foi feito um saque de R$ 500 mil da conta da agência de publicidade DNA. Depois que o Senado aumentou o valor do salário mínimo para R$ 275, a Câmara realizou outra votação para voltar ao valor inicial, em 23 de junho de 2004. Dois dias antes, R$ 200 mil foram sacados da mesma empresa.
A votação do status de ministro a Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, ocorreu no dia 1º de dezembro de 2004. Nos dois dias anteriores os saques da SMPB somaram R$ 480 mil. A MP causou polêmica por conceder foro privilegiado a Meirelles, que desde então só pode ser processado no Supremo Tribunal Federal.

Retiradas sem votação
A Reuters levantou ainda coincidência de saques com as votações da reforma da Previdência e com a medida provisória dos Bingos, que foi editada na esteira do escândalo Waldomiro Diniz. Nem todas as retiradas, segundo a agência, têm proximidade com as votações.
Há, por exemplo, saques que juntos somam R$ 5 milhões, sem que haja coincidência com nenhuma votação importante.


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