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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RUMO A 2006
Denúncias envolvendo o PT e o seu governo desanimaram o presidente, que pensa em Palocci como opção petista para 2006
Crise faz Lula avaliar desistência da reeleição
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Se tivesse que tomar hoje a decisão, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva renunciaria a disputar
um novo mandato nas eleições de
2006. Esse pelo menos é o ambiente que se vive no entorno presidencial.
É claro que a crise é o principal
combustível para a eventual desistência de um Lula que os amigos encontraram, no arraial junino de sábado, "mais triste do que
quando perdia eleições", na descrição ouvida pela Folha.
É uma avaliação fortíssima porque as derrotas eleitorais, num
primeiro momento, sempre abateram muito o hoje presidente,
até que a perspectiva de uma nova
campanha o reanimasse.
É sintomático que, logo após a
vitória de 2002, um amigo íntimo
perguntou a Lula o que gostaria
de ser se não fosse presidente.
"Candidato", respondeu Lula,
de bate-pronto.
Fica claro, portanto, que cogitar
de não ser de novo candidato revela uma profunda tristeza.
Mas há também motivos menos
circunstanciais para cogitar de
não concorrer a um novo mandato. Primeiro deles: a antipatia pelo
próprio instituto da reeleição.
Antipatia tamanha que, muito
antes de que reeleição fosse um
tema da agenda política, Lula incumbiu-se de acabar com ela no
âmbito do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
(até então eram ilimitadas as vezes que um presidente podia se
reeleger).
Missão cumprida
Quando, no fim do ano passado, as conversas sobre reeleição
ganharam mais força no próprio
Palácio do Planalto, Lula chegou a
dizer que tinha um candidato "in
pectore" para 2006, sempre na hipótese de ele próprio renunciar à
recandidatura: o hoje óbvio nome
de Antonio Palocci.
Entre os íntimos que sugerem a
Lula não disputar a reeleição, a
crise forneceu combustível adicional: quase tudo o que está vindo agora à tona, acham tais amigos, é culpa do projeto de reeleição. Argumentam mais: que em
todos os casos conhecidos de segundo mandato, o segundo foi
pior que o primeiro.
Neste caso, é verdade: Fernando
Henrique Cardoso, o peruano Alberto Fujimori e o argentino Carlos Menem tiveram seus piores
momentos a partir do segundo
mandato.
Por fim, há o fato de que o presidente acha que sua missão foi
cumprida ao ganhar a eleição. É
eloqüente que, em discurso na cidade de Cusco, no fim do ano passado, após o lançamento da Comunidade Sul-Americana de Nações, Lula tenha afirmado: "Se eu
tivesse que morrer daqui a cinco
minutos, já teria valido a pena ter
sido presidente do meu país".
O grande problema para transformar a antipatia pela reeleição
em uma decisão final é o PT. Lula
é incomparavelmente maior, em
termos eleitorais, do que o seu
partido. Os números de 2002 atestam: enquanto o candidato presidencial levava 46% dos votos, no
primeiro turno, no mesmíssimo
dia o partido elegia apenas 17%
dos deputados federais.
Logo, qualquer outro nome que
substitua Lula terá imensas dificuldades para eleger-se, mais ainda em um cenário em que a imagem do partido foi duramente
atingida pela crise -mais atingida, aliás, do que a do presidente.
Mesmo Palocci, blindado pelo
empresariado, parte da mídia e
até pela oposição, é um candidato
débil. Se tivesse tanto prestígio,
entre os eleitores, como tem entre
empresários, especialmente do
setor financeiro, teria pelo menos
levado ao segundo turno seu candidato à Prefeitura de Ribeirão
Preto, no ano passado.
A decisão final de Lula sobre a
candidatura ou não vai começar a
ficar mais nítida a partir desta semana, quando seu círculo íntimo
espera dois movimentos simultâneos: a reorganização do governo
e a reforma do comando petista.
No primeiro caso, não há muito
o que fazer, avalia-se entre amigos
do presidente. O PMDB, convidado para fazer parte do governo
como novo sócio de um condomínio já heterogêneo demais, não
é capaz de conferir a aura de lisura
que seria a melhor forma de recompor a imagem da administração Lula. Mas é o único grande
partido disponível.
O outro seria o PSDB. Lula chegou a namorar discretamente a
hipótese de algum tipo de entendimento com os tucanos, durante
o início do governo. Sabe, no entanto, que hoje não há a menor
chance de o namoro sair das conversas discretas entre ministros
como Palocci e Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) e dirigentes do
PSDB.
Nelas, pelo que a Folha apurou,
nem se discute algum tipo de barganha. Há apenas o despejar de
"angústias" pelos governistas.
Reforma do PT
Já a reforma do PT é encarada
no Palácio do Planalto não apenas
como uma operação limpeza,
mas como uma "repactuação"
entre as correntes internas.
Ou, objetivamente: substituir o
"dirceusismo" pelo "lulismo" no
comando partidário.
O Palácio do Planalto emite todos os sinais de que não pertencem ao "lulismo" os nomes cuja
defenestração a crise está tornando inevitável (Sílvio Pereira, o secretário-geral, e Delúbio Soares, o
tesoureiro).
São crias de José Dirceu, então
presidente do partido, depois licenciado para chefiar a Casa Civil.
José Genoino, outro afastamento possível, não faz parte do esquema Dirceu. Assumiu o partido
no modelo "porteira fechada",
com todos os dirigentes atuais já
dentro. Se cair, portanto, será
mais vítima das circunstâncias do
que de arranjos internos.
Se conseguir recompor o PT e
devolver alguma ou muita operacionalidade ao governo, Lula pode voltar a entusiasmar-se com a
condição de candidato que é a sua
paixão. Do contrário, a intenção
de desistir ficará muito mais forte.
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