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FARRA MUNICIPAL
Para Salles, não é irregular ganhar conforme a arrecadação
Prefeito diz que salário alto é legal
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A ITABORAÍ
O prefeito petista de Itaboraí (a
40 km do Rio), Cosme José Salles,
enviou à Câmara Municipal ofício
em que pede que a partir de julho
seu salário seja fixado em R$ 15
mil. Desde o início do ano ele tem
recebido por mês o equivalente a
0,5% da arrecadação municipal, o
que, em abril e maio, significou
cerca de R$ 33 mil.
Salles, 48, reapareceu ontem na
prefeitura, após dez dias de afastamento. Três auxiliares diretos
disseram à Folha que ele estava
com amigos no Pantanal Mato-grossense, caçando e pescando.
Salles negou. Disse que passou o
tempo todo em Itaboraí, dedicado a estudos sobre a legislação,
para verificar se, ao receber altos
salários, cometera ilegalidade.
A conclusão a que chegou após
os estudos foi a de que não há nada de irregular em receber salários vinculados à receita em um
município que, segundo ele próprio, tem 70% da população sem
rede coletora de esgoto e apenas
10% das vias públicas pavimentadas. Além disso, Itaboraí é o 66º
município fluminense (em 92)
em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
A vinculação do salário à receita
é determinada por lei promulgada na Câmara em 28 de dezembro
do ano passado. Salles disse que a
vinculação é prevista no Lei Orgânica local e vale desde 1990.
"Analisamos a Constituição Federal e várias outras legislações.
Não encontramos nenhum salário fixado para ministro do Supremo Tribunal Federal. A gente
não tem conhecimento de nenhuma irregularidade relacionada
aos salários do prefeito", disse ele.
O artigo 37 da Constituição informa que nenhum ocupante de
cargo público pode ganhar mais
que um ministro do STF, cujo salário é de R$ 17.343,71. Logo, a lei
de Itaboraí seria inconstitucional.
O prefeito disse que, mesmo
não havendo ilegalidade, decidiu
pedir à Câmara que fixe seu salário em R$ 15 mil. "Estou botando
bem menos. Não tem necessidade
de aumentar tanto."
O presidente da República ganha por mês R$ 8.885,48; um ministro de Estado, R$ 8.362,80. O
prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL),
recebe salário de R$ R$ 9.788,80.
Salles disse ainda que uma comissão vai verificar se houve pagamento indevido a ele durante
os dois mandatos seguidos que
vem exercendo. "Se houve, vou
devolver o dinheiro." Ele afirmou
estar decepcionado com o PT, no
qual ingressou em 2003, após passar pelo PDS (no regime militar),
PMDB, PSDB, PSB e PDT.
Ontem, os deputados federais
do PT Antônio Carlos Biscaia e
André Costa e o deputado estadual Alessandro Molon foram a
Itaboraí conversar com ele, que,
em um primeiro momento, não
queria recebê-los. "Eles me criticaram sem me ouvir. Para mim,
são insignificantes. Não entrei no
partido com eles", disse, acrescentando que, "se os deputados
não se redimirem", deixará o PT.
O prefeito acabou reunido com
os deputados, que, na saída, disseram não sair convencidos da lisura no pagamento de salários tão
altos a ele e ao vice, pastor Álvaro
Reboredo (PSDC), que recebe
dois terços dos vencimentos de
Salles.
"Vamos levar o caso ao Diretório Estadual e ao Ministério Público. Tudo é absolutamente ilegal.
Essa lei é inconstitucional. O patrimônio ético do PT foi atingido
no país e aqui, em Itaboraí, também", disse Biscaia.
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