|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PFL quer apurar o elo entre saques e votações
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder do PFL no Senado, José
Agripino (RN), pediu ontem na
tribuna que a CPI dos Correios investigue a "estranha coincidência" entre as votações de projetos
prioritários do governo na Câmara dos Deputados e os saques realizados pelas agências de publicidade de Marcos Valério Fernandes de Souza - SMPB e DNA-
no Banco Rural.
Valério é acusado de ser o "operador" do "mensalão", suposto
pagamento do PT para deputados
da base aliada denunciado pelo
deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ). O cruzamento das datas foi realizado pela agência Reuters, que usou como critério os saques realizados em até dois dias
antes ou depois da votação.
A movimentação financeira foi
revelada por relatório do Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério
da Fazenda), que apurou saques,
em espécie, de R$ 20,9 milhões
das contas das duas agências entre 2003 e 2005. Em 18 meses, foram feitos 103 saques.
"Endereço certo"
"Não quero fazer ilações. Mas,
pelas datas dos saques, é de se supor que esse dinheiro tinha endereço certo", disse o líder.
Para ele, a CPI dos Correios precisa avaliar agora o índice de fidelidade de deputados nas votações
para identificar quem poderia ter
recebido o "mensalão".
O senador destacou três votações importantes ocorridas na
Câmara dos Deputados às quais
estariam associados saques volumosos das contas das agências de
Valério: a reforma tributária,
ocorrida em 2003, a medida provisória do salário mínimo e a medida provisória que dá status de
ministro para o presidente do
Banco Central, ambas ocorridas
em 2004.
Para a senadora Ideli Salvatti
(PT-SC), o PFL está "forçando a
barra" porque apenas alguns saques coincidem com as votações.
"Eu também posso listar as
coincidências entre as fases da lua
e esses saques", disse. "Não quero
desqualificar, acho que isso deve
ser apresentado na CPI, mas isso
precisa ser visto com cuidado",
completou.
Saques no Banco Rural
A reforma tributária, votada em
24 de setembro de 2003, foi associada a uma soma de R$ 1,21 milhão em saques da empresa
SMPB, realizados entre os dias 23
e 26 do mesmo mês.
A votação que ajustou o salário
mínimo para R$ 260 na Câmara
ocorreu em 2 de junho de 2004.
Dois dias depois, foi feito um saque de R$ 500 mil da conta da
agência de publicidade DNA. Depois que o Senado aumentou o
valor do salário mínimo para R$
275, a Câmara realizou outra votação para voltar ao valor inicial,
em 23 de junho de 2004. Dois dias
antes, R$ 200 mil foram sacados
da mesma empresa.
A votação do status de ministro
a Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central, ocorreu no dia
1º de dezembro de 2004. Nos dois
dias anteriores os saques da
SMPB somaram R$ 480 mil. A MP
causou polêmica por conceder foro privilegiado a Meirelles, que
desde então só pode ser processado no Supremo Tribunal Federal.
Retiradas sem votação
A Reuters levantou ainda coincidência de saques com as votações da reforma da Previdência e
com a medida provisória dos Bingos, que foi editada na esteira do
escândalo Waldomiro Diniz.
Nem todas as retiradas, segundo a
agência, têm proximidade com as
votações.
Há, por exemplo, saques que
juntos somam R$ 5 milhões, sem
que haja coincidência com nenhuma votação importante.
Texto Anterior: Quebra de sigilos de agências pode apontar elo entre Valério e tucano Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Fundos de pensão: Petros rompe o contrato com ex-sócios de Gushiken Índice
|