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Roriz renuncia ao Senado e evita processo de cassação
Decisão foi tomada após Mesa determinar abertura de processo no Conselho de Ética
Ex-governador do DF, que tinha mandato até 2015,
foi flagrado em grampo negociando a partilha de um cheque de R$ 2,23 milhões
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Doze dias depois de ser apontado como o beneficiário de um
cheque de R$ 2,23 milhões, o
senador Joaquim Roriz
(PMDB-DF), 70, renunciou ontem ao seu mandato para escapar do processo de cassação.
Reclamando do "desapreço dos
senadores" pelo seu destino,
Roriz apontou o "furor da imprensa" e o "açodamento" de
colegas como os responsáveis
por ele abandonar 95% do
mandato que ainda teria a cumprir -até janeiro de 2015.
Ele se torna o quarto senador
da história a renunciar sob a
suspeita de ter quebrado o decoro, tendo sido o "mais rápido" -que cumpriu menos tempo de mandato- entre eles. É
também o terceiro senador do
Distrito Federal a perder o cargo nos últimos anos sob suspeita de irregularidades.
A carta de renúncia foi lida às
21h02 pelo senador Mão Santa
(PMDB-PI), escolhido por Roriz como porta-voz em um plenário esvaziado -apenas cinco
senadores ouviram o relato.
"O desapreço dos senadores
pelo destino do colega foi notado. Apenas 12 eminentes senadores compareceram à sessão",
disse Roriz na carta de renúncia, se referindo à ocasião em
que ocupou a tribuna para se
defender das acusações.
"Minha inocência, por mim
proclamada e insistentemente
repetida, não mereceu acolhida. O furor da imprensa, o açodamento de alguns, as conclusões maliciosas colocadas lamentavelmente ecoaram mais
alto. Pesou apenas o propósito
de destruir, neste momento,
uma vida pública coroada por
relevantes serviços prestados à
sociedade, particularmente ao
povo mais humilde do Distrito
Federal", acrescentou.
Conselho
A renúncia do peemedebista
veio horas depois de a Mesa do
Senado ter decidido por unanimidade determinar ao Conselho de Ética a abertura de processo de cassação contra ele.
Comandou a reunião, realizada
pela manhã, o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), que volta a ser o
único alvo de apuração no Senado -ele é suspeito de ter usado dinheiro de empreiteira para pagar despesas particulares.
Roriz esteve presente a quase
toda a reunião da Mesa e tentou
uma última cartada para evitar
a perda do mandato. Pediu aos
integrantes da Mesa para adiar
a decisão e apresentou documentos para tentar provar que
só usou R$ 300 mil dos R$ 2,23
milhões do cheque, que teria sido repassado por Nenê Constantino, da companhia aérea
Gol. O dinheiro que afirma ter
pego, a título de empréstimo,
teria sido usado na compra de
um embrião bovino.
Eleito com 657 mil votos, Roriz optou pela renúncia para
evitar que o conselho abrisse o
processo de cassação, o que poderia ocorrer ainda hoje com a
sua notificação. Interpretação
da Mesa adotada -com base
em consulta ao STF- determina a notificação do acusado como o momento exato da abertura do processo. Isso é importante porque, aberto o processo, a renúncia não teria efeito
de suspender a investigação,
que poderia resultar em cassação e inelegibilidade até 2023.
Antes de Roriz, três senadores usaram da manobra para
escapar do processo. Em 2001,
Antonio Carlos Magalhães
(BA) e José Roberto Arruda
(DF) abriram mão do mandato
devido a suspeita de que violaram o sigilo do painel de votação. No mesmo ano, Jader Barbalho (PA) renunciou sob acusação de desvio de verbas do
Banpará. Os três voltaram à vida pública. Na história do Senado, só um senador foi cassado
por suspeita de quebra do decoro -Luiz Estevão (DF), em
2000, sob acusação de ter desviado recursos do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e de ter mentido ao Senado.
Na carta-renúncia, Roriz atacou especificamente o corregedor do Senado, Romeu Tuma
(DEM-SP), que havia declarado
considerar o seu caso como
quebra do decoro parlamentar.
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